30 de abril de 2020

A NOVA LEI




30/04/2020
PE BOSCO

Jesus viveu numa difícil situação no seu tempo diante das leis e muito mais das tradições dos escribas e fariseus. Um dos grandes embates entre ele e esses grupos tinha presente a forma de interpretar a lei. Essa realidade incomodou tanto que por vezes pensaram em prender e ou matar Jesus.
Jesus mantinha a ideia muito clara de que a vida deveria estar acima da lei, a lei para proteger a vida, enquanto para os escribas e fariseus, cumprir a lei era mais importante, alguém poderia morrer; se a sua cura  dependesse de um socorro no dia de sábado, não tinha como salvar a pessoa.
Jesus foi duramente criticado por isso. Qualquer pesquisa no evangelho você identifica logo sete milagres realizados por Jesus em dia de sábado. Dentre os citados, dois são sinais do evangelho de João capítulos 5 e 9.
Talvez alguém vá buscar uma explicação. Isso seria objeto de uma pesquisa, mas podemos compreender que não havia tempo específico para rezar, para curar e para sair em missão. Jesus não deixava de atender as pessoas em suas necessidades. Imagino que por isso, muitos encontros dessa natureza aconteciam no sábado.
Para Jesus, como ele mesmo proclamou que o sábado foi feito para o homem, para estar a serviço da vida. As necessidades da vida não dependem de dias determinados.
Também para os nossos dias, não podemos nos esquecer de que as leis não podem nos matar, escravizar e tirar direitos. Quando a lei assim se apresenta, devemos fazer como Jesus: adotar a desobediência. Jesus veio para cumprir verdadeiramente a lei e não a tradição humana dos escribas e fariseus.
A nossa consciência, iluminada pela mensagem de Jesus, deve ser a norma absoluta para as nossas decisões. Tirar a comida na hora da fome, para alimentar o corpo não é crime, é um direito, o direito a alimentação; não cumprir a ordem dos patrões em tempos de pandemia, não é crime, é direito à vida.  Nesse sentido trata-se de uma desobediência evangélica como a de Jesus.
Ele veio para fazer a vontade do Pai e, por isso, enfrentou toda aquela situação que conhecemos para se manter fiel e os seus seguidores entenderam muito bem isso na perseguição da igreja primitiva quando preferiram obedecer mais a Deus do que  às ordens injustas dos homens.

ISOLAMENTO SOCIAL






30/04/2020
PE BOSCO

Estamos hoje no dia 30 de abril. As nossas igrejas estão fechadas desde o dia 22 de março.  Os dias estão sombrios. A situação da saúde no mundo está de difícil compreensão. Cresce com muita rapidez a contaminação do vírus e ao que parece não se sabe como. Por dias seguidos e a cada dia aumenta os números de contagiados e mortos.
Estão jovens, adultos, idosos e ate crianças entre os que morrem. O desespero é imenso para a família que nada pode fazer. Os médicos em algum momento são obrigados a quem escolher para a possibilidade de viver. Uma situação limite jamais esperada.
Médicos e outros profissionais se contagiando, se afastando das funções e ate morrendo, como na Itália, quando muitos padres também faleceram. No Brasil, de forma assustadora cresce dia a dia o numero de pessoas doentes.
O que se propõe como mais eficaz é o isolamento social para preservar ou conter um pouco mais a doença, no entanto, os interesses da economia parecem mais fortes e provocam os gestores públicos. Uma situação tensa. Critica-se o MP quando interpela o estado o estado ou o município para manter o isolamento.
A Paraíba está em tono de 40 dias em isolamento social, mas com as cidades  não levando a serio a proposta. Pessoas na rua e, a cada dia, as cidades sendo atingidas agora são quase 50 municípios atingidos.  Com a notícia da ajuda emergencial de 600,00, o povo perdeu o medo e está superlotando as filas das lotéricas e outros bancos correndo um grande risco de se contaminar nas aglomerações.
Da parte da ciência ainda não temos uma ajuda clara ainda. Só uma vacina certamente combaterá o esse momento tenebroso, claro, com as orações, a confiança e as medidas de segurança prescritas e nem sempre seguidas.
Amanha iniciaremos as orações marianas de maio, devemos rezar com mais perseverança e fé. Ela, em Caná, percebeu que faltava vinho e hoje percebe que nos falta saúde; provoca o Filho e ao mesmo tempo pede as serventes que façam o que ele mandar mesmo que sua hora não tenha chegado.
Assim, invoquemos, na oração, a virgem senhora com o Titulo dos Remédios ou da Saúde para que em breve possamos voltar à vida normal, como se normalizou a festa de Caná.


29 de abril de 2020

FIQUEM VIGIANDO



29/04/2020

PE BOSCO

Encontramos citações bíblicas que nos falam sobre a vigilância. Por exemplo, em Mateus 24,44, o convite para ficar vigiando, como também na primeira carta de  Pedro capítulo 5, 8-9 que trata do mesmo tema.
O tempo em que estamos vivendo é tempo de vigilância. Vigiar não significa ser tomado pelo medo, mesmo que ele em algum momento esteja presente, mas é uma atitude antes de tudo a vigilância. Se o dono da casa soubesse a hora em que o ladrão poderia chegar, ele ficaria acordado. Claro que aqui se trata de uma imagem conhecida para falar de uma realidade de nossa vida.
O ladrão é aquele rouba não só bens, mas esperanças, sonhos, desejos de fazer o bem, etc. o papa Francisco tem lembrado para que não roubem a nossa esperança. Vigiar é confiar e ter a certeza de que não vigiamos sozinhos mesmo que o deserto da vida seja grande. Vigiar sem contar com a presença de Deus é não poder vencer. Ninguém vence com as próprias forças.
Nesse momento inesperado que estamos vivendo com a pandemia que agora cresce no Brasil e que nos assusta como vamos fazer a vigilância e o que ela significa para nós?  A vigilância não pode ser voltada apenas para nós e nossas necessidades, mas devemos ajudar os outros para que tenham essa compreensão. Vigiar significa nesse momento se cuidar, não se expor sem necessidade é convencer os outros que também se protejam. Estamos diante de uma grande ameaça para a vida humana.
Os estados e países não estavam vigiando em relação à saúde do todos nós. Parece algo como na parábola das virgens prudentes e imprudentes; quando as imprudentes foram ao encontro do óleo não deu mais para participarem da festa. O noivo chegou primeiro. Mateus 25, 1 e seguintes.  Na verdade, a pandemia chegou primeiro também.
A vigilância tem a ver com prontidão e, nesse caso, somos de uma cultura para o depois eu faço e depois eu vejo. Com isso podemos perder muito. Devemos ter mais cuidado. Até mesmo nos descuidamos da saúde deixando para depois. Quando nos atrasamos perdemos o vôo ou o ônibus que já passou.
Fiquem vigiando nos diz o Senhor!


28 de abril de 2020

O PAI MISERICORDIOSO




28/04/2020
PE BOSCO
Quem é Deus para muitas pessoas? Talvez essa seja uma pergunta muito difícil. Ouvir falar de Deus sim, mas per a experiência com Deus, a partir da pessoa de Jesus, provavelmente muitas pessoas tenham dificuldades.
Fala-se de Deus quase sempre na dor, com confiança, ou com reclamações. Esperando um milagre ou reclamando por que o milagre não aconteceu. A experiência de muitas pessoas também está para além daquilo que a revelação nos apresenta a respeito de um Deus cheio de bondade.
Para uma compreensão positiva sobre Deus, basta olhar o capítulo 15 de São Lucas, sobre o pai misericordioso que tem dois filhos. O mais novo, mais impulsivo, pede logo a herança; o mais velho que não sai de casa. Bom relembrar logo que representamos esses dois filhos. Eles significam duas atitudes de todos os tempos.
Abandonar o pai com a herança foi a atitude do mais novo e, fechar-se para o pai e o irmão mais novo, foi a atitude do mais velho.
O filho mais novo, depois que acabou com toda riqueza, quando não tinha sequer o que comer, resolve voltar para a casa do pai e lhe pedir o perdão.
Diante da festa para recepcionar o filho mais novo, o mais velho, que sempre pareceu um bom filho, manifesta a sua ira e indiferença. Assim se percebe que ninguém é bom totalmente, isto é, cada pessoa carrega consigo as suas deficiências. Como bem diz o nosso povo, não há bom sem defeito. Como disse Jesus, só Deus é bom. Por que me chamas de bom? Marcos 10,17.
O filho mais novo, que na parábola pode ser considerado o pecador, mostrou a sua capacidade de voltar, ter humildade, e, assim, foi reintegrado como filho e não só como empregado como pretendia.
O filho mais velho, depois de tanta insistência do pai, o texto da a entender que ele não foi capaz de ceder aos apelos do pai. Permaneceu no seu pecado. O pecado só existe, enquanto existe a ira e o coração fechado para a graça de Deus.
Na realidade, o centro da parábola não está nos filhos pecadores, que somos nós que constantemente assumimos essas posturas, mas está no pai, que tudo faz para não perder nenhum dos seus filhos.
Qual a consciência que existe em mim e em você a esse respeito?
Como temos nos comportado diante do Pai?

NASCER DE NOVO


PE BOSCO

27/04/2020


Nicodemos, um mestre em Israel. Pouco se sabe sobre ele nos evangelhos. 
No evangelho de João capítulo 3 Nicodemos vai ao encontro de Jesus durante a noite. Acontece um diálogo bonito sobre a vida nova, nascer de novo, uma catequese para o nosso batismo.
Nascer de novo era compreendido por Nicodemos do ponto de vista biológico. Para Jesus significava nascer do alto, isto é, do ponto de vista da comunhão com Deus, da vida espiritual, da água e do espírito, os dois elementos principais do nosso batismo. Você é mestre, disse Jesus, e não sabe ou não compreende? Isso mesmo, essa compreensão não passa pela cabeça, mas pelo coração. Quantas vezes pensamos que nada temos a mudar em nossa vida.
Viver orientado pela carne, pela mentalidade deste mundo com tudo o que ele implica e viver orientado pela vida divina, segundo a vontade de Deus. Este é o grande e o maior de todos os desafios postos por Jesus para ter uma vida cristã.
Entre outras mensagens, certamente o evangelista quer nos mostrar que não basta ser mestre, ter sabedoria humana, para compreender os desígnios de Deus, mas ter abertura de coração para o que está no além da nossa vida e até da nossa compreensão. Jesus já nos tinha anunciado que aos sábios e entendidos Deus não revelou os mistérios do seu reino.
Na mensagem de Jesus, nascer é morrer. É dando que se recebe. Abrir mão, esvaziar-se, relativizar o que temos neste mundo para centrar a vida no essencial que é o próprio Deus.
O próprio Jesus, sem perder de vista, em nenhum momento, a real situação da pessoa humana, deixou a sua união com o Pai, pela vida de oração.
Nascer de novo deve ser um movimento permanente, como a nossa respiração. Ter um referencial, a verdadeira fonte da vida que nos faz perceber a direção que devemos seguir.
Não poderá fazer parte do reino de Deus anunciado por Jesus, levando em conta a mesma vida, sem transformação, sem verdadeira conversão, sem comunhão com Deus e o próximo.
Nascemos do útero da mãe e nunca mais retornaremos a ele. Nascer de novo é sempre seguir, superando o passado para assumir um novo momento que Deus nos oferece.


27 de abril de 2020

ZAQUEU




27/04/2020

PE BOSCO

Um homem rico, desonesto, odiado. A sua profissão de chefe dos cobradores de impostos.  Os cobradores usavam a força da polícia junto a eles para cobrarem o que eles queriam.  Quando os soldados foram perguntar a João Batista o que deveriam fazer ele respondeu que não usassem de violência e nem defraudassem ninguém. Lucas 3, 14.
Enquanto Jesus passava ele sentiu um desejo de poder conhecer Jesus. Lucas 19. Era de baixa estatura e, por isso, subiu numa árvore para poder ver quando Jesus passasse. Tudo pode acontecer a partir de um desejo, de um sonho. Quando não alimentamos mais as nossas utopias, fica difícil que algo aconteça. O desejo, ou a curiosidade de Zaqueu valeu à pena.
Ao se aproximar, Jesus se dirige a Zaqueu para que descesse depressa para receber Jesus na sua casa. Lucas usa sempre esse tema da pressa para que não se perca o tempo da graça.
Zaqueu, tomado de alegria, reúne seus amigos em casa com Jesus para uma refeição. Bom lembrar que a refeição era sinal de comunhão, de intimidade. A mesa tinha esse significado, por isso, os fariseus ficaram indignados.
Aquele encontro faz com que Zaqueu mude de vida, se converta. A conversão não pode ser de boas intenções, mas objetiva.  Não se sabe como, mas ali, Zaqueu resolveu dar a metade dos seus bens aos pobres. O que Jesus teria dito naquela refeição? Zaqueu se sentiu tocado por algo interessante? Além disse, ainda assumiu mais um compromisso, se cobrou a mais nos impostos, devolverá quatro vezes mais. Diz o texto que ele era muito rico. Na realidade, não existe conversão a Deus sem um grande e verdadeiro desapego. Desapegar-se é desfazer-se. Desfazer-se do dinheiro é o que de mais difícil existe sem uma grande mudança de vida.
Diante dessa abertura, Jesus reage dizendo que naquele momento a salvação entrou naquela casa. Salvação  é sinônimo de adesão a Deus e ao seu reino. O mundo de Zaqueu, como chefe dos cobradores, era certamente o dinheiro.
Certamente aqui existem duas coragens, a de Jesus, de ir ao seu encontro e reconhecer o seu gesto, e a coragem de Zaqueu em tomar essa iniciativa.
O que nos diz essas atitudes?

26 de abril de 2020

COMO REZAR


26/04/2020
PE BOSCO


Dois homens sobem ao templo para rezar, como todos fazem em todos os tempos. Quem procura um templo reza de alguma maneira. Elevam a sua alma a Deus como nos informa o catecismo da igreja quando fala sobre a oração.
Um era fariseu e outro publicano. Lucas 18,9-17 narra o acontecido. A parábola tem presente quem se confiava em si mesmo e desprezava os outros. Os dois personagens no templo vão retratar essa realidade.
O fariseu reza em pé. Deus deve estar no centro de nossa oração, mas no caso do fariseu que reza, ele mesmo é o centro de sua prece. O seu eu é o centro e o ponto de partida do seu diálogo com Deus. O seu dar graças a Deus é pela sua bondade e não pela bondade de Deus. Ele se auto elogia pelo que faz e se julga bom julgando o pecador. O senhor recomenda para não usar muitas palavras na oração, mas ele não leva em conta essa recomendação.
O pecador não tinha motivos para se erguer, tinha consciência de seus pecados, por isso rezou em atitude de prostração e de uma palavra muito curta que põe o próprio Deus no centro de sua prece. Ele se reconhece pecador e pede ao Senhor que dele tenha piedade.
O segredo da oração não está em tantas palavras. No sermão da montanha o Senhor já havia dito que não há necessidade de tantas palavras uma vez que Deus já sabe do que necessitamos.
O resultado dessas orações: o fariseu não foi escutado pelo fato de se ter exaltado; o publicano por se ter humilhado, foi ouvido na sua prece. Umas das conclusões: não basta rezar, mas definir os motivos pelos quais é feita a oração.
Em nossas igrejas existem infinitas expressões de oração. Para que e para quem estamos rezando? A oração pode nos acomodar nos justificar, mas também nos conduzir para a luta. Ora et labora. A oração nunca foi uma fuga do mundo, mas  força para nos conduzir, como aconteceu a Jesus. A sua oração no horto foi o momento mais decisivo para seguir levando a cruz. A oração não é uma brincadeira, mas o alimento que nos empurra para seguir e decidir entre a nossa vontade e a do próprio Deus que nos chama.
Rezar se sentindo melhor que os outros nos põe muito distante de Deus. 

CRISTO

O EVANGELHO E SEUS TESOUROS

26/04/2020
PE BOSCO




A VIDEIRA

No capítulo 15 de São João Jesus conta a parábola da videira e dos ramos. A imagem é tirada do campo. Fantástica. A videira é o Filho, o Pai é o agricultor e o povo de Deus compõe a videira sendo realmente os ramos.
A beleza da planta está nos ramos e, mais que a beleza, os frutos, em muitas delas, surgem nos ramos. É verdade, porém, que a videira depende daquele que cuida. Sem o cuidado, a colheita pode se perder.
Nesta imagem está contido o que a igreja precisa ser na sua existência e na missão. É a mesma imagem do corpo conforme a carta  de 1 coríntios 12.
Quando se escreve um texto, se tem a preocupação de não repetir as palavras. Jesus ao contrário, através do evangelho de João faz questão de repetir por vezes é o verbo permanecer. Condição para dar fruto é permanecer ou estar unido ao próprio Cristo. Quem não dá fruto o Pai o corta. A nossa condição é produzir frutos como a videira. Quem dá fruto o Pai o poda para que produza mais fruto ainda.
Não poderíamos ter uma imagem mais significativa do que está para bem compreender como deve ser a nossa união com Cristo, como algo inseparável em nenhum momento. O pecado nos separa e para o nosso retorno temos a reconciliação. Não permanecer significa secar e ser lançado fora, versículo 6.  Unidos a ele podemos pedir o que desejamos e será atendido, versículo 7.
Entre todas essas pérolas, uma de grande valor para a vida pessoal, familiar e pastoral é de que sem ele nada poderemos fazer, versículo 5. De fato, como igreja, quantas vezes cada pastoral quer fazer tudo sozinha, sem a igreja, sem as outras pastorais, perdendo, assim, a dimensão de corpo e de videira, e, mais graves, ainda, sem perfeita comunhão com Ele. Consideremos que cada serviço eclesial seja um galho dessa grande videira que jamais produzirá vida sem a comunhão com a própria videira.
A consciência de ser ramos muda totalmente a visão que podemos ter sobre os outros e sobre o nosso agir pastoral.

BEM AVENTURADOS

O EVANGELHO E SEUS TESOUROS
26/04/2020
PE BOSCO

BEM AVENTURAS


Nos capítulos 5 - 7 de Mateus nos deparamos com o Sermão da Montanha. Trata-se do ensinamento da nova lei. Jesus abre o seu sermão fazendo uma bela apresentação sobre a felicidade. O que significa ser feliz?
A maior felicidade em todos os tempos é ser rico de bens materiais. Em toda a história da humanidade o egoísmo fez com que o ser humano pensasse no seu bem estar imediato.
La no Édem, na criação, o pecado de Adão e Eva consistiu em desobedecer a Deus para que deixassem de serem criaturas e se tornassem iguais a Deus.
No deserto o povo blasfemou contra Deus com saudade das panelas de carne. Entre liberdade e escravidão, estavam preferindo a escravidão ao lado das comidas.
 Poderíamos lembrar vários exemplos de como ser feliz é ter muitas riquezas. Ate nas tradições do povo de Deus ter muitos anos, muitos filhos e muitos bens eram sinais da proteção de Deus e o contrario era maldição. 
Jesus aparece na montanha e apresenta a verdadeira felicidade. Ser feliz para ele é tudo o contrario do que se pensa no mundo. 
Os pobres; os que choram; os mansos; os famintos e sedentos de justiça; os misericordiosos; os puros de coração; os que promovem a paz; os que sofrem perseguição e os que forem injuriados. 

As bem aventuranças se constituem como:
Uma escada com nove degraus;
Um caminho de santidade cristã.

Quem segue o caminho da pobreza e da perseguição já possui o reino dos céus. Quem segue as demais alternativas herdará o reino dos céus. Jesus nos põe diante de uma felicidade completamente diferente. Fazendo um paralelo com o camponês que teve uma grande colheita e pode armazenar tudo, muito feliz, morreu naquele mesmo dia. A felicidade que Jesus nos oferece se conquista numa luta neste mundo e se plenifica na eternidade.
Para ter a verdadeira felicidade só existe um caminho que é seguir a mensagem daquele que foi O bem aventurado Jesus.

COMO COLOCAR NA PRÓPRIA VIDA CADA UMA DAS 9 BEM AVENTURANÇAS?

25 de abril de 2020

EMAÚS

NO CAMINHO DE EMAÚS.
25/04/2020
PE BOSCO


Em Lucas 24 encontramos a cena do caminho de Emaús. Um lugar que lembra desencanto e ânimo. Desencanto porque os dois não tinham noticias da ressurreição já no final da tarde do domingo e os dois decidiram abandonar Jerusalém, muito desanimados. Isso eles vão conversando no caminho. O que aconteceu a eles muita gente já experimentou. Desistir do trabalho, do casamento, da missão e ate da própria vida. É o famoso desencanto, perder o elan. 
Bom recordar quantas vezes já nos sentimos assim.

Enquanto seguiam pelo caminho, um terceiro peregrino os acompanha e entra na conversa, procurando entender de que eles estão tratando. Ao longo de todo o trajeto os três dialogam. Eles estavam muito atordoados com o impacto da morte que não entendem a leitura feita do fato iluminado pelas escrituras, como também não perceber ou reconhecem aquele que caminha com eles.
Em momentos difíceis de nossa vida, o Senhor andou caminhando ao nosso lado e não percebemos.

Chegando a Emaús já é noite. Um detalhe muito importante. O peregrino é convidado a ficar com eles. Fica conosco! Ele aceita o convite e se revela na partir o pão. Uma vez manifestado, o Senhor desaparece, pois já conseguiu reanimar os dois peregrinos. É nesse momento que eles conseguem fazer a leitura da conversa pelo caminho. Não tinham clareza alguma, mas reconhecem que o coração ardia pelo caminho ao ouvirem as escrituras. Escutar, convidar o Senhor, sentar para a ceia. Assim realizamos o nosso encontro com Jesus.
A noite não existe mais; o caminho para Jerusalém não será mais pesado. A noite estava dentro deles. Retornaram com muita alegria para darem a noticia aos demais. Seria um “furo de reportagem”, no entanto, o Senhor já havia aparecido também ao demais. Nesse momento partilharam suas experiências com a presença do Senhor.

Tantas mensagens poderemos colher dessa meditação, a mais importante é a certeza de que não estamos sozinhos.

ELE CAMINHA CONOSCO!

PÃO VIVO


PÃO PARTILHADO

25/04/2020
PE BOSCO

O belíssimo texto da multiplicação dos Pães no evangelho de João no capítulo seis nos traz uma nobre mensagem. Trata-se de um dos sete sinais. O sinal tem função maior que o milagre. O milagre se encerra em si mesmo, não traz mistério, se apresenta. O sinal aponta para uma realidade maior. No Caso, aponta para o próprio Jesus, o pão da vida. O pão material acena para o pão do céu.
Quando se pensa em multiplicação se pensa em ter mais, ganhar mais. Na multiplicação dos Pães é o contrário. É para dividir. Pão não é para ser guardado, mas partilhado. Todas as vezes que o pão é partilhado todos se alimentam e sobra ainda. A fome no mundo não é por falta de pão, mas por causa do egoísmo da humanidade. Quando Dom Helder falava do ano dois mil sem miséria, tinha presente exatamente isso.
Em João seis é fundamental o papel de Jesus. Ele vê a multidão com fome; provoca Filipe; organiza os grupos; valoriza quem leva pão consigo; abençoa o pão. Cf, Dia a Dia com o Evangelho.  Por trás de cada verbo está uma pedagogia para a missão evangelizadora da igreja.
Multiplicar para poder dividir com os demais.

24 de abril de 2020

PROFETAS


A PROFECIA

23/06/2018
PE BOSCO

A profecia faz parte da história do Povo de Deus. Junto aos reis escolhidos para governar o povo, sempre está a presença da profecia para ajudar quem governa a não se desviar do caminho.
A profecia é uma vocação. Nenhuma pessoa será profeta sem o chamado de Deus. O termo profeta significa a Boca do Outro, isto é, se trata de alguém que só poderá anunciar a mensagem que for dita pelo outro. Deste modo, jamais o profeta ou profetisa poderá falar em nome de Deus, algo que foi recomendado pelo próprio Deus.
Do convite para ser profeta não se pode fugir: todos nós nos recordamos da imagem do profeta Jonas que diante do convite de Deus para pregar aos ninivitas, tentou fugir para se distanciar e não cumprir a missão, mas foi obrigado a retornar para percorrer a cidade de Nínive.
A profecia tem duas frentes: o anúncio e a denúncia. Profetizar não é anunciar coisas futuras como algumas pessoas pensam, mas ser sinal de esperança, denunciando tudo àquilo que contraria o reino de Deus, mesmo que lhe custe a própria vida.
Jeremias é o profeta das lamentações. O seu sofrimento foi tão intenso que ele condenou até o dia do seu nascimento, pela perseguição que enfrentou. Jeremias 20,14.
O povo cristão é um povo profético por natureza. Na tríplice vocação batismal está a profecia, ainda desconhecida ou conhecida e não assumida pelo medo das represálias como conseqüência.
Impressiona que muitas pessoas se apresentam como cristãs, mas rejeitam os profetas quando chamam a atenção para a proposta do reino de Deus. Os profetas da bíblia e os profetas de hoje quando procuram desempenhar a  missão a que foram chamados, são perseguidos automaticamente. Quem como Jesus, toma o partido dos fracos será sempre acusado e perseguido por aquelas figuras que entendem ou querem a religião que se torna o ópio do povo como dizia Marx.
Perto de nós conhecemos figuras como Helder Câmara, Pedro Casaldáliga, Oscar Romero, entre tantos nomes de padres, leigos, religiosas e religiosos, que por causa da defesa da vida, foram perseguidos e mortos  só porque quiseram, como Jesus, que as condições de vida fossem as mesmas para todas as pessoas. 
Jamais poderemos rejeitar os profetas. Jerusalém foi chamada a atenção por matar os profetas - Mateus 23,37; a igreja precisa da profecia e deve levá-la em conta, acolhendo os questionamentos e discernindo os sinais dos tempos.
Nos dias de hoje o povo batizado como também a igreja como um todo deve ser cada vez mais profética uma vez que a vida humana está cada vez mais ameaçada. Um grito pela vida será um grande gesto profético diante do sofrimento causado por aqueles que governam o nosso povo. 
Como a fé a vida não se separam, não se vive sem rezar e não se reza sem viver o que a oração nos propõe, por isso, para  anunciar o reino se faz necessário denunciar o pecado.


MISSÃO


MISSÃO

EM 20/03/2019
PE BOSCO



 A   atividade   missionária   de   Jesus   tinha   presente   o   Reino   de   Deus   e   sua   Justiça,conforme referência do  Evangelho de Mateus.  Assim está  presente no sermão da montanha.   Jesus   percorria   cidades   e   povoados,   pregava   nas   casas,   depois   que abandonou a sinagoga, mostrando, assim, um modelo de missão itinerante, indo ao encontro das pessoas. A sua primeira pregação foi: “Convertei-vos porque o reino de Deus está próximo”. Ainda em Lucas, ao inaugurar a sua missão na sinagoga, Jesus Deixa muito claro o caminho da sua missão: Libertar a todas as pessoas dominadas pelas  estruturas  de  poder   do   seu   tempo.   Assim   Jesus   fala  para   que   foi   enviado:anunciar a boa nova aos pobres; anunciar a libertação aos presos; a recuperação da vista aos cegos; dar liberdade aos oprimidos e anunciar o ano   da graça do Senhor.Lucas 4. Essa passagem tomada do profeta Isaías trás consigo a proposta de Deus para os mais necessitados que é serem promovidos em sua dignidade, tratados como filhos seus e acolhidos como imagem do próprio Deus. Jesus tem muita clareza da sua missão e  a apresenta com muita firmeza, fazendo oposição a todo um sistema religioso que optou pela sua morte. Depois de sua Paixão e Morte, já glorificado, Jesus envia aqueles que ele chamou para irem pelo mundo inteiro. A missão tem um caráter universal, devendo acontecer no mundo cheio de preconceitos e contradições. Coragem, eu venci o mundo. O mundo foi o campo da atuação missionária de Jesus. Claro que ele não era do mundo, mas assumiu na   sua   carne   todas   as   contradições   e   limites   para   libertar   o   mundo   de   todas   as maldades e pecados. Com sua encarnação o céu veio para a terra, mostrando mais uma vez que o mundo é obra de Deus. A igreja, enviada por Jesus, tem a tarefa de anunciar a vida de Jesus e sua missão. Sejam minhas testemunhas. O papa Francisco, inspirado pelas palavras do Santo Evangelho, da ênfase às palavras do próprio Jesus para que a igreja se sinta encorajada a ir ao mundo. A igreja tem que ser uma igreja que sai, pois este é mandado do Senhor; ir às periferias como fez o próprio Jesus nas vilas casas e povoados. Uma igreja que se faz presente na vida das pessoas (pobre, doentes, marginalizados, moradores de rua, prisioneiros, etc.). A igreja que somos nós, o povo de Deus, será julgada pela caridade que fez ou deixou de fazer. Tudo acontecerá em torno de uma vida prática, solidária, com os mais abandonados: fome,  doença,  sede,  abandono, veste,  acolhimento.   Tudo  o  que   vocês fizeram   ao menor dos meus irmãos foi a mim que o fizeste. Mateus 25. A surpresa poderá ser grande quando  os   tidos   como   não   religiosos,   mas   caridosos,   estiverem   sendo recepcionados   para   o   banquete   eterno.   Na  história   da   Igreja,   Evangelização   e Promoção  Humana  jamais poderão  se separar,  pois assim  Jesus viu  a  sua  missão. Enquanto dizia: “Teus pecados estão perdoados, dizia também, levanta-te e anda”. Jamais se pode fazer uma evangelização com eficácia, deixando de lado as situações humanas das pessoas que precisam ser evangelizadas. O pão da palavra, o pão da eucaristia o pão para o corpo estão intimamente ligados, que separá-los é anular a essência da vida cristã.

SAÚDE

SAÚDE, 
MESMA REALIDADE.



JAN 2011
PE BOSCO

Para que uma população tenha vida digna é necessária a existência de três colunas: a saúde, a educação e o trabalho. A saúde é a condição básica para as demais e, deveria ser a prioridade do estado brasileiro. Não adianta dar tanta ênfase ao aumento da média de vida da população se o estado não tem o suporte suficiente para a assistência a uma população idosa.
Existe um grande conflito entre os dados oficiais e a realidade de cada lugar. Os estados investem alto em propaganda para mostrar o funcionamento e a qualidade do atendimento nos hospitais. Quem não se lembra da maravilha a respeito da saúde aqui em nosso estado? A propaganda nos remetia a um atendimento de primeiro mundo, mas na realidade, tudo estava voltado para um período de propaganda eleitoral.
Aquela máxima de que a medicina é um sacerdócio, tem deixado a desejar. Um atendimento médico só funciona um pouco melhor se o dinheiro chegar primeiro. Uma deixar um paciente em um hospital fica primeiro um cheque de dez mil reais. Mesmo assim, não se tem um atendimento de boa qualidade. A relação médicos, enfermeiras e pacientes é a mais fria e desumana possível. A pessoa da família que está acompanhando o paciente precisa ter a coragem de gritar para que chegue o médico numa situação de emergência.
O Serviço Único de Saúde é a maior farsa que já se criou neste país. Ele representa o sofrimento, o abandono e a morte dos pobres. As filas estão aí e a qualidade do atendimento. As pessoas morrem nos corredores dos hospitais ou de hospital em hospital sem serem recebidas para um atendimento. Considero o que de mais grave existe neste país, a falta de assistência à saúde por causa da inércia do estado. Veja a dependência das drogas é um caso de saúde publica, mas não levada em conta em lugar nenhum do nosso país.
A nossa pastoral carcerária perdeu um de seus membros na diocese de Cajazeiras. Com um problema cardíaco, lutava para uma intervenção cirúrgica. Fui com ele a uma consulta ao médico que faria a cirurgia. Ouvi do próprio médico que o mesmo aguardasse em casa que ele seria chamado quando o hospital dispusesse do material. O tempo de espera foi muito mais de um ano e não havia outra solução além da cirurgia. Ele nunca foi chamado e veio a óbito no início deste ano. Esta é a qualidade da saúde e do atendimento para quem é pobre. Não adianta apresentar um país em desenvolvimento financeiro se continua tratando a população naquilo que de mais sagrado existe que é a vida.
Os hospitais e clínicas se tornaram uma fonte de renda com a circulação de bastante dinheiro. Esta uma realidade visível aos olhos de todos. Os convênios com o ministério da saúde os recursos não chegam a serem aplicados devidamente.
Nosso estado tem um PSP( Programa de Saúde nos Presídios), parceria com o Ministério da Saúde e o Ministério da Justiça. Em nenhuma das unidades prisionais do nosso estado: Roger, Guarabira, Campina Grande, isso tem funcionado dentro do plano previsto.
Não dispomos de dados para dizer que a saúde está com saúde. Quando os nossos estados tratarem dessa questão com a devida competência e responsabilidade, apresentaremos a outra realidade.


SEGURANÇA PÚBLICA

SEGURANÇA PUBLICA

24/04/2020
PE BOSCO

Em tempos de pandemia essa grande crise tanto na saúde como na segurança agora é algo muito grave e preocupante. Não existe clareza nenhuma sobre o futuro do país. O nosso Brasil não é um país pequeno mas continental com tantos desafios de todas as dimensões. a situação do Brasil requer uma equipe de governo muito afinada entre si e com o presidente da Republica que deve decidir numa linha de escuta pelo fato de ninguém possui bola de cristal. A crise institucional parece se tornar grande. O Moro diz deixar o ministério por ingerência e por falta de palavra do presidente.
Cada ministro normalmente tem suas pretensões politicas até partidárias mais que politicas que devem ser pensadas com certeza para o futuro. Tanto na saúde quanto na educação, o conflito foi criado pelo presidente da Republica  pelo que se pode acompanhar. da parte dos ministros prevaleceu talvez as convicções ou mais que isso as vaidades pessoais. Não se sabe. A capacidade do gestor certamente está em jogo. Agora é aguardar quais são as cenas da próxima novena. O lamentável é o sofrimento e as mortes que acontecem no Brasil. Na instabilidade e na desarticulação das forças governamentais, o vírus não será vendo.

ABORTO

DEFESA DA VIDA

24/04/2020
PE BOSCO

Mais uma vez um tema indiscutível está em pauta em meio à grave situação da pandemia: trata-se do aborto.
Um assunto dessa gravidade jamais deveria ser pensado em hipótese alguma, oito menos ser aprovado.
A igreja do Brasil tem feito a defesa da vida em todos os momentos que esse tema reaparece e assim fará sempre.
Como é possível pensar em interromper a vida de um ser humano que não tem nenhuma defesa? Como uma mãe que tem a consciência ou deveria ter, se submete a situação tão criminosa? Muitas ficam marcadas para o resto da vida e não se libertam do passado. Muitas delas foram pressionadas e obrigadas a praticarem o aborto.
A ordem de Deus é “Não Matarás" como todos sabem. No sermão da montanha de Mateus Evangelista, qualquer ofensa ao ser humano é considerada uma violação a este mandamento exatamente por ser vida um dom precioso e só a ele pertencer. Ninguém é dono da vida. Se fosse teria controle sobre ele. Nós vamos vivendo e nos administrando, mas diante do limite da vida não mais conseguimos superá-lo. Nem o controle sobre um vírus não está se conseguindo ter.
Como diante de tantas situações graves do nosso país se retoma essa discussão sobre o aborto?
Isso é décima gravidade sem precedentes. Muitas pessoas estão morrendo não só pelo Convid 19, mas por todas as causas e, sem dúvida, sem assistência por causa do caos na saúde. Como pensar em aborto nesse momento? Quais os interesses? É insanidade? É momento de cuidar da vida. Os que moram na rua; os doentes crônicos; os idosos; os que estão nas favelas; os indígenas; os que estão nas prisões; os adolescentes em conflito com a lei, etc.
Quem não lembra as crianças desnutridas antes da pastoral da criança? Hoje graças ao acompanhamento da pastoral, essa situação foi praticamente superada. É tempo de buscar alternativas para a promoção e defesa da vida e nunca alimentar uma cultura de morte daqueles que não podem se defender.
O tirano Herodes mandou matar todos os meninos que tinham a idade de dois anos
para baixo com a intenção de matar outra criança que para ele era uma ameaça. O nascimento das crianças hoje não constitui ameaça para ninguém, mas motivo para prolongar a vida. Nada de matança, mas proteção.
A grande preocupação mundial hoje é cuidar da saúde. O executivo, o legislativo e o judiciário precisam estar atentos para essa causa que atinge a todos, isto é, aos próprios também.
A ordem continua sendo NÃO MATARÁS!  A vida em primeiro lugar. Aquele que veio para todos tivessem vida, deu a própria vida para que isso acontecesse. Cuidemos uns dos outros, cuidemos das crianças para todas possam nascer e encontrar um mundo melhor.

23 de abril de 2020

ECOLOGIA



PE BOSCO 
PUBLICADO NO CONTRAPONTO

A ecologia tem sido objeto de preocupação pelo mundo inteiro. Têm-se fala muito sobre a destruição da natureza em todos os sentidos. Essa destruição já traz as suas conseqüências visíveis através do desequilíbrio na natureza.
Aproveito a oportunidade desse importante espaço para publicizar a reflexão do papa Francisco sobre a ecologia integral.
Veja o que se segue:
O coração da proposta da Encíclica é a ecologia integral como novo paradigma de justiça; uma ecologia «que integre o lugar específico que o ser humano ocupa neste mundo e as suas relações com a realidade que o circunda» (15). De fato, «isto os impede de considerar a natureza como algo separado de nós ou como uma mera moldura da nossa vida» (139). Isto vale, por mais que vivemos em diferentes campos: na economia e na política, nas diversas culturas, em particular modo nas mais ameaçadas, e até mesmo em cada momento da nossa vida cotidiana.
A perspectiva integral põe em jogo também uma ecologia das instituições: « Se tudo está relacionado, também o estado de saúde das instituições de uma sociedade tem consequências no ambiente e na qualidade de vida humana: “toda a lesão da solidariedade e da amizade cívica provoca danos ambientais” » (142). Com muitos exemplos concretos, o Papa Francisco reafirma o seu pensamento: há uma ligação entre questões ambientais e questões sociais e humanas que nunca pode ser rompida. Assim, « a análise dos problemas ambientais é inseparável da análise dos contextos humanos, familiares, laborais, urbanos, e da relação de cada pessoa consigo mesma » (141), enquanto «Não há duas crises separadas, uma ambiental e outra social, mas uma única e complexa crise sócio-ambiental» (139).
Esta ecologia integral «é inseparável da noção de bem comum» (156), a ser entendida, no entanto, de modo concreto: no contexto de hoje, no qual «há tantas desigualdades e são cada vez mais numerosas as pessoas descartadas, privadas dos direitos humanos fundamentais» comprometer-se pelo bem comum significa fazer escolhas solidárias com base em «uma opção preferencial pelos mais pobres» (158). Esta é também a melhor maneira para deixar um mundo sustentável às gerações futuras, não com proclamas, mas através de um compromisso de cuidado dos pobres de hoje, como já havia sublinhado Bento XVI: «para além da leal solidariedade entre as gerações, há que reafirmar a urgente necessidade moral de uma renovada solidariedade entre os indivíduos da mesma geração» (162).
A ecologia integral envolve também a vida diária, para a qual a Encíclica reserva uma atenção específica em particular em ambiente urbano. O ser humano tem uma grande capacidade de adaptação e «admirável é a criatividade e generosidade de pessoas e grupos que são capazes de dar a volta às limitações do ambiente, [...] aprendendo a orientar a sua existência no meio da desordem e precariedade» (148). No entanto, um desenvolvimento autêntico pressupõe um melhoramento integral na qualidade da vida humana: espaços públicos, moradias, transportes, etc. (150-154).
Também «o nosso corpo nos coloca em uma relação direta com o meio ambiente e com os outros seres vivos. A aceitação do próprio corpo como dom de Deus é necessária, para acolher e aceitar o mundo inteiro como dom do Pai e casa comum; pelo contrário, uma lógica de domínio sobre o próprio corpo transforma-se numa lógica, por vezes subtil, de domínio sobre a criação» (155). Encíclica LAUDATO SI.

MISERICÓRDIA

Ano da Misericórdia



FAÇA ISTO E VIVERÁ. Lc. 10,28

14/06/2016
PE BOSCO


1.      Pensando a misericórdia.

Este ano de 2016 tem sido muito comentado por ser o Ano da Misericórdia. Expressão que tem sido muito repetida por todas as pessoas, sem nos perguntarmos sobre o que é, o que significa e quais as suas conseqüências e obrigações.
Numa simples pesquisa em “significados.com. br”, já identificamos importantes conteúdos sobre o tema.
“Misericórdia é um sentimento de compaixão, despertado pela desgraça ou pela miséria alheia”. A expressão misericórdia tem origem latina, é formada pela junção de miserere (ter compaixão), e cordis (coração). "Ter compaixão do coração" significa ter capacidade de sentir àquilo que a outra pessoa sente, aproximar seus sentimentos dos sentimentos de alguém, ser solidário com as pessoas.
Misericórdia! É uma exclamação usada quando nos deparamos com uma situação de desespero, de sofrimento. É também um grito de quem pede compaixão.
“Conceder misericórdia a alguém é perdoá-la pelo simples ato de bondade, apesar do outro não merecer o perdão”.
De imediato, podemos perceber que a misericórdia pode ser uma atitude que se faz presente no coração de todo e qualquer ser humano capaz de sentir o que acontece na vida do seu semelhante.  Também chama a nossa atenção que a misericórdia, nessa perspectiva, é um atributo exclusivo de Deus: trata-se do seu coração que se compadece da nossa miséria.  É o amor de Deus que se move em si mesmo e toma a direção do ser humano em suas fragilidades.
Esse agir de Deus não depende do nosso agir ou do nosso mérito. Se assim o fosse, jamais alcançaríamos esse dom. Não o amamos primeiro, pois Ele toma sempre a iniciativa por primeiro. Deus que vem ao encontro do ser humano a ponto de se tornar semelhante a nós em tudo menos no pecado. A encarnação do verbo é o ponto ápice da misericórdia: Deus arma a tenda entre nós, torna-se eternamente aliado e próximo.
Assim, para pensar a misericórdia, devemos reelaborar tudo aquilo que pensamos a respeito de Deus. Como vamos compreender a misericórdia quando imaginamos um Deus que castiga, se vinga, e pune? Como pensar a misericórdia quando justificamos e até consolamos as vítimas da injustiça, assegurando que aquele sofrimento é a vontade de Dele, e, que devemos sofrer com paciência?
Como falar de misericórdia quando responsabilizamos a Deus por todos os malefícios pessoais e comunitários? Se Deus é misericórdia, porque acontece tudo isso? Deus é um indiferente? 
A visão que ainda persiste sobre Deus é desastrosa; seu nome é usado para enganar os outros, para matar, para promover as guerras, para explorar financeiramente as pessoas em suas necessidades e fragilidades. Naquele famoso dia 17 de abril deste ano de 2016, nos recordamos como o nome de Deus foi blasfemado pelos nossos deputados. O nome de Deus foi jogado no lamaçal daquele espaço onde não se tem hoje confiança, só para exemplificar.
Muito do que se diz sobre Deus é tudo aquilo que ele não é pelo fato de não se falar do Deus da misericórdia e da revelação.

2.      A misericórdia é o agir de Deus

Na verdade, a misericórdia é o agir de Deus diante de todas as situações de sofrimento do seu povo. Ao contrário de um Deus ausente, indiferente, Deus é aquele que está tão imanente, quanto transcendente, capaz de ver, ouvir, descer, libertar seu povo da escravidão do Egito (libertação não só espiritual, mas, por primeiro, social, política e humana): a grande luta é convencer o povo a deixar as garras e a opressão do Faraó, conforme relato do livro do Êxodo, mesmo com saudade das panelas de carne. 
7.O SENHOR lhe disse: “Eu vi a opressão de meu povo no Egito, ouvi o grito de aflição diante dos opressores e tomei conhecimento de seus sofrimentos. 8.Desci para libertá-los das mãos dos egípcios e fazê-los sair desse país para uma terra boa e espaçosa, terra onde corre leite e mel: para a região dos cananeus e dos heteus, dos amorreus e dos ferezeus, dos heveus e dos jebuseus. 9.O grito de aflição dos israelitas chegou até mim. Eu vi a opressão que os egípcios fazem pesar sobre eles. Êxodo 3,7-12 .
Deus é aquele que vê, ouve, percebe, sente, desce para agir e exercer a sua misericórdia.  
No acompanhamento do seu povo, Deus é o grande aliado da causa do seu povo escravizado e explorado; Ele é o aliado do pobre, do órfão e da viúva. 
Entre tantos textos, temos o profeta Zacarias capítulo 7, 9: «Assim diz Javé dos exércitos: Façam julgamento verdadeiro, e cada qual trate com amor e compaixão o seu irmão. “10 Não oprimam a viúva e o órfão, o estrangeiro e o pobre; e ninguém fique, em seu coração, tramando o mal contra o seu irmão». “11 Eles, porém, não quiseram prestar atenção, deram-me as costas e endureceram os ouvidos para não ouvir”. 
Assim, a misericórdia de Deus não é um sentimento vazio, sem movimento e sem ação. A parábola do Pai Misericordioso, chamada erroneamente de “Parábola do Filho Pródigo”, por ter o pecado como ponto de partida, revela esse olhar de Deus seguido da ação a favor da vida dos dois filhos, sem exclusões, apesar do pecado de ambos, mesmo que seja visto como pecador apenas aquele que saiu e gastou o que possuía. O mais velho mesmo sem sair, também se manteve distante de Deus e do seu irmão, rejeitando a possibilidade da comunhão, da alegria e da vida fraterna. Tendo sido tomado pela inveja e o ciúme, fechou-se em seu egoísmo. O Pai é aquele que está atento só ao que se afastou, mas aos dois filhos. 
Cada ser humano assume esses dois filhos em suas atitudes: Ora um, ora outro. Somos totalmente livres e Deus não intervém nas nossas opções, por mais errados que andemos; o pai nos acolhe quando nos voltamos para Ele, sem cobrar do nosso passado, sem recriminar, sem humilhar, sem nos torturar, simplesmente nos acolhe pelo fato de sermos maiores que nossas delinqüências; acolhe-nos com festa. A festa que sempre foi o símbolo da alegria, da comunhão; a refeição como sinal da vida. 
Assim é a misericórdia de Deus: algo visível, que se manifesta no desejo de acolher e de salvar. A alegria no céu é maior por um só que volta à casa do Pai do que por 99 que se consideram justos e santos. Lucas, 15,7. Imaginemos na parábola a alegria de quem encontra uma moeda perdida que aparentemente pode ser insignificante. A alegria de Deus é infinita por se tratar do resgate do ser humano que é sua imagem e sua semelhança. Lucas 15.
A misericórdia de Deus na nossa vida deve ser a experiência de alguém que se sente incompreendido, desvalorizado e desprezado pelos demais, mas inteiramente acolhido por Deus, percebendo esse movimento constante de Deus ao nosso encontro. A alegria deve ser uma atitude muito mais nossa do que do próprio Deus. 

3.      Misericórdia e perdão.

O perdão é um dos grandes desafios da vida cristã por se tratar de uma atitude interminável, isto é, para a vida toda. Não se trata de algo para sete vezes. A questão está colocada no sermão da comunidade para lembrar que a igreja não existe sem perdoar, Mateus 18,21, por ser um atributo de Deus. O papa Francisco sempre recorda que Deus não se cansa de perdoar. Naturalmente quando se trata de um coração sincero que busca. Como diz o salmo 50, “Deus não despreza um coração arrependido”, como a situação do filho da parábola que reconheceu a casa do pai como o melhor lugar; até como empregado ele se mantinha numa posição confortável, pois na casa do pai todos são tratados de forma igualitária: como filhos e filhas.
Neste ano da misericórdia, o perdão, portanto, é o grande desafio para as nossas comunidades que rezam, celebram, e até choram em nossas adorações, mas, muitas vezes não conseguem realizar trabalhos juntas. É que as nossas vaidades são maiores que a mensagem do amor.
Os problemas de nossas paróquias e grupos são maiores do que imaginamos. As ideologias pessoais também se sobrepõem dentro dos próprios grupos. É impossível uma “igreja em saída” diante da realidade ainda reinante.  Não se consegue trabalhar uma pastoral articulada com outras porque as pessoas não se perdoam e não se reconciliam. As diferenças pessoais se tornam obstáculos. As diferenças alimentam e constroem as indiferenças. Motivo: o evangelho não atingiu o nosso coração. Com esta mentalidade, não se alcança a misericórdia.
Vale salientar que somos educados para a vingança e a violência. Já em casa, filhos crescem e vivem a experiência da vingança e do castigo, não do perdão e da compreensão. Assim, fica no nosso universo que não se deve perdoar a quem erra, mas castigar, punir e tratar com violência. O consenso é imensamente grande sobre a violência com a motivação dos meios de comunicação.
Por quais motivos não existe uma relação de confiança entre as pessoas nas famílias e nas nossas instituições e organizações?
Porque as relações não se baseiam no princípio da fraternidade, do respeito, da escuta, do amor, mas no princípio do autoritarismo e da punição e não na perspectiva do perdão e da misericórdia. Quem está diante da autoridade, sabendo que será tratado com represália e desprezo, jamais se terá uma relação de abertura e de confiança.
Perdoar não é esquecer os acontecimentos, mas lembrá-los sem sentimentos que causam sofrimento. Enquanto fico voltando ao passado com o coração ressentido, não celebro verdadeiramente o perdão. Se a misericórdia de Deus levasse em conta o nosso passado e as nossas quedas, nunca ele seria misericordioso, pois colocaria sempre em dúvida o nosso agir.
O perdão acontece quando é possível a reconciliação, o encontro. Ofensor e ofendido precisam fazer um processo onde um não será mais uma ameaça para o outro. Só assim se celebra a misericórdia, só assim nos tornamos também instrumentos da misericórdia.
No rigorismo da lei e dos princípios, todos estarão excluídos do processo da vida. Só quem se reconhece frágil é capaz de compreender a fragilidade da outra pessoa para ser paciente e ter misericórdia.
Quem recebe o perdão de Deus Misericordioso e não se torna instrumento da mesma realidade, pode perder o perdão recebido, assim nos apresenta a parábola.

4.      Misericórdia e compromisso cristão.

Por outro lado, podemos cair em outro extremo, pensando que podemos fazer tudo, porque a misericórdia de Deus é imensa; ela cobre uma multidão de pecados. Isso é verdade, desde que sejamos também co-responsáveis com Deus e com a sua bondade. A misericórdia, a verdade e a justiça caminham juntas. Necessariamente, devemos buscar a verdade, combater a injustiça para obtermos a misericórdia.
Também não podemos nos esquecer que, aquilo que Deus é para nós, Ele também pede de nós. Lucas 6, 36. Não se trata de palavras, pois nas bem-aventuranças está dito: Bem aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia. Mateus 5,7.
Fica muito evidente que a misericórdia é um movimento de iniciativa do próprio Deus, mas que também nos compromete, que nos torna agentes ativos que acolhem a iniciativa de Deus e se tornam ao mesmo tempo instrumentos de misericórdia.
Não podemos nos esquecer de que a nossa preocupação seja apenas com celebrações intimistas nos lugares de romarias e passagens pelas portas santas de nossos tempos. Isso já se faz com freqüência e, podemos fazê-lo mais uma vez, sem que essa prática transforme a nossa vida e as nossas relações.
Na conhecida parábola do Bom Samaritano, contada para responder a uma pergunta: “quem é o meu próximo?”, Jesus descreve um processo, no qual, o meu próximo não é aquele que, necessariamente, convive comigo e com o qual temos uma boa amizade, prática muito recorrente nos nossos grupos de igreja: só vou com meu amigo, a minha colega. Nossa relação é por afinidade. Depois de descrever a trajetória do samaritano no socorro ao judeu fica evidentemente claro que só existe compaixão quando existe comprometimento com a situação da outra pessoa.
Em Lucas 10,33-36 podemos encontrar este relato a respeito das atitudes do samaritano para com o judeu:
“Mas um samaritano, que estava viajando, chegou perto dele, viu, e teve compaixão.”. 
Costumamos dizer que quando o olho não vê o coração não sente. Também se costuma dizer: “não estou vendo nada; faço de conta que não vi”. 
“34 Aproximou-se dele,  fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas”. 
Recordo-me da sinfonia dos dois mundos apresentada por Dom Helder Câmara. São os mundos que não se aproximam. Também fazemos parte e colaboramos, dependendo da situação, dessa realidade. Entre esses mundos segregados está o mundo das prisões. Não se aproximar é uma boa desculpa para não agir.
“Depois colocou o homem em seu próprio animal, e o levou a uma pensão, onde cuidou dele”.
A compaixão está muito relacionada com ter pena: um sentimento que não leva a conseqüências.
“No dia seguinte, pegou duas moedas de prata, e as entregou ao dono da pensão, recomendando: ‘Tome conta dele”. Quando eu voltar, vou pagar o que ele tiver gasto a mais’’.
A verdadeira compaixão ou misericórdia fazem com que nos comprometamos. Existem situações que precisam ser acompanhadas, monitoradas como se faz na missão na pastoral carcerária. A caridade normalmente compreendida com dar algo, aqui é antecedida dos cuidados e da proteção do que estava ferido. 
"Qual destes três você acha que foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?”
O samaritano VIU e teve compaixão; se APROXIMOU; CUIDOU das feridas; o CONDUZIU consigo; PAGOU a hospedagem; se COMPROMETEU em assumir outras despesas. Mais uma vez é um fora da lei e da religião que vive as atitudes evangélicas, a exemplo do centurião. Lucas 7,1-10.  O próximo é aquela pessoa da qual eu me aproximo de forma misericordiosa, para socorrê-la em sua necessidade.
Quando o papa Francisco nos fala da cultura do encontro, não podemos nos esquecer dessa perspectiva do encontro com Deus presente nas necessidades humanas, na carne humana, onde acontece o mistério da Paixão e da Ressurreição.
Jesus é verdadeiro Samaritano; de fato, só ele, como ninguém, se aproximou da humanidade ferida fisicamente, socialmente, espiritualmente; só ele, de fato, pode limpar e curar as feridas; só ele pode nos levar consigo para a hospedaria. Certamente por isso Jesus afirmou: “na casa de meu Pai há muitas moradas”. João 14,1.  Deus, o Pai, na sua infinita misericórdia, enviou seu Filho para habitar e cuidar de todos os seres humanos.

5.      As obras de misericórdia

Pela prática das obras de misericórdia nós podemos nos assemelhar ao bom samaritano. Estas obras talvez “andavam” meio que esquecidas, mas neste ano, foram suscitadas pelo papa Francisco. Elas são 14 maneiras para trabalharmos a nossa vida cristã e estão divididas em dois blocos. São chamadas temporais e espirituais. Elas na verdade, não se separam. A vida cristã não  separa a fé e a ação. A fé se manifesta pelas ações, pelo testemunho de vida. São Tiago se pergunta se alguém se salva pela fé sem as boas ações. Tiago 2,20.
Só para efeito de compreensão, como nos são apresentadas, seguem as obras de misericórdia.
•         Sete obras se referem a ações temporais:
Dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, dar pousada aos peregrinos, assistir aos enfermos, vestir os presos e enterrar os mortos.
•         Outras sete obras se referem a ações espirituais:
 Dar bom conselho, ensinar os ignorantes, corrigir os que erram; consolar os tristes, perdoar as injúrias, sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo, e rogar a Deus por todos os necessitados, tanto vivos quanto mortos.
A respeito destas obras chamadas de corporais, o que está em jogo é a nossa capacidade de amar ao nosso próximo. Estamos habituados a pensar que a vida cristã é algo meramente espiritual e ligado ao culto numa igreja cada vez mais voltada para si mesma.
Esse modelo ainda persiste. Existem pessoas que jamais se preocupariam com essas obras; asseguram que isso não é papel da igreja se preocupar com necessidades materiais. Muitas vezes nas homilias só escutamos falar do pão espiritual, quando Jesus esteve sempre preocupado com as reais necessidades do povo. Não é por acaso que a chamada multiplicação dos pães aparece em Mateus 14,13; marcos 6,30; Lucas 9,10-17; João 6,1-14. Assim, podemos imaginá-la como preocupação central na vida de Jesus e das primeiras comunidades, recordando ainda a preocupação do apóstolo Paulo sobre a Ceia Eucarística sem o compromisso fraterno. 1 cor 11,17.
Cuidar de quem tem fome, sede, está nu, não tem moradia, quem está na prisão. Como deixar de lado essa realidade?
Cresce o número daqueles que estão nas prisões e dos que estão como moradores de rua. Como podemos viver a vida cristã sem compaixão com a carne sofredora de Cristo?
As obras chamadas espirituais também não estão desligadas dos desafios da vida e precisam estar integradas na prática e na dinâmica da caridade. Não podemos ou não devemos realizar umas obras sem as outras.  A evangelização cristã precisa ser vivenciada levando-se em conta essas duas dimensões.
Consolar de forma correta os que estão tristes; ter a paciência com os que erram, uma vez que todos nós erramos no dia a dia. Todo ser humano precisa sempre reorientar a sua vida e cada pessoa precisa ser ajudada no seu processo de discernimento. O grave problema é que quando vamos corrigir o outro, o fazemos de forma errada e a situação fica mais grave.

6.      A misericórdia se destina a toda humanidade.

Deus é misericórdia para todos e não apenas para o povo católico como se imaginava na cultura judaica. Em Jesus, o muro que separava judeus e pagãos foi abolido. Jesus constitui um só povo. Gálatas 2,28. A influência do dualismo grego ainda hoje marca profundamente o nosso agir e desvirtua por demais a vida cristã. Continuamos a dividir bem e mal; coisas de Deus e coisas do mundo; estamos esquecidos de que o joio convive com o trigo e a colheita será salva. Mateus. 13.24-30, 36-43.
Assim, a celebração deste ano da misericórdia deve atingir a todas as pessoas independentemente da situação em que se encontrem.
O dia 6 de novembro será o jubileu da pessoa encarcerada, celebrado pelo papa Francisco na Basílica de São Pedro em Roma. Será celebrado e lembrado também no mundo inteiro, mesmo que em cada comunidade se celebre com as pessoas em privação de liberdade.
A respeito das pessoas detidas o papa traz o seguinte pensamento: “O meu pensamento se dirige também aos encarcerados, que experimentam a limitação da sua liberdade. O jubileu constituiu sempre a oportunidade de uma grande anistia, destinada a envolver muitas pessoas que, mesmo merecedoras de punição, todavia tomaram consciência da injustiça perpetrada e desejam sinceramente inserir-se de novo na sociedade, oferecendo o seu contributo honesto. A todos eles chegue concretamente a misericórdia do Pai que quer estar próximo de quem mais necessita do seu perdão. Nas capelas dos cárceres, poderão obter a indulgência, e todas as vezes que passarem pela porta da sua cela, dirigindo o pensamento e a oração ao Pai, que esse gesto signifique para eles a passagem pela Porta Santa, porque a misericórdia de Deus, capaz de mudar os corações, consegue também transformar as grades em experiência de liberdade”. Site Canção Nova.
Podemos ver nesse pensamento do papa que a porta santa não se limita aos lugares já estabelecidos, mas que a própria cela se torne esse espaço onde se celebra a misericórdia de Deus.
A porta é Cristo por onde toda pessoa humana deve passar; quem por ele passa abre a porta do seu coração para que a outra pessoa encontre espaço.
Não podemos nos esquecer de que o nosso coração enquanto pessoas, como também as nossas instituições, por vezes, estamos de coração encarcerado para a realidade das pessoas reclusas desde que essa realidade não atinja a nossa pele, o nosso sangue.
Os animais de estimação são muitas vezes mais bem cuidados do que uma criança e muito mais ainda quando se trata de um humano crucificado pela pobreza e na prisão.
 Para essas pessoas, numa sociedade “cristã” se deseja o que de pior existe para a nossa própria carne: se deseja a pena de morte e todo tipo de crueldade que não se aplica a nenhum dos animais, por ser crime. No entanto, se aplica ao ser humano, com o aval de quem administra e tem responsabilidade sobre pessoas encarceradas (executivo e judiciário). Nunca vi uma determinação expressa de uma autoridade desses poderes proibindo práticas de tortura.
 Talvez pareça muito estranho a alguém, mas a misericórdia de Deus é para os que estão nas prisões, sim. A primeira salvação explícita aconteceu quando Jesus salvou o seu companheiro de prisão o chamado “Bom Ladrão”; nós condenamos o crime com quem o pratica, mas Deus abomina o pecado salvando o pecador.
Também todos nós só alcançaremos misericórdia se formos misericordiosos com os que estão nas prisões; não temos com anular a página do evangelho de Mateus 25, onde Jesus se identifica com as pessoas em privação de liberdade. Ele passa a ser a pessoa presa, e, ao mesmo tempo doente, faminta, sedenta, ferida, estrangeira, nua. Seremos atingidos pela misericórdia do Pai pelo grau de nossa compaixão com Jesus encarcerado. Venham para o reino eterno, porque eu estava na prisão e vocês cuidaram de mim. A lógica é de fácil compreensão e de dificílima vivência: Tudo aquilo que fizermos aos outros seja para promover vidas ou destruí-las, é a Jesus que estamos fazendo.
Aqui o critério salvífico não está vinculado a nenhuma prática religiosa, mas ao critério da caridade praticada para com aquela pessoa da qual eu me aproximo para servir. Ninguém diante do convite tinha a consciência de ter servido ou não ao próprio Jesus. “Senhor quando foi......”?
Aqui está um imenso desafio para todo o povo cristão para que a sua religião se resuma a uma devoção descomprometida e a um conjunto de doutrinas frias e rígidas e desprovidas da caridade capaz de salvar a humanidade.
Quando vamos compreender e aceitar que a pessoa humana, presa continua sendo imagem e semelhança de um Deus desfigurado? Quando vamos compreender que Deus será misericordioso no exercício da misericórdia?
Os que são mais pecadores são os mais dignos da misericórdia, pois o Mestre não veio para os bons, mas para os pecadores. Lucas 5,32.
Nenhum ser humano está excluído da misericórdia a não ser que se auto exclua por iniciativa própria.
Na Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário Da Misericórdia (Misericordiae Vultus), Jesus o Rosto da Misericórdia, o papa Francisco lembra as palavras de São João XXIII na abertura do Concílio Vaticano II:
“Nos nossos dias, a Esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia que o da severidade”. Ao que parece, essa expressão ao longo dos últimos 50 anos pós-conciliar ficou escondida no rigorismo de nossas práticas pastorais. 
A misericórdia, portanto, deve ser aquela atitude que deve se fazer presente a cada instante do dia a dia de nossa vida que quando lidamos com todas as situações simples ou complexas, não pode esquecê-la.