25 de julho de 2010

Formando para a Vida Comunitária



Hoje vivemos numa sociedade cada vez mais individualista. Cada pessoa vai se isolando e querendo buscar a paz, só para si, esquecendo-se que os muros e as cercas elétricas deixam mais frágeis e mais expostas suas famílias. Além do mais, a solidão egoísta, e não espiritual, tem levado a situações doentias como a depressão.
Esta mentalidade contemporânea tem levado os nossos grupos a perderem, se é que herdaram o espirito de pertença à sua igreja. A falta de participação na vidas das paroquias tem sido um desafio a ser trabalhado.
A igreja, que tem como programa de vida A CARIDADE, colocada em pratica pela vida fraterna e pela atenção ao outro, vem, através de seus pastores, chamar a atenção para a importância da vida em comunidade, que deve cada vez mais ser motivada e animada por seus pastores.
Assim se expressam os bispos, sobre as Cebs:
Por isso, “Como pastores, atentos à vida da Igreja em nossa sociedade, queremos olhá-las com carinho, estar à sua escuta e tentar descobrir através de sua vida, tão intimamente ligada à história do povo no qual elas estão inseridas, o caminho que se abre diante delas para o futuro”. (CNBB 25,5)
Alimentadas pela Palavra de Deus e pela vivência de comunhão, as CEBs promovem solidariedade e serviço. Reunindo pessoas humildes, as CEBs ajudam a Igreja a estar mais comprometida com a vida e o sofrimento dos pobres, como fez Jesus. Elas manifestam, mais claramente, que “o serviço dos pobres é medida privilegiada, embora não exclusiva, do seguimento de Cristo” (DP 1145). ( 48ª Assembleia Geral da CNBB em Brasília, 4 a 13 de maio de 2010).
Na verdade, a comunidade deve ser o lugar, da convivência, do encontro, da oração e da partilha da vida. A falta de referencias para idosos, jovens e crianças tem gerado uma difícil situação para a convivência humana e cristã.
Para nós, párocos e administradores paroquias, não poderemos, jamais, perder a oportunidade de trabalhar na formação de comunidades, no sentido amplo da palavra, pois é assim que se constitui a igreja e manifesta a sua verdadeira identidade.
Devemos estabelecer um calendário mensal para reunirmos todas as nossas lideranças para a oração, para o estudo, para o planejamento das atividades, festas, comemorações, dizimo, etc.
As nossas lideranças quando não acompanhadas se tornam lideranças para outras igrejas. Muitas já seguiram. Não só por culpa nossa, mas também pela nossa pouca assistência. Muitas vezes a atividade sacramental ocupa o tempo todo e isso não deve acontecer. Devemos oferecer as motivações para a fé e para o seguimento de Jesus. Jesus chama para enviar. A ida, no entanto, é posterior e ao mesmo tempo simultânea à convivência com Ele. “Vinde e Vede; Ide a anunciai”. Por traz destas palavras de Jesus podemos encontrar e apresentar a mensagem fundamental para a nossa vida cristã.



pebosco

A violência que assusta.

A violência atinge a todas as camadas da sociedade por se tratar de algo que parte do ser humano. Só temos uma sociedade violenta por sermos pessoas violentas. Além de sermos pessoas violentas, por índole, pela nossa pratica, difundimos a violência. A violência é algo que se aprende, a não violência também. Quando a mídia divulga as praticas de violência, com a função de informar a população sobre o que está acontecendo, ela acaba ensinando a alguém aquela mesma prática.
A violência, no entanto, se torna visível no mundo dos pobres, nas periferias e nas grandes favelas. Nesses ambientes, o pobre e o negro são sempre suspeitos para a polícia. São estas mesmas categorias sempre as vitimas da violência.
As pessoas ricas só são ouvidas em uma delegacia com a presença de advogados; elas podem se recusarem a apresentar provas contra si mesmas, exemplo: bafômetros, coleta de sangue, como também, podem ficar caladas o tempo todo em um inquérito policial.
O pobre, ao contrario, é torturado para confessar o que não fez, é indiciado pelo crime que não cometeu e assina o depoimento que não prestou. Ele é sempre vitima da injustiça que o estado pratica contra ele. É a palavra dele, conta a da “autoridade”. Ele é sempre o bandido que só é bom quando morto. Pode ser que nunca tenha participado de nenhum bando como o daqueles que roubam o dinheiro publico.
Onde está a maior violência? A resposta vai apontar aquela violência que aparece divulgada nas ruas e na mídia. Na verdade, a maior violência é a que não aparece por estar entre quatro paredes. As vitimas desta violência são as mulheres e as crianças, seres mais fracos e culturalmente submissos pelo machismo da nossa sociedade ainda patriarcal. A presença das mulheres ainda não foi suficiente para criar uma cultura de seres humanos iguais nos mesmos direitos e com a mesma dignidade.
A violência contra a mulher tem se tornado tão grave que além de suas diversas dimensões, as mulheres passam a ser assassinadas por maridos, namorados e ex-maridos e ex-namorados.
O medo de denunciar ainda é grande. Até porque após as denuncias, a mulher não tem proteção nenhuma e ela passa a ser vitima de outras agressões. Por este motivo, e por outros, como a instabilidade financeira, a mulher acaba carregando os sofrimentos de uma convivência no total desrespeito, sendo submetido a todo tipo de sofrimento e humilhação. Esta realidade é muito frequente e muito comum sem o conhecimento da sociedade.
A mesma situação é a da criança que é tratada com violência e abusada sexualmente pelos adultos, sobretudo padrastos que são inúmeros por causa das separações e da constituição de casais de segunda união.
A família, que deveria ser o espaço do aconchego, da segurança, da felicidade, da paz, passa a ser o lugar do medo, da insegurança, do terror, do estupro, do cárcere privado, da violência.
Só uma cultura de paz e uma nova mentalidade poderão reverter esta situação.





pebosco

17 de julho de 2010

A espiral da Violência.

A violência faz parte da historia da humanidade. O que muito preocupa hoje é o seu crescimento e sua pratica com requinte de crueldade. Outro grande agravante: quanto mais ela acontece mais ela se expande: Violência gera violência.
O Rio de Janeiro tem apresentado repetidas cenas de violência envolvendo a ação policial nas favelas. A última, 16 de julho 2010, uma criança de onze anos dentro do Colégio, foi assassinado. Um tiro de fuzil lhe teria atingido o coração. Além dele mais outras pessoas. O comando geral exonerou o comandante da operação.
A Mídia tem divulgado inúmeras situações de crimes com mortes violentas que jamais se podia imaginar tamanha perversidade. As situações são inúmeras a cada dia, a cada hora, a cada minuto em todos os lugares do mundo.
Vivemos em uma imensa contradição: somos frutos do amor de Deus e criados para Deus, por isso devemos amar, mas praticamos o desamor, o ódio, a vingança.
O que fazer? Comenta-se que o Estado perdeu o controle da situação; que o estado não tem uma politica para a segurança pública, que o estado não quer agir, que alguns agentes do estado são envolvidos com o mundo do crime.
Enquanto não se trabalhar as dimensões do perdão e da reconciliação, entre agressores e agredidos, a violência será a resposta para a violência.
Todos se recordam de um fato de repercussão mundial, quando o papa Joao Paulo foi atingido por disparos de arma de fogo na Praça de São Pedro. Seu agressor Mehmet Ali Agca, um turco.
Recuperado, o papa vai até a prisão para visitar, conversar, perdoar e se reconciliar com o seu agressor. Este fato, que não é comum, chamou a atenção do mundo. É claro que muitos gestos semelhantes, de pessoas simples e anônimas acontecem sem que sejam divulgados. São eles que promovem a paz e trazem a paz para a vida das pessoas. Não adianta proclamar o terror, provocar a justiça com as próprias mãos, promover os linchamentos. Atitudes assim geram ódio e novos crimes.
Este é um caminho que já está sendo trabalhado pela Justiça Restaurativa, pelas Escolas de Reconciliação e Perdão. Deve ser algo a ser buscado.
Quem professa a fé ou não, não pode desconhecer o gesto de Jesus na cruz que pede ao Pai o perdão para seus algozes. É a atitude de quem ama verdadeiramente. A consequência do amor é a vida e o bem do outro.
A reconciliação é a etapa mais importante do processo diante do desentendimento e das agressões. É claro que se trata de um caminho muito difícil, que requer simplicidade, humildade, abertura, confiança, desejo de mudança. É algo doloroso. É um processo que descarta toda possibilidade de vingança para conter a espiral da violência. É um processo que depende da decisão do coração de cada pessoa. Sem a reconciliação cada parte, agressor e agredido será sempre uma ameaça para cada um. Só a reconciliação e o perdão darão a tranquilidade para uma convivência de paz.



pebosco

16 de julho de 2010

O Estatuto da Criança e do Adolescente

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completou vinte anos no dia 13 de julho de 2010. Data lembrada e comemorada com momentos de estudo e também de manifestações públicas de grupos que fazem parte dos movimentos sociais. Sem duvida alguma, o Estatuto é um grande avanço e um referencial, uma vitória na vida das crianças e adolescentes, sempre marcada por muitas situações de conflitos e sofrimentos.
Diante da realidade conflitiva, a Lei foi bastante lembrada e discutida, como também, algumas iniciativas foram e continuam sendo desenvolvidas nos municípios: Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente; Conselho Tutelar; Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), sem esquecer que estas iniciativas existem em dimensões ainda muito precárias e não são prioritárias. Vejamos:Muitos Conselhos de Direitos são mera formalidade; os Conselhos Tutelares não são vistos como um instrumento importante para a sociedade, faltando-lhes até a infraestrutura necessária para seu pleno funcionamento, arriscando, assim, a vida de seus membros no cumprimento de suas atividades; o Fundo Municipal da Criança e do Adolescente (FUMCAD) é o mecanismo instituído para reservar recursos voltados a programas e projetos de atenção aos direitos da criança e do adolescente. Na maioria de nossos municípios ele nem existe, apesar de constar na Lei.
Diante do ECA, muitas reações negativas de setores da sociedade. Todas as vezes que acontece um crime envolvendo um adolescente, se reacende a discussão sobre a idade penal. A ideia é sempre castigar, punir, prender, como se as prisões em algum lugar do mundo recuperassem o ser humano detido. A igreja, através da CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, com a Pastoral do Menor sempre teve uma clara posição contra a redução da idade penal.
Uma falsa ideia se propagou sobre o Estatuto: a criança e o adolescente podem fazer tudo o que quiserem que não são punidos. Esta ideia é falsa e apenas cria insatisfações na sociedade. O CEA (Centro de Educação do Adolescente), mas que centro de Educação é uma mera prisão sem as mínimas condições de tratar o adolescente nos seus conflitos com a Lei.
Setores da imprensa, desinformada ou simplesmente para instigar, prestam um desserviço à sociedade, fazendo apologia ao crime, se referindo e tratando crianças e adolescentes como se fossem adultos. Um total desrespeito.
Outros grandes desafios estão por serem enfrentados: a desnutrição das crianças, a violência em casa, sobretudo o abuso sexual, o uso e o trafico de drogas, a prostituição infantil, a exclusão nas escolas, entre outras situações.
O Estatuto é um referencial diante do desafio e da responsabilidade de toda a sociedade. Não adiante reclamar de crianças perambulando nas ruas. Se nada for feito elas passam a ser da rua. Realmente o futuro está nas crianças. O tipo de futuro, porém, é definido pela nossa postura de indiferença ou de abertura para com a criança.
É claro e evidente que a repressão nunca educou ninguém. Isso não significa deixar de trabalhar os limites, direitos e deveres. O que a família, a sociedade e os educadores ainda não aprenderam é que se deve educar para a liberdade com responsabilidade.



PE BOSCO

Questões da Prisão.





A primeira questão que trago para esta reflexão tem sido muito colocada nas visitas da Pastoral Carcerária. Trata-se da experiência com advogados e advogadas. Deixo claro, de antemão, que não faço nenhum juízo de valor a respeito do assunto, mas apresento aquilo que escutamos repetidamente.
A pessoa detida, diante da pessoa visitante, diz: “Paguei x ao meu advogado, ou advogada, recebi a garantia que em y tempo eu sairia da prisão. Não tive mais noticias dele (a), a família telefona, mas não tenho noticias. Já estou com outro advogado, pois o primeiro não resolveu minha situação. Vendi tudo, até a casa, para pagar ao meu advogado (a)”. A grande reclamação é a falta de atuação do contratado.
Estas falas são reais e muito repetidas. Cada uma está no seu contexto e na situação de cada pessoa. Ela pode ser contada com seus acréscimos, mas se trata de uma realidade.
Um garante comprometedor é dizer ao preso: “Daqui a tantos dias, garanto que você sai da prisão”. É como se tudo dependesse do advogado, quando a decisão final é do poder judiciário. A não ser que o caso seja o mais simples possível, mesmo assim a promessa passa a ser muito comprometedora. Se ela não acontece, o profissional perde a credibilidade.
Nas visitas, fiz uma recentemente, em Guarabira, no chamado Presidio Velho, a lamentação é grande. Vários presos, segundo eles, por um ano e até mais sem nenhuma audiência.
A Defensoria Publica não existe para os presídios de Guarabira. Esta é a noticia que tenho tido.
O diretor da unidade confirma as informações dos presos. Isso só acontece com os pobres. Neste sentido a justiça não é igual para todos. Só quem paga a um advogado de renome, com bastante dinheiro e com prestigio, é quem consegue sair da prisão com mais facilidade. Quem não for lembrado, diante do volume de processos, fica esquecido. “Contra fato não há argumento”, diz o proverbio.
A segunda questão se relaciona com a estrutura física do mesmo Presidio. A Unidade é feita de duas situações: os que estão trancados são provisórios e condenados cento e vinte homens aproximadamente; os que estão albergados no lixão em um galpão aberto na área do presidio, chegam ao mesmo numero, com todas as possibilidades de saírem durante a noite, segundo o diretor, se quiserem, por culpa do Estado que mantem aquele espaço, naquela situação, pelo menos de vinte anos para cá, sem nenhum investimento na infraestrutura e na segurança.
Temos, é verdade, uma situação complexa para a qual não existem soluções magicas, mas, determinadas situações localizadas podem ser perfeitamente sanadas e corrigidas sem maiores dificuldades. Basta a percepção e a boa vontade. Os recursos chegam para serem bem aplicados.



Pebosco

8 de julho de 2010

UMA MENSAGEM


Na noite da morte,

A CERTEZA DA RESSURREIÇÃO.

Nas tristezas terrenas,

A ALEGRIA DA ETERNIDADE;

Nas inseguranças humanas,

A CERTEZA DO CAMINHO;

Nas trevas da vida,

A CERTEZA DA LUZ DA MANHÃ;

No silêncio sem resposta,

A RESPOSTA DE DEUS;

Na dúvida,

A CERTEZA DA FÉ;

Na dor intensa,

O ABRAÇO DO PAI;

Na ausência dos outros,

A PRESENÇA DO OUTRO;

No aparente fim,

O ETERNO E DEFINITIVO COMEÇO.

PASTORAL CARCERÁRIA- COORDENAÇÃO NACIONAL CNBB


- CONFERFNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL

O QUE É A PASTORAL CARCERÁRIA?

I.) PRISÕES CHEIAS!

As prisões do pais estão superlotadas com mais de 130.000 presos, na sua maioria jovens! Não há lugar onde colocar os novos presos que chegam todos os dias. Muitos governos estaduais planejam construir novos presídios para comportar a demanda!
Se existe uma classe de gente desprezada e odiada por quase todos, hoje em dia é a classe dos presos, por tanto mal que praticaram e por terem feito outras pessoas sofrerem às suas mãos!
Daí a maioria do povo não gosta dos presos. Não quer nem saber! A maioria do povo sente e fala sem refletir, em termos de vingança e até de eliminar o bandido. Volta e meia o pessoal diz que o país precisa ter a pela de morte para o bandido! (Estamos cansados de ouvir este refrão de seis em seis meses!) – Pois é: quando o assunto é “preso”, é muito fácil esquecer de Jesus e o que Ele acha dos presos e dos que tem errado e feito o mal contra outras pessoas.
Presença de Cristo – Por isso, a Pastoral Carcerária tenta ser a presença de Cristo nos Cárceres e faz todas aquelas atividades que a presença de Jesus no meio dos presos exige. Jesus nos revela, a todos nós, a verdade sobre o homem, mesmo o homem preso: que, apesar da aparência, o preso é, sim senhor, filho de Deus, nosso irmão, e a sua pessoa e vida também são dons de Deus, e que o preso não pode ser esquecido ou esmagado. A Pastoral Carcerária tenta ser, simplesmente, a presença de Cristo nos Cárceres. E, isso nos leva a empreender muitas atividades diversas, conforme a necessidade / realidade dos presos e do sistema local. Mas, o coração da Pastoral Carcerária é sempre a Pessoa de Jesus, preso, morto e ressuscitado, na Palavra Viva de Deus e na realidade que nos cerca e na pessoa do preso.
A nossa inspiração é “O que Jesus faria, o que ele diria? Como Ele trataria o preso”. Nossos trabalhos incluem visitar e conversar com todos os presos, os que tem fé e os sem fé, os doentes, os que estão nas celas de castigo, fazer contato com os seus familiares, falar com o juiz e com outras autoridades. Enfim, ser solidário, ser irmão. Por isso contestamos o tratamento desumano dado aos presos.
Jesus ama quem erra, mas não o erro. Por isso, Ele ama a nós e aos presos. Ele defende a dignidade de todos . Jesus não abandona ninguém. A Pastoral Carcerária não deixa a Igreja e nem a sociedade esquecem que preso é gente e tem que ser recuperado para integrar-se a este povo novamente.

 
II.) COMO IMPLANTAR A PASTORAL CARCERÁRIA?

1.) Não desanimar com a oposição de familiares ou membros da comunidade. Nem de seus padres ou freiras.
2.) Quatro ou cinco pessoas é um bom grupo inicial. A Equipe deve ser mista porque se não houver homens juntos, é praticamente impossível um carcereiro deixar a Equipe entrar dento das grades, no pátio do sol dos presos e até nas celas, onde a Pastoral tem que estar para poder trabalhar.
3.) Combinar as coisas com os responsáveis na comunidade / paróquia e/ou diocese, para haver o respaldo da Igreja. A Equipe vai até a cadeia em nome da Igreja, não em nome próprio ou em nome de um movimento qualquer. Carta do Bispo ajuda muito. Não podem ser “franco-atiradores”. Tem que ser “equipe”. A comunicação é essencial.
4.) Conversar com os delegados e carcereiros, explicar a que vieram, etc. Estar preparados para autoritarismo, desconfiança, sarcasmo por parte deles. Eles não acham que preso vale a pena ser visitado pela Igreja. Por isso, colocam todo tipo de obstáculo no início. Dirão um monte de coisas e colocarão um monte de restrições e impecilhos. Não desanimem.
5.) Saber que os presos tem necessidade de assistência religiosa e direito a mesma. Esta não pode ser negada ou dificultada por qualquer autoridade, porque é Lei do País garantida na Constituição.



6.) Procurar ser irmão, amigo dos presos. Respeita-los, como Jesus na sua conversa com a Mulher Samaritana (Jo 4, 5-42), que é texto modelo para a Pastoral Carcerária. Jesus sabia da vida atrapalhada dela. Mas só comentou o assunto quando ela abril o jogo com Ele. E Ele a tratou com muita compreensão e carinho. Não lhe deu sermão. Teve compreensão e respeito. Jesus nunca teve problema em ser amigo dos marginalizados.



7.) Não levar a Bíblia na mão, mas, sim, no coração.



8.) Começar assim. Aos poucos, as coisas vão acontecendo e a Igreja conseguirá marcar a sua presença misericordiosa e cheia de esperança, no meio daquele inferno que é a cadeia.

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III.) HÁ 3 PONTOS – TECLAS ESSENCIAIS PARA UMA PASTORAL CARCERÁRIA



Há três condições básicas e essenciais, que tem que ser colocadas diante das Igrejas locais e seguidas por elas



1) LER A BÍBLIA – o CRISTÃO TEM QUE LER A Bíblia todos os dias, seguindo as leituras diárias recomendadas pelo Diretório Litúrgico e não naquela ingenuidade de abri-la em qualquer lugar e prontamente ficar todo embananado.



Cheiro da Bíblia – O cristão que vai visitar as cadeias, precisa ter o cheiro d Deus,

o cheiro do evangelho em sua vida, para interagir com o cheiro do preso, o cheiro

da cadeia. Bíblia debaixo do braço não é tão importante ou interessante junto

aos presos... Evangelho no coração é Jesus no coração e na vida. Bíblia na mão,

qualquer um faz. Evangelho no coração, cheiro e jeito de Deus em sua vida, poucos

tem. E o preso sabe ler os corações muito bem mesmo!



O leigo é “sacerdote” (profeta, animador) pelo Batismo... Então, levante a cabeça e

VÁ! Levante a cabeça e ande! Não ficar esperando todos os outros se converterem

aos presos e pobres para começar um trabalho PCR.



2) TRABALHAR EM EQUIPE – Nada de “franco-atiradores” ou impor qualquer “movimento” em cima dos presos ou outros membros da equipe. Se a gente pertence a algum movimento (RCC, ECC, Legião de Maria, Apostolado da Oração, Vicentinos), então que bom! É bom mesmo! O seu movimento é para ajudar você a ficar de pé e forte, não é para jogar a forçar o seu movimento em cima dos presos! Quem vai a cadeia visitar presos, vai como CRISTÃO, membro de uma Igreja local e não como movimenteiro.



Visitar semanalmente – Visitar a cadeia uma vez por semana, ao menos. Visitar

para conhecer e ser conhecido. Pela Bíblia, sabemos que Deus salva e liberta

através de “visitas”. Visitar cadeia sempre, para se solidarizar, para aprender com

o preso, para se indignar com o seu sofrimento desumano.



Conselho de Comunidade – Temos que insistir na criação do Conselho de

Comunidade local (Lei de Execuções Penais 7210, artigo 80) se não existir, ou na

reformulação do mesmo se já existe no papel. A idéia do Conselho de Comunidade

foi na época de 84, grande conquista da própria Igreja e Equipes de Pastoral

Carcerária.



3.) ACOMPANHAR OS PRESOS HUMANAMENTE – O membro de Pastoral

Carcerária, precisa acompanhar o preso “humanamente”, isto é, ele como pessoa humana

e você também como pessoa humana... sem estar jogando “religião” ou “devoção” em

cima dele a toda hora! Aliás, “religião” não é o “problema número um” dos presos. A sua

liberdade o é. “Religião” costuma ser o problema número um de Pastorais Carcerárias

tradicionais ou dos Movimentos Católicos de leigos. A maioria dos presos tem Deus e

religião, de alguma maneira, não a nossa maneira, mas, sim, à sua maneira, que tem que

ser respeitada e reverenciada, porque é dom de Deus para ele.











Pe. R. Francisco Reardon, OMI

Coordenador Nacional da Pastoal Carcerária CNBB

PASTORAL CARCERÁRIA







que vem a ser este grupo? Quais as suas pretensões?
A Pastoral Carcerária não é um grupo que apareceu por aqui sem orientação e sem rumo, onde cada um segue a sua própria ideologia. Pelo contrario, a Pastoral Carcerária é uma pastoral social, oficialmente ligada a CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
.A Igreja define a Pastoral Carcerária como um grupo chamado a ser a presença de Cristo e da Igreja no mundo dos encarcerados. Como Jesus reagiria e quais posições tomaria frente aos presos? Assim também um agente desta pastoral deverá reagir .
.A presença da Pastoral nos cárceres, não tem apenas uma legitimação religiosa, não se trata de executar uma tarefa por fanatismo. A atuação tem um fundamento e um ordenamento jurídico. A Lei da Execução Penal, entre todos os outros deveres e direitos dos presos, assegura como direito e necessidade, a assistência religiosa. Artigo 5.º, VII da Lei de Execução Penal. (Lei 7.210 de 11/08/84).
Assistir ao preso religiosamente, não significa, necessariamente converte-lo ou até impor uma prática religiosa. Significa ter os sentimentos de Cristo Jesus para realizar uma pastoral da escuta e da solidariedade, já que o preso vive uma experiência permanente de solidão. Por isso, a Pastoral Carcerária, de forma amiga, deve preencher um imenso vazio, possibilitando ao preso uma partilha fraterna, marcada pela absoluta confiança.
0 preso, ao ser visitado, deve fazer a experiência de sentir-se gente. 0 cristão precisa saber destinguir entre o pecado e o pecador. Entre a experiência do pecado está a pessoa que pode, ser ajudada, ser recuperada e ordenar a sua prática de vida. A simples presença do agente de pastoral pode significar esse momento, se o agente não for revestido de preconceitos, a exemplo de Jesus.
Como o seu trabalho é solidariedade, a Pastoral Carcerária não quer tirar ninguém antecipadamente da prisão. Não somos a favor da impunidade. Quem foi condenado de forma justa, tem a obrigação de cumprir a sua pena sob a responsabilidade do Estado. A Pastoral tentará ajudar, para que o apeando assuma a sua prisão e procure rever a sua vida. Se o preso já cumpriu a sua tarefa, a Justiça lhe concederá a liberdade, o que é direito do preso, e obrigação da Justiça. Infelizmente, muitos cumprem além da pena, por descuido do Estado e a morosidade da Justiça.
Na experiência da Pastoral Carcerária, é inconcebível que o apenado seja desrespeitado, ofendido, torturado, tendo violado os seus direitos. A Lei da Execução Penal fala sobre os direitos e os deveres dos presos, como também das punições. Nunca, no entanto, fala do desrespeito como forma de punição. É obrigação do apenado cumprir a sua pena; é obrigação do Estado trata-lo com dignidade; é obrigação da Justiça acompanha-lo e conceder-lhe, no tempo devido, todos os seus direitos.
A assistência religiosa consiste em assistir a pessoa como um todo: sua fé, sua descrença, suas alegrias e tristezas, esperanças, necessidades materiais, jurídicas, etc. Muitas vezes entramos nas atribuições específicas do Estado. Como sinal de parceria e de contribuição é que sempre fazemos algumas campanhas materiais, para contarmos com a solidariedade dos irmãos e irmãs .
Um grande problema para a sociedade é o preso. Ele é uma ameaça, por isso, toda sorte de críticas e condenações recai sobre ele. O homem ou a mulher que já viveu a experiência do cárcere, carrega, para o resto da vida, as marcas da condenação. Sem o funcionamento e a ajuda da sociedade, o preso jamais será ressocializado e acolhido, para viver com dignidade, longe da delinqência.





Pe. João Bosco Francisco do Nascimento

Coordenador Estadual da Pastoral Carcerária

Pastoral Carceraria


Após o encontro da PCr. esperamos que cada participante possa tocar pra frente o grande desafio de trabalhar com os presos.
Não esqueçam do Jubileu e do Conselho da Comunidade, assuntos que tanto debatemos.
A Coordenação Estadual se reuniu na manhã do dia 05 em Campina Grande e entre outros assuntos foi discutido o Pascarin. As decisões tomadas foram as seguintes:
O Boletim será mensal e terá a função formativa e informativa.
Este primeiro Pascarin, cada participante receberá juntamente com a lista de endereços;
Para os próximos meses, apenas a pessoa responsável da cidade, receberá um Pascarin e se encarregará de reproduzi-lo através de xerox e passará para todos os membros da PCr. da Paróquia, o padre, juizes, promotores, advogados, diretores de presídios e cadeias e para todos aqueles a quem este Boletim venha a interessar. Converse com o padre de sua Paróquia e vejam como viabilizar a reprodução.
As notícias, artigos interessantes ou poesias escritas por membros da PCr ou por presos, deverão ser encaminhada até o dia 15 de cada mês, para o endereço que constar no final deste Boletim.
Estamos aguardando as notícias e contamos com a colaboração de todos.
“Não me deixes carregar um ramo seco, inútil e morto quando a razão do meu vôo é levar aos meus irmãos um ramo cheio de vida, anunciador da paz.” Dom Helder Câmara.
Esperamos que o Pascarin continue sendo um instrumento que leve a esperança de um mundo novo de justiça e paz para todos.



Pe. Bosco



Pastoral Carceraria; identidade






1. Rezar;

2. Anunciar o Reino no meio do conflito; indo para o meio dos lobos. Sabendo que é defendido pelo pastor. Por isso não usa da mesma arma;

3. Ser pobre: Não levar nada pelo caminho. Palavra que pode ter vários significados e muita importância; Bem aventurados os pobres;

4. Preocupar-se exclusivamente com a missão: não parar pelo caminho. De fato, o tempo é muito curto e muita coisa precisa ser feita;

5. Levar sempre a Paz;

6. Não visar lucro, mas comer o que oferecerem e não ficar de casa em casa;

7. Integrar os marginalizados. Mesmo não sendo recebidos, curar os doentes;

8. Não fazer média e bater o pó das sandálias quando não recebidos;
Lucas 10, 2-12;




OBS: Elementos da Vida Pastoral.
Comportamento da Pcr
1. Gritar na margem do caminho chamando a atenção para a situação dos presos, mesmo que tentem calar essa voz; Lucas 18;



2. Insistir e ser incomodo, sem violência, para ser atendido; Lucas 18;

3. Perseverar em todas as circunstancias, sobretudo quando a morte é visível e parece vencer; João 12; Mateus 24;

4. Assumir a prudência e a vigilância, investindo todos os talentos da forma mais concreta possível; Mateus 25;

5. Modéstia para que não haja grandes pretensões sem possibilidades reais, pois os grandes edifícios começam pela base; assim acontece com o Reino de Deus; Mateus 13;

6. No trabalho da Pcr existem muitas turbulências: provenientes do próprio sistema como tal, dos presos, dos que mandam e não dirigem o sistema. Lembrar que o mestre está sempre presente; Mateus 08;

7. Lembrar sempre que todos são chamados; no entanto, na hora de assumir o compromisso, outras preocupações já ocuparam o espaço que o Senhor deveria ocupar. Por isso somos ainda tão poucos; Lucas 14;
Padre Bosco
















Eucaristia.




A igreja do Brasil ano longo dos anos tem realizado congressos eucarísticos. Trata-se de celebrar com mais intensidade o mistério da eucaristia em nosso meio. Jesus garantia para todos nos a sua presença: na palavra, nos irmãos, mas em especial no sacramento do seu corpo e seu sangue. Na verdade, em todos os demais sacramentos nos temos os sinais externos através dos quais nós sabemos que nos comunicamos com Deus e Deus se comunica conosco. Só na eucaristia nós temos a comunhão direta com o Senhor. Isto é o meu corpo, tomai e comei, isto é o meu sangue tomai e bebei. É exclusivamente em Jesus que podemos nos alimentar.
Por outro lado, já que a comunhão com o senhor deve se tornar visível, nós temos necessidade de viver em comunidade, pois, ai se manifesta ou deve se manifestar a nossa comunhão com Jesus. Como nos dissera o apostolo João que amar a Deus é amar ao próximo, assim podemos demonstrar na convivência e no amor que a nossa união com Cristo é real, verdadeira e sem hipocrisia.
Antes e durante o tempo de congresso se teve como ponto de reflexão a expressão que em todas as missas a assembléia repete depois que o presidente da celebração anuncia: O Senhor esteja convosco e a assembléia responde que Ele está no meio de nós.Essa expressão é o anuncio constante do privilegio que temos da eucaristia.
Portanto, a cada dia, temos a tarefa de a cada momento de nossa vida, em nossas celebrações nas comunidades e nas casas religiosas de podermos contemplá-lo entre nós, agradecendo a Deus pelo mistério da encarnação que se eterniza na presença de Cristo em nosso meio e nos corações das pessoas que se alimentam do pão do céu.

Pe Bosco

Motivo da Oração

A grande maioria das pessoas reza a Deus apenas em suas necessidades, assim, a oração é ocasião para pedir. Não podemos nos esquecer das outras dimensões da oração, sobretudo o agradecimento a Deus pela nossa existencia. É verdade que Jesus disse: "Pedi e recebereis." O que não vai acontecer de forma automática. Tudo vai depender do que estamos pedindo e para quem estamos pedindo. Muitas vezes só pensamos em nós, na oração, quando a verdadeira prece, na verdadeira oração sempre rezamos em comunhão por toda igreja e pelo mundo todo.
Outra questão é que rezamos para que Deus possa agir, atuar em nosso lugar. Queremos que Deus faça aquilo que nós devemos fazer.Isso não é possivel pois fere a natureza da nossa criação, pelo livre arbítrio que temos. A oração é sempre para buscar junto a Deus as forças necessárias para, na fé, realizarmos a vontade do Pai. No pós oração deve conter sempre um partir, um seguir, um caminho a percorrer. É assim que termina a missa:"Ide"! Ninguem reza que ficar de braços cruzados. Toda oração supões uma ação; toda ação supõe uma oração.
Nós nos lembramos da oração de Jesus antes da paixão: "Pai, se possivel, afaste de mim este cálice, não seja no entanto a minha vontade mas a Tua." Esta deve ser a dinâmica de nossa vida orante; uma entrega total, como servos e servas do Senhor. Vejamos, então, que rezar vedadeirammente é dar a propria vida na busca da vontade de Deus.
pebosco

Oração

Jesus se retirava com muita frequência, alternando oração e atividade missionária. O mesmo ele pede aos discípulos para afastar-se e descansar um pouco após uma experiência de missão.
De fato, não é só de pão que vive o ser humano, mas de toda palavra que sai da boca de Deus. Temos que nos alimentar da palavra. Como temos o tempo e as horas para as refeições, o mesmo deve acontecer com os momentos para a nossa meditação. A palavra deve ser ruminada em nossa vida para ser o alento e a força para a nossa caminhada.
Temos que aprender a dedicar tempo a Deus necessário. A oração, para nós, pessoas cristãs, deve ser a atividade mais importante pelo fato de ser norteadora das demais preocupações. É claro que toda a nossa vida deve ser uma oração, mas, temos que marcar os nossos momentos como pontos e partida para a nossa comunhão com o Senhor.
As palavras de Jesus, a este respeito, são muito sugestivas: 'Vinde a mim vós todos que estais cansados e eu vos aliviarei. Meu jugo é suave, meu fardo é leve. “Sem mim nada vocês poderão fazer.”
No conflito entre Marta e Maria, Jesus mostra que Maria escolheu a melhor parte. Com isso não significa que Jesus esteja desprezando o trabalho, sempre necessário, mas está indicando o momento motivador para o trabalho. Toda oração deve está orientada para a comunhão com Deus na busca de realizar a sua vontade.
A oração será sempre uma necessidade: Vigia e orai, não sabeis o dia e a hora. Quando Jesus conta a parábola do juiz e da viúva é para mostrar a necessidade de orar sempre, sem desanimar. Como Jesus, que rezava em todos os momentos de sua vida, assim também devemos tê-la como atividade fundante de caminhada.
O silencio é condição fundamental para a nossa oração, por isso, devemos educar-nos de novo para as experiências de deserto, sempre benéficas para o encontro com o Senhor.

pebosco

7 de julho de 2010

VOTAR

Quando chega o tempo das campanhas politico-eleitorais, as relações humanas ficam muito complexas e aumentam muito as dificuldades nas comunidades por causa das diferentes concepções.

A população como um todo, está tomada por uma grande descrença. Do ponto de vista da pratica, com razão! A experiência que se vai tendo dos homens da política, de fato, causa decepções. Sabemos que quase sempre o jogo é este: são promessas que nunca serão cumpridas.

O que seria viável na vida política? Que os políticos aprendessem a dizer: Não. Eles dizem sim a tudo e a todos, consequentemente, nada poderão realizar.

O comportamento e o modo relacionar-se dos políticos ,chateia, irrita, causa as maiores e piores insatisfações.

Um comportamento muito negativo, vindo do eleitor é o de não mais querer votar. A indiferença e a descrença também nada resolvem e nada mudam. O voto continua sendo a arma, da democracia, da linguagem, da participação. Não se pode se retroceder. As grandes viradas da história se dão, também, através do voto. Lembre-se, na África, um preso político, por mais de vinte anos, por defender os direitos do povo negro, hoje, é eleito presidente. As mudanças sempre acontecem pelo voto.

Não seja indiferente! Não seja descrente! Considere as experiências de quem está se apresentando como candidato e faça a sua opção pensando no bem do povo e num futuro melhor para a humanidade.

A vingança não Edifica

Em 16 de outubro de 1890, nascia na Itália uma criança que recebeu o nome de Maria Gorete. Um jovem que tinha muito contato com a família alimentou o desejo de se relacionar sexualmente com ela. Não permitindo, ele a agrediu fisicamente com tamanha violência que a mesma chegou a falecer posteriormente. Antes de sua morte, sendo assistida religiosamente, ela perdoou o seu assassino. Ele cumpriu 27 anos de prisão. Recebeu a noticia de ter sido por ela perdoado e teve um bom comportamento na prisão.
Ao ser libertado, pediu abrigo em um convento e passou a trabalhar como jardineiro. O perdão concedido pela sua vitima foi também concedido pela mãe da vitima, com a qual ele passou a ter contato e realizar visitas, sendo acolhido como membro da família.
No dia 27 de abril de 1947, Maria Gorete foi elevada aos altares como santa, pelo papa Pio XII. Sua mãe esteve presente na canonização da filha. Por desejo do papa, o agressor, Alexandre Serenelli, já aos 80 anos, convertido e jardineiro do convento, também esteve presente naquela solenidade e chora ver o papa ajoelhado diante da imagem daquela que o mesmo teria assassinado. Ela era tão pobre que andava descalça.
Este fato, que parece o mais absurdo para a nossa sociedade que vive hoje este mesma realidade de violência em escala mais vasta, revela para nós a solução para a violência. Só o perdão e a reconciliação são capazes de transformar o coração humano. Como nós perdemos totalmente esta dimensão, parte-se para a justiça com as próprias mãos, alimenta-se o espirito de vingança e, por isso, temos a espiral da violência. A violência gera simplesmente outra vitima. Acabamos fazendo o que estamos combatendo.
Hoje a justiça Restaurativa tem procurado trabalhar algo que ainda deve se propagar em nossa sociedade como alternativa a esta mentalidade de vingança e violência. De forma simplificada trata-se da proposta dos três R:
Aquele que pratica o crime tem que assumir a sua Responsabilidade;
Deve se trabalhar a Reparação do dano;
É necessário trabalhar a Reintegração da pessoa punida na comunidade;
Dentro deste processo, agressor e vitima devem se encontrar em ambiente controlado para tratar da situação e se chegar a uma compreensão para uma convivência pacifica. A proposta é de uma reconciliação que é a pratica mais importante para a vida humana.
Não adianta dizer: eu perdoei. Só a reconciliação é capaz de evitar que uma pessoa seja uma ameaça para a outra. Não significa estabelecer amizade, mas eliminar o perigo de uma nova violência. É claro que este é o maior desafio para os nossos conceitos diante do crime da violência praticada, porem é um caminho humano a ser buscado e, sobretudo de perspectiva cristã.
Quem trilha pelo caminho do ódio, da vingança, da violência, não assimilou a proposta do mestre Jesus que recomenda o perdão e o amor em primeiro lugar aos inimigos.

pebosco

6 de julho de 2010

No mundo das Drogas.

No mundo das Drogas.
Certa vez, um Secretário de Cidadania e Justiça já não mais presente entre nós, participava de um encontro com alunos do curso de Direito. Ele foi questionado sobre as drogas que adentravam nos presídios. Respondeu ao questionamento: “Deixem que eles fumem os cigarrinhos.”.
Esta resposta certamente assusta, deixa preocupação para muitos. Acontece que ouvi de um Juiz de Execuções Penais, muito recentemente, dizer em uma palestra que são duas as coisas que acalmam as prisões: “a visita dos familiares e as drogas.” Nesta lógica, a prisão está tranquila quando a família normalmente está visitando e quando a droga está chegando.
Não podemos nos esquecer: como a vida acontece na sociedade acontece também nas prisões. Como o estado não consegue combater as dragas fora, sociedade, também não consegue combater nas prisões. Ela aparece, está sempre presente. O estado, que tem a responsabilidade de administrar e manter a disciplina não consegue cumprir este papel. Por quais razoes não consegue, cabe ao próprio estado responder.
O mesmo vale para a questão do uso do celular. As reclamações são constantes sobre o uso de celular nas prisões. A imprensa tem divulgado que o crime tem sido articulado do interior de unidades prisionais de segurança máxima. Quando isso acontece, ou a segurança não é máxima ou alguém está facilitando e tirando vantagem da situação.
O acesso de objetos não permitidos na prisão pode ser levado por familiares, mas, não vamos culpar a família para tapar o sol com a peneira, até por que o estado, muitas vezes ao fazer uso da revista, se torna totalmente desrespeitoso para com o ser humano, sendo, as mulheres, as vitimas do desrespeito do estado, submetendo-as a um tratamento desumano.
A grande acusação que o estado faz às mulheres é de levarem dragas e nas partes intimas. Não que isso seja impossível. Mas a droga certamente tem outra porta de entrada já que ela rende muito dinheiro.
O que vai ser feito não se sabe. Sei que muitos crimes são oriundos do mundo das drogas. O vicio que não é crime, mas dependência leva a pratica de muitos outros crimes. O vício alimenta o tráfico. É na prisão, muitas vezes, que começa a dependência. O estado não tem nenhuma alternativa para tratamento de dependentes. A iniciativa que já é internacional é da fazenda da Esperança que faz o trabalho de recuperação de dependência química. Realmente o estado, com todas as suas dimensões, não encara o problema de frente. As condições existem, mas falta a decisão politica para investir e priorizar.

Pe.Bosco



5 de julho de 2010

Prisão: Monitoramento

Está sendo implantado no Brasil o monitoramento eletrônico para presos e presas. Esta iniciativa tem sido aplaudida de pé por alguns setores da sociedade como um grande avanço no sistema prisional. Parece que finalmente foi encontrada a solução para o sistema penal.
A Pastoral Carcerária Nacional tem se debruçado sobre este tema, sem otimismo, por ser conhecedora da gravidade da situação prisional e por ter a consciência que a solução não passa por ai.
Qual é a mais grave situação do nosso sistema penal? É a superpopulação em total ociosidade sem que o estado cumpra a Lei da Execução Penal. Qual a contribuição do Monitoramento para a superpopulação? Nenhuma!
O Monitoramento está chegando para quem está colocando o pé na rua e precisa ser ajudado para fazer a experiência da liberdade. Quem está siando da prisão vai fazendo o aprendizado para ser livre de novo. Neste sentido, o monitoramento, como diz padre Valdir, coordenador da Pastoral Nacional, é um empecilho para o convívio com a sociedade: “Da forma como a lei foi criada, num primeiro momento, ela é um retrocesso, porque foi destinada às pessoas que já tinham direito da progressão de regime. Este já é um direito garantido pela lei. Ao usar o monitoramento, eles são punidos com a discriminação. É uma punição ser obrigado a usar o monitoramento, porque isto dificulta ainda mais a reintegração social. Em qualquer lugar que tiver detector de metal, ele será impedido de passar”.
O monitoramento nesta visão correta do Padre Valdir, acaba sendo uma experiência muito incômoda e fora de propósito. Se a justiça chega à conclusão que está no momento de conceder a liberdade a alguém, esta pessoa não deve mais ficar submetida a uma escravidão que a impede de sair e de chegar. O monitoramento passa a ser um estigma, na visão da pastoral.
A Lei tem um objetivo muito claro: manter homens e mulheres submissos à tutela do estado que realmente não tem o interesse de promover a resoscialização com a dignidade que ela merece.
Os nossos legisladores, em contrapartida, são portadores de uma mentalidade legalista, sobretudo quando se trata da questão prisional. Existe sempre uma campanha da mídia, com o apoio da sociedade, para que se aumente cada vez mais o tempo da prisão como se ela servisse para alguma coisa, aliás, serve para aumentar a criminalidade.
A moral da historia é esta: nada de significativo para promover a vida, o trabalho e a dignidade de quem vai saindo da prisão. O que de fato deve ser feito não se tem a determinação de implantar: o trabalho nas prisões e as penas alternativas. Ninguém tem a ousadia de inovar. A falta de criatividade nos leva a ficar na mesma estrutura. O monitoramento está na mesma estrutura que mantem o preso na prisão.
O sistema superlotado é bom para a receita do estado. Com o monitoramento teremos mais despesas e compras superfaturas. Como nada se perde e tudo se transforma em indústria que gera dinheiro, assim também alguém vai ganhar com a submissão de pessoas ao estigma do monitoramento.







Pebosco.