23 de junho de 2020

CARLOS BELARMINO


22/06/2020
PE BOSCO.

Acompanhei através da família, o calvário de Carlos Belarmino no hospital da Unimed em João Pessoa. Lutou vários dias mas não conseguiu vencer a doença.
Quando pároco em Guarabira, na igreja Santo Antônio, acompanhei muitos encontros de casais antes da existência do ECC em nossa diocese. Os encontros eram compreendidos como Pastoral Familiar. Carlos chegou a participar juntamente com Auricelia.
Tive a alegria de, em um dia desses encontros, poder assistir á celebração do matrimônio do casal na igreja Santo Antônio. Foram muitos casais como Carlos e Auricelia que fizeram aquela experiência.
Como estou ausente de Guarabira já por muitos anos não tinha tido mais a oportunidade de reencontrá-lo. Recentemente nas atividades da Escola de Formação Teológica tive a oportunidade de reencontrar Carlos. Ele com a mesma alegria de sempre de quando eu o conheci.
Neste dia 22 de junho recebi com tristeza a notícia de sua Páscoa.
É lamentável que Guarabira esteja entre as cidades do Estado com maior número de pessoas infectadas depois de João Pessoa e Campina Grande, ou seja, ocupando o terceiro lugar, com 1.177 diagnosticados e com 27 óbitos. 
Carlos é mais um colaborar na cidade de Guarabira que nos deixa.
Deixo aqui a solidariedade e as orações para a sua família que está nesse momento extremamente sofrida como todas as famílias que perdem pessoas queridas, sobretudo em situação de PANDEMIA; Ao mesmo tempo sei que a família está também guiada pela fé e pela esperança no Deus da vida.
Desejo a todos os membros da família de Carlos muita fé e confiança.
Agora para Carlos como diz o livro do Apocalipse:
"Deus enxugará dos olhos deles todas as lágrimas. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor. As coisas velhas já passaram". 21,4. 




IMPASSE NA PANDEMIA


21/06/2020
PE BOSCO

Estamos caminhando para o término de junho sem uma clareza em torno da pandemia, passando três meses de quarentena.
Cresce nos Estados do país o número de pessoas infectadas e também o número de mortos que já passa de 50 mil pessoas.
Essa realidade tem sido encarada pelo estado como natural. O Ministério de Saúde m sequer faz um pronunciamento sobre medidas adequadas para monitoramento e ou soluções.
O isolamento social necessário nos Estados do Brasil que deveriam chegar a 70 por cento nunca passaram de 50 por cento, ou seja, população realmente não colaborou para evitar ou retardar a proliferação da doença. As opiniões são muito divergentes entre a população. Em tempos de redes sociais empoderamento das pessoas cada um se torna de certo modo dono da verdade.
Enquanto isso fica difícil lidar com situações delicadas dessa natureza.
Em nenhum país do mundo onde a crise já amenizou existe   uma clareza dos caminhos a serem seguidos.
É verdade que a vida deve seguir adiante, no entanto, isso não será possível sem que sejam adotadas novas formas de convivência com essa exótica situação. 

Na liturgia deste dia o apelo de Jesus é não temer. Ele se refere ao tempo de perseguição enfrentado pelos apóstolos. Não ter medos dos homens. Agora, além da perseguição aos seguidores do Mestre convivemos com o medo desta PANDEMIA que tem ceifado a vida de tantos seres humanos no planeta.


LAZARO



19/06/2020
PE BOSCO

Conheci Lázaro Guedes a partir de 1979 quando cheguei em Guarabira como animador da comunidade do Cordeiro. Lembro das folgas do casal muito pequenas, ainda crianças.
Depois desse tempo fui para o seminário e, já ordenado, voltei para a paróquia de Santo Antônio. Com Lázaro e Zulmira fomos muitas vezes pelos sítios de Pilõezinhos em tempos de muita lama. Muitas cenas engraçadas. Antes da minha saída da Paróquia deixei Lázaro ordenado e cuidando do Paulo VI Miranda na casa que foi organizada para uma primeira experiência de vida vocacional de Guarabira e depois residência de Ir Neves.
Acompanhei muito a vida da família, alegrias e momentos difíceis.
Muita saída de Guarabira depois de muitos anos acabou nós mantendo mais distantes mas sempre de uma amizade. Sei do bem que ele e a sua família tem por mim.
Ontem de forma inesperada na festa do sagrado coração de Jesus Lázaro tem a sua Páscoa.
Numa das últimas conversas ele me disse não ter medo da morte e de forma muito rápida partiu.
A família de Lázaro é um exemplo de união, de alegria e fé.
Na missa de corpo presente, neste dia 19 na Matriz de Santo Antônio em Guarabira, Elisângela, em nome da família deu um testemunho bonito. O coração sofrido mas cheio de confiança e também gratidão a Deus.
Deus seja louvado! 



18 de junho de 2020

NÃO TER MEDO



18/062020
PE BOSCO
O medo é um sentimento humano, talvez, mais que isso, uma reação diante de situações da vida. Cada pessoa carrega consigo os seus medos, pequenos ou grandes. Muitas vezes o medo atrofia a vida das pessoas. Muita gente paralisa por causa do medo.
Em Mateus 10, por três vezes, Jesus recomenda não ter medo. Aqui não se trata de qualquer medo por se tratar das perseguições na vida cristã. Seus seguidores, como ele, se forem fiéis ao seu mestre, passarão por todo tipo de perseguição: injúria, difamação, ofensa de todo tipo e até a morte.
 A morte inclusive é anunciada por causa da missão. Não temer a quem mata o corpo mas não pode matar a alma. As palavras de Jesus foram escritas em tempos de muita perseguição e, como sempre, nos ajudam a fortalecer a confiança, sempre necessária, como o próprio Jesus manteve a confiança no Pai e a Ele sempre rezou.
O medo pode fazer com que muitas pessoas voltem atrás e desistam do seguimento cristão. Aliás, a perseguição nos tempos primitivos além de realmente matar, tinha uma função pedagógica, ou seja, fazer com que os já batizados e os catecúmenos desistissem do caminho cristão. Executar as pessoas, jogá-las às feras de forma pública tinha essa finalidade.
Todos os discípulos, depois de Jesus, também foram martirizados, tomaram o cálice do sofrimento. Depois deles, até hoje, continuam as perseguições a quem se propõe defender o mesmo que Jesus defendeu. Colocar-se do lado da vida ameaçada é ser também ameaçado e perder a vida deste mundo para realmente poder ganhá-la.
Jesus traz sempre muita esperança para os seus, para não desistirem, mesmo na perseguição. “Até mesmo o cabelo de vossas cabeças estão todos contados”, para nos assegurar de que a vida em Deus já está garantida mesmo em meio a todas as adversidades.
Em todos os tempos, como hoje também, Deus suscita homens e mulheres para manter a profecia através do anúncio e da denúncia, dimensões que não podem faltar na igreja.  Mesmo que a realidade possa causar medo, Deus vai suscitar em nosso coração a confiança Nele, como fez em todos os profetas em todos os tempos.
Não é por acaso que rezamos assim: o Senhor é o meu pastor e nada me faltará. Sl 23. Ouvi Senhor, a voz do meu apelo: tende compaixão de mim e atendei-me; Vós sois meu protetor, não me deixeis; não me abandoneis, Ó Deus meu salvador. Sl 26. 

17 de junho de 2020

CONHECER CRISTO



17/06/2020
PE BOSCO
Conhecer a pessoa de Jesus é condição fundamental para que se tenha uma verdadeira vida cristã.  Conhecer não passa simplesmente pela visão, mas é só pela convivência que podemos a chegar a conhecer a outra pessoa.
Quando Jesus foi perguntado onde moras? Ele disse aos seus discípulos, vinde e vede. Eles foram e viram, não apenas ouviram dizer. João 1, 38. De fato, não existe vida autenticamente cristã sem essa experiência. Para esse nível de conhecimento precisamos dedicar tempo. Num primeiro encontro não foi possível aos discípulos conhecerem Jesus verdadeiramente; foi necessário um longo processo. Depois da ressurreição os mesmos ainda ficaram cheios de dúvidas e nem sempre conseguiam reconhecê-lo.
Esse dado apresentados pelos evangelhos nos revelam que o nosso processo de vida cristã, como pessoas seguidoras e enviadas não acontece de uma hora para outra.  Da mesma maneira que o nosso crescimento tanto humano quanto intelectual é longo e lento, o crescimento da fé também passa por etapas e processos. A graça supõe e aperfeiçoa a natureza, como já dissera Agostinho, o bispo de Hipona.
Em Cristo Jesus está a manifestação do próprio Deus revelado Nele, por isso, o conhecimento de Jesus lida com o Homem Jesus e com o Filho de Deus enviado do Pai. Conhecê-lo supõe uma profunda meditação dos evangelhos, a Palavra que se fez carne. Pela leitura orante, mais do que fazer leitura, vamos nos encontrando com o próprio Deus.
Na verdade, os evangelhos mostram como Jesus dedicou todo seu tempo de missão para ser também momento de formação da comunidade apostólica. A formação se dava pelas pregações de Jesus ao povo, os aprofundamentos a SÓS com eles, nas ações realizadas por Jesus, isto é, milagres e sinais, como também pelos ensaios missionários, quando os enviava a sós para anunciar a boa notícia.
Certamente para os seguidores de Jesus de hoje que são todos os batizados/as, existe a necessidade permanece de conhecer aquele que anunciamos, por não se tratar de anunciar uma simples mensagem ou transmitir determinado conteúdo, mas comunicar ou tornar conhecida uma pessoa para outras, com quem elas devem se apaixonar.
 Isso só será possível quando o nosso nível de conhecimento nos leva a uma identificação tão profunda que se pode falar de uma identificação com o anunciado.  Paulo teve o privilégio de dizer que não vivia mais porque nele vivia o próprio Cristo.  Assim, conhecer não significa ter informações sobre o outro, mas uma profunda intimidade e uma profunda empatia com o próprio Jesus.

16 de junho de 2020

IGREJA



16/06/2020
PE BOSCO
O nosso povo identifica a igreja com o templo. “Você vai para onde”? “Vou ali à igreja”. Assim nós crescemos, conhecendo a igreja pela torre, vendo-a de longe.
Essa mentalidade ainda permanece para muitas pessoas. Não é ainda cultural a ideia de que cada pessoa é igreja. É necessário lembrar a musiquinha: Pedro é igreja, Paulo é igreja, eu sou igreja, você é igreja. Isso é verdade! Por isso quando falo da igreja não posso falar de forma generalizada, mas falando de pessoas, de si mesmo. Essa questão é fundamental e conseqüente. Não se pode condenar a pessoa como instituição sem desvinculá-la das ações de grupos e ou de determinada pessoa.
A igreja compreendida como o Povo de Deus é uma das definições mais bonitas feitas no Concílio Vaticano II, para chamar a atenção para o nosso papel missionário. Muitas pessoas já compreenderam e se assumem como igreja, mas a indiferença ainda é muito grande em relação com a identidade cristã pastoral e missionária.
A igreja, Povo de Deus, tem uma grandiosa e nobre missão: ser presença do próprio Jesus no mundo, pelas palavras Dele e pelo testemunho de vida. Além de uma igreja em saída, propagada pelo papa, também se fala de uma igreja Samaritana, mas também de uma igreja lameada, (o templo não tem como se enlamear), uma igreja profética, uma igreja servidora.
Essas dimensões da igreja devem estar presentes no coração das pessoas para que se torne realidade nos chamados grupos de igreja. Nossos grupos  precisam sempre  repensar papéis, para afinar seus carismas com as reais necessidades do nosso mundo exatamente onde somos chamados ao cumprir um papel evangelizador.
Anunciar a boa nova do evangelho (Ide e anunciai o evangelho) é a palavra de Jesus, o envio para a missão. A forma de fazer é mutável em cada situação, mas o conteúdo será sempre o mesmo em todos os tempos.
Articular o anúncio, com a denúncia e o testemunho é o nosso desafio. Há momentos na história em que tanto que essas três atividades ficam tímidas e até meio esquecidas, mas o Espírito que é a alma da igreja faz suscitar sempre uma nova etapa, novo ardor para que a Boa Nova seja propagada.  A ausência do testemunho que às vezes nos invade empobrece o anúncio, por isso, a necessidade de refazer o anúncio, denúncia, testemunho. 

SITUAÇÃO DO BRASIL



16/06/2020
PE BOSCO

O mundo continua perplexo diante da pandemia.  Quem conviveu com a doença antes do Brasil, como China, se imaginava ter superado  a situação, no entanto, agora se fala em nova ou segunda  onda, sinal de que não temos soluções ainda para Covid 19.
O Brasil continua numa crescente onda sem se ter clareza para onde vamos. Todos os dias os números são maiores, tanto de mortos como de pessoas infectadas.
O ministério da Saúde está em silêncio, como o presidente estava pretendendo desde o início do problema.  Por haver uma comunicação freqüente com a população do país, no final de cada dia, a equipe do Ministério foi substituída.  Hoje a tendência é de que não se saiba exatamente quem morre e quem fica doente.  Parece não termos no momento uma política de enfrentamento da pandemia. Tudo acontece de forma muito silenciosa.
O presidente incentivou aliados a invadirem hospitais para fotografarem leitos para sondar taxas de ocupação para avaliar aplicação de recursos. Esse tipo de ação já começou a acontecer: atitude gravíssima uma vez que familiares e até médicos estão impedidos de acesso à informação, como é possível ações dessa natureza? As mesmas começam a serem investigadas pelo Ministério Público.
No momento a preocupação é abrir o comércio em todos os lugares. O assunto é cheio de controvérsias. No início o grande apelo era o isolamento social como condição para evitar a contaminação, o que na verdade não aconteceu uma vez que as pessoas se mantiveram expostas em muitos lugares, ou seja, não é possível fazer com que aconteça o isolamento social e, muito, menos as medidas de proteção, o que seria mais fácil.
O que se pode imaginar a partir de agora? Aquelas pessoas mais conscientes e condições de se manterem em casa, certamente ficarão cuidadosas; aquelas que se aventuram demais e com imunidade baixa correrão riscos de enfrentarem problemas maiores de saúde; por fim é necessário que chegue a hora de uma vacina como sempre aconteceu com outras doenças que o Brasil já enfrentou.
O fato é que neste momento estamos numa situação muito obscura. O Brasil, pela sua grandeza populacional e sem a consciência coletiva sobre a gravidade da situação poderá sofrer muito mais do que outros países, sobretudo pela falta de uma política equilibrada e séria.




12 de junho de 2020

COMUNICAÇÃO



12/06/2020
PE BOSCO
Este tempo atípico tem suscitado muitos gestos de solidariedade, inclusive de grandes empresas internacionais, mas, também através de iniciativas de grupos e pequenas organizações.
Estas iniciativas chamam a nossa atenção para outros aspectos que devemos considerar. Dentre eles devemos lembrar que a solidariedade é uma necessidade permanente. Sempre teremos situações que nos esperam, sobretudo, a fome e a doença. Com doações tão altas significa que as empresas acumulam muitas riquezas. É louvável o que está sendo feito, no entanto, algo poderia ser pensado de forma mais permanente, como dimensão social de quem arrecada muito dinheiro através do lucro podendo, inclusive, explorar os trabalhadores  com a negação de salários e direitos dignos.
Outro perigo dos tempos de calamidade pública é o destino dos recursos, tanto das doações como das verbas federais. Nessas macroestruturas corre-se o risco de tantas pessoas não serem atendidas nos lugares mais afastados. Certamente muitos problemas dessa natureza parecerão posteriormente. Assim acontece nos períodos de seca e de enchentes.
Outra situação recorrente deste tempo de pandemia é a questão da comunicação. Em tempos normais os grupos ou pessoas de tantas entidades, não faziam questão de interagir e ter preocupação pelo outro. Agora existe uma preocupação exagerada, é um pensamento pessoal, de fazer muitas lives, talvez até para suprir uma necessidade deixada para trás.
Bom que se faça uma séria reflexão. As organizações sociais, civis ou religiosas,  muitas vezes só pensam na eficácia, nos resultados, no aspecto exterior, sem pensarem nas pessoas, das quais dependem os resultados das referidas instituições.
Todas essas demandas de lives estão sendo realizadas em função de quem? É claro que as estruturas devem ser levadas em conta, no entanto, não podemos nos esquecer das pessoas e em que situações as mesmas se encontram. Na verdade, esse aspecto continua longe das preocupações. Sim, temos que pensar nos outros, no entanto, esse pensar e agir sobre ou para ou com os outros passa também pela nossa situação e de como nós nos encontramos e como nos sentimos.
O grande problema é de que esse tempo tão diferenciado possa não trazer nenhuma mudança para a história e o coração das pessoas, o que será muito grave, tanto quanto a pandemia.
Quem é mais importante a pessoa ou as estruturas da sociedade?

9 de junho de 2020

MANIFESTAÇÕES


09/06/2020
PE BOSCO
As cenas de violência nos Estados Unidos quando policiais brancos mataram George Floyd em via pública, suscitou a indignação pelos países a fora. A causa da violência foi uma nota falsa no valor de 20 dólares. Pelo que entendi o dono do comércio tentou evitar aquela morte, mas a polícia insistiu em tirar a vida do ex segurança.
Pelo que também entendi a violência não se deu simplesmente por causa do dinheiro. Qualquer pessoa pode ser vítima de uma nota falsa e isso não é motivo para tirar a vida de um ser humano. O dinheiro jamais poderá estar acima das pessoas.
Por trás do fato está a desgraça do racismo que considera negro como se gente não fosse e, por isso, deve ser eliminada. Alguém dizia que uma questão brutal e desumana desencadeou algo positivo que são as manifestações.
De fato, não só nos Estados Unidos, mas em vários outros países, as pessoas foram para as ruas para externar as insatisfações; mostrar a indignação pela forma como as pessoas negras são tratadas simplesmente por causa da cor.
O Brasil também tem um histórico de grandes manifestações.  Nos anos 83 e 84 o povo foi às ruas de forma surpreendente no Brasil para ter o direito de escolher pelo voto o presidente da república, o que aconteceu pela conhecida emenda constitucional Dante de Oliveira.
Em todo caso, as mudanças acontecem com a manifestação das bases em cada país.  O Brasil mesmo em pandemia e, por isso, ainda de forma tímida, saiu para a rua em várias capitais nestes dias, condenando o racismo e defendendo a bandeira da democracia.
As manifestações do Brasil que certamente irão crescer se dão por conta do racismo e também por causa de pedidos isolados, inconstitucionais a favor da ditadura, do fechamento do congresso e do supremo. Os ministros, a OAB, o congresso, governadores, entidades da sociedade e associações estão de manifestando de forma dura contra essas praticas. Na verdade, se vive uma realidade muito atípica no Brasil, de total instabilidade e imprevisível.
Até a transparência sobre as mortes no Brasil está sendo sob ameaça de omissão para que a sociedade possa não acompanhar a real situação. As secretarias de saúde dos estados já estão fazendo uma contagem independente por não confiarem nesta tentativa do ministério da saúde para omitir a realidade.
Nunca podemos perder as esperanças, mas o cenário político, sanitário e econômico para os mais pobres é dos piores. Os mais abastados também não escapam da crise.
A única solução ou caminho viável é dizer não a tudo o que destrói a vida humana, estar do lado da vida e contra as instituições quando as mesmas defendem interesses desumanos.


REALIDADE PRISIONAL


08/06/2020
PE BOSCO

Por mais de 20 anos tenho acompanhado a realidade prisional do Brasil com o olhar mais próximo da Paraíba. O sistema com o crescente número de presos tem cada vez se agravado pelo fato de não se conseguir trazer mudanças significativas para o mesmo.
A superpopulação é o grande drama. Os que são presos lá permanecem sem que a justiça defina as suas situações. Aguardam por anos até para que se consiga uma sentença. Enquanto isso, a pessoa já se envolveu e até se comprometeu com a realidade do cárcere e não consegue mais se tornar livre dos esquemas do mundo das drogas, por exemplo.
A ociosidade os mata em celas trancadas por até 22 horas e até tempo integral, dependendo da situação. É que os estados não dispõem de uma política diferente daquela que é de mantê-los trancafiados sem nenhuma atividade. As escolas existentes são tímidas demais pela falta de espaço. Salas de aula se transformam em celas para abrigar novos presos.
Na Paraíba temos uma longa história construída com muitos problemas relacionados com a prisão e os agentes de pastoral carcerária por causa de um sistema muito duro e fechado, marcado também por muita violência, rebeliões e mortes. Temos muitos relatos a respeito.
Hoje podemos dialogar mais com o estado e com o judiciário com mais facilidade e mais acesso.  Dr. Carlos Neves, Dra. Lilian Cananeia e Dr. Marcus Salles, atual juiz corregedor, enquanto judiciário, estão atendendo bem aos apelos que são feitos pela sociedade, no acompanhamento das unidades prisionais. Também com a secretaria, através de diretores da SEAP e dos Secretários Sérgio e João Paulo se tem conseguido amenizar situações, no entanto a realidade é muito desafiadora e temos um caminho longo a percorrer.
O CEDH PB tem dado também uma grande contribuição uma vez que seus membros são constantemente procurados por pessoas diversas que pedem ajuda sobre pessoas detidas. O CEDH que é composto por entidades importantes da sociedade civil e governamental, tem sido de grande importância em toda a sua história em favor da vida como um todo. Hoje Guiany Campos compondo a presidência.
Estamos vivendo um dos piores momentos por conta da pandemia. Nunca, mesmo com as dificuldades, nunca a família deixou de visitar seu familiar como agora. Já estamos por três meses, sem que a pessoa detida possa receber o apoio humano pela visita de filho, esposa, esposo ou pais.
Isso tem gerado muita insegurança, medo e angústia. Em alguns lugares se consegue um contato por videoconferência que dá apenas para que se consiga se vê, mas nem para dialogar a vontade é impossível por ser um encontro monitorado.
O isolamento está redobrado, mesmo assim, o vírus tem chegado aos apenados e também aos agentes penitenciários, que precisam se mobilizar de suas casas para as unidades e vice e versa. Igualmente as unidades sócio educativas de nosso estado também estão atingidas pelo vírus.


6 de junho de 2020

RACIMO É CRIME



06/06/2020
PE BOSCO
Nos Estados Unidos manifestantes estão nas ruas todos os dias e cada vez mais aumenta a participação do povo. Esse povo até arrisca a própria vida se expondo à violência, mas a causa é muito nobre.
Em via publica, diante de câmeras, um policial branco matou um negro deixando-o sem respirar até à morte com o joelho em seu pescoço. Esse fato reacendeu o sofrimento que os negros sofrem por lá e pelo mundo a fora com a discriminação racial.
A manifestação é justa e muito significativa. A união desse povo para chamar a atenção e manifestar indignação. Que país desenvolvido é esse? Que mundo é esse que vivemos? Como destruir, matar o outro, o próprio semelhante por causa da cor da pele?
Bom não esquecer de que no Brasil, 46,5 por cento se declaram pardos e 9,3, por cento se declaram negros. Essa população sofre com a discriminação. Nas unidades prisionais, grande maioria é de jovens negros, como também são que mais morrem vítimas da violência estatal.
Em lugar nenhum do mundo se é melhor por causa da cor. A expressão: “negro de alma branca” é uma aberração, pois não se defina a alma pela cor. O racismo mata, o racismo é criminoso.
A pessoa humana não se define pela cor, mas pelo comportamento e pelos valores que defende; pela sua capacidade de amar e pela sensibilidade do seu coração.
No site bbc. com, encontra-se um texto com o título: “Negros e negras brasileiros que deveriam ser mais estudados nas escolas”. Texto que mostra a contribuição  de homens e mulheres na nossa história brasileira.
A questão é de que a nossa história foi sempre contada a partir dos brancos portugueses que aqui chegaram. A leitura oficial que aliena a nossa juventude. Como sabemos, o processo de colonização do Brasil dizimou muitas vidas, a cultura indígena ainda hoje sendo destruída e massacrada, como também a cultura negra escravizada no Brasil, ainda hoje carregando as marcas de tempos remotos.
É impossível e inadmissível que ainda hoje convivamos com essa barbárie praticada com a população negra, sobretudo por ser pobre. Estamos muito distante ainda de uma mentalidade humanitária por causa do preconceito que carregamos dentro de nós. Porque o preto é valorizado até nas vestes, inclusive, a clerical e se torna tão desprezível e humilhada na carne humana?
 O próprio Jesus, sendo Galileu,  poderia ter olhos de europeu?

4 de junho de 2020

TRINDADE


04/06/2020
PE BOSCO
Estamos para celebrar a festa da Santíssima Trindade. No credo professamos a nossa fé em Deus Pai todo poderoso criador do céu e da terra. Estamos habituados a pensar o poder como dominação, escravidão e opressão. Talvez alguém possa imaginar essa experiência a partir de Deus, como assim acontece na vida. O que significaria na vida das pessoas pensarem um Deus todo poderoso?
Professamos também a fé em Jesus Cristo seu único Filho nosso Senhor. Em seguida o credo descreve a condição do Filho e o que lhe aconteceu: Paixão, Morte e Ressurreição. Em seguida cremos no Espírito Santo, na santa igreja católica, na comunhão dos santos na ressurreição dos mortos e na vida eterna.
A nossa fé é trinitária, um Deus uno e trino. Nunca só o Pai eterno, só Jesus ou só o Espírito. Corremos o risco de em nome das nossas espiritualidades fazermos reducionismos que descaracterizam a ação de Deus em nossas vidas.
Já sabemos que na criação, como na redenção e na santificação, a Trindade santa age conjuntamente. Deus no seu mistério de amor não se separa. Deus é a mais perfeita e melhor comunidade guiada pelo amor. Deus amou tanto o mundo que nos deu seu próprio filho. João 3,16.
O conceito de Deus na vida das pessoas e das comunidades faz toda diferença.  Se Deus para nós é alguém muito estranho e distante, a nossa forma de viver a fé assim também será como também as relações com a comunidade serão diferentes.
Não podemos fazer Deus à nossa imagem e semelhança, mas o contrário, pois assim ele nos fez por amor e sem mérito nenhum de nossa parte. Ao enviar o Filho, o verbo, a palavra presente na criação e que se fez carne, podemos assim conhecê-lo. Como disse Jesus, que Ele e Pai são um só e quem consegue vê-lo, verá também o Pai. João 10,30. João 14.
Assim, a cada ano podemos celebrar a festa da Trindade Santa na certeza de que Deus não é um ausente e despreocupado, mas aquele que pela ação trinitária nos acompanha em todos os momentos de nossa vida, e muito mais presente do que aquelas pessoas que as consideramos como mais íntimas. Deus é o mais íntimo de todos nós por fazer em nós a sua morada.
Ao iniciar a nossa oração em nome da Santíssima Trindade, tenhamos a consciência de que estamos diante da mais profunda verdade de nossa fé. Temos um Deus que se manifesta cheio de amor e bondade.

  


3 de junho de 2020

MÊS DE JUNHO



03/06/2020
PE BOSCO

Estamos no mês de junho, um tempo de muita alegria para o povo do nordeste. Como o carnaval em outros estados, mas também em parte do nordeste, junho é momento de encontro das famílias. Os que se encontram distantes, como Rio, São Paulo, ou outros lugares, conseguem férias e chegam à terrinha para o encontro junino com sua família.
Neste ano, com total excepcionalidade, começamos o mês sem perspectivas de que os encontros aconteçam. O nosso país está se encontra numa dolorosa curva ascendente com mortes freqüentes, mais de mil pessoas por dia. De forma inesperada o mundo está passando por essa terrível situação, de tanta dor para tantas famílias. Não bastasse a dor da perda, existe a dor do isolamento.
Nestes dias uma médica com o pai na UTI me informou que a família não tem acesso ao hospital e depende do contato da assistente social para receber notícias. É impossível imaginar algo semelhante.
Em todo caso, cada família está convidada a viver esse tempo festivo na anormalidade e sem o clima da alegria. Há recomendação de que nem as fogueiras sejam feitas. Alem da fumaça elas aglomeram também as pessoas. A chamada quarentena passou a ser um tempo longo, restringindo a vida da população.
O nosso país continua sem ministro da saúde. Aquele que faz as vezes, interinamente, caminha na provisoriedade o que é considerado muito grave em meio a algo tão grave como jamais se poderia imaginar.
O nascimento de João Batista foi motivo de muita alegria para o povo do seu tempo que esperava o messias. João foi o precursor e preparou os caminhos para a chegada do Salvador.
Vamos celebrar esse momento também esperando que pela intercessão de São João Batista, o maior entre os nascidos, segundo Jesus, nossas preces sejam atendidas para possa chegar uma solução definitiva para esta situação.
Nós cristãos vivemos da fé e da esperança. Estamos também nesta semana celebrando a trezena de Santo Antônio, grande padroeiro de muitas paróquias e dioceses. Milagroso Antônio, nosso padroeiro, encha de saúde e alegria o Brasil inteiro.
Assim vamos tocando, rezar e cuidar para que a normalidade com a graça de Deus possa voltar a fazer parte de nossa vida.