25 de janeiro de 2010

ROGER

Presídio do Roger é palco de mais crueldade, diz Pe. Bosco, da PCr da ParaíbaPCrN: Qual a situação real do Presídio do Roger? Pe. Bosco: A situação do Presídio do Roger é que o mesmo tem sido palco de muita violência. Depois da chacina, o Roger foi sempre um ambiente violento. Ultimamente um fato tornou-se notícia nacional: o diretor Dinamérico Cardim foi acusado de torturar um preso e as cenas foram filmadas em um celular e, em seguida, espalhadas e veiculadas nos meios de comunicação. O Roger é um presídio para os que aguardam julgamento, mas o Estado não faz o mínimo para organizar o sistema que seria separar os provisórios e os condenados. Sempre foi um presídio onde os presos ficavam o dia todo no pátio com um banho de sol coletivo. Hoje é um presídio totalmente fechado, com toas as celas trancadas e os presos tratados como se estivessem em um quartel. Vale salientar que aqui vivemos a militarização do sistema. Hoje o diretor é advogado. PCrN: Como é a estrutura e qual a capacidade do Roger e quantos presos têm atualmente? Pe. Bosco: A capacidade do presídio é de 300 vagas, mas convive com um contingente de 900 a mil homens, em total ociosidade. O espaço para atividades é bastante grande, mas nada é feito: escola não existe e a ociosidade é grande como em muitos lugares. O ambiente é muito sujo, ocupado por insetos, ratos, baratas... O lixo fica jogado próximo das celas, sem recolhimento no tempo devido. O esgoto é aberto. Os espaços são tão apertados que existem presos que não deitam durante a noite, ficam sentados. Os isolados ficam cheios por longos períodos - mais de trinta dias. Sem água, sem roupa, sem banho de sol... Assim os encontramos em uma visita do Conselho Estadual dos Direitos Humanos. As mulheres são submetidas à revista íntima, sem exceção. O Estado está descumprindo uma Lei sobre a revista íntima do próprio Estado da Paraíba, sancionada pelo atual governador na sua gestão anterior. PCrN: Qual o número de vítimas do Roger? Pe. Bosco: Não se tem informações exatas sobre o que aconteceu no último episódio. A Polícia Militar, que estava acompanhando o incêndio, foi dando entrevistas e anunciou que seriam 12 mortos ou mais. Esses depoimentos foram gravados pela imprensa, depois, a notícia foi negada. O Estado tem anunciado o número de cinco e mais um preso que faleceu no Hospital de Emergência e Trauma. Temos muitas notícias equivocadas. Ultimamente, familiares desmentiram o Secretário de Administração Penitenciária sobre um preso. Visitei o hospital. Até então, ninguém tinha tido acesso. O quadro é muito crítico. O setor social nos informou que são 29 os hospitalizados. Creio que muitos ainda podem morrer por causa dos ferimentos graves. Muitos estão inconscientes. 10 estão em estado muito grave. PCrN: Qual a explicação dada pela direção do Roger? Pe. Bosco: No mesmo dia do incêndio já chegou um carro com material de construção para refazer o presídio, uma maneira de acabar com a prova do crime. E a perícia? PCrN: O que a PCr local tem feito? Pe. Bosco: A Pastoral levanta a bandeira sozinha. Pode contar com algumas pessoas do Conselho Estadual dos Direitos do Homem e do Cidadão, mas é sempre necessário que a Pastoral esteja cobrando. Temos ainda pessoas muito medrosas que fazem as visitas, mas não são capazes de enfrentar situações de conflito. Muitas vezes se omitem até de assinar um documento de denúncia sobre a situação. Como coordenação estadual e mais algumas entidades de direitos humanos e do conselho, estamos elaborando um texto onde serão levantadas várias questões em torno do fato e pedindo uma investigação séria com a participação de uma comissão para que possa haver transparência no fato. PCrN: Quais outros episódios de violência aconteceram no Roger? Pe. Bosco: Um grave problema no sistema é a morte de presos do regime semi-aberto. Quando sai a manchete de uma morte, já se tem presente que se trata de um detento. Fala-se abertamente de uma moto preta. Um dia antes do incêndio, um agente penitenciário, chefe de disciplina, assassinou um preso do regime semi-aberto, na moto, e foi surpreendido pelo irmão que também estava moto e os dois foram na mesma hora assassinados. A versão da polícia é que se trata de acerto de contas. A imprensa chegou a levantar a questão que o incêndio no dia seguinte foi para abafar o caso do agente. Tudo leva a que ha uma gangue organizada para eliminar presos na Paraíba.