23 de abril de 2020

DIRETRIZES GERAIS.



DIRETRIZES GERAIS DA AÇÃO EVANGELIZADORA 
DA IGREJA NO BRASIL
 2019 – 2023


Trata-se de um texto muito necessário par ser trabalhado em nossas comunidades ate 2023.


OBJETIVO GERAL

EVANGELIZAR
no Brasil cada vez mais urbano,
pelo anúncio da Palavra de Deus,
formando discípulos e discípulas de Jesus Cristo,
em comunidades eclesiais missionárias,
à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres,
cuidando da Casa Comum e
testemunhando o Reino de Deus
rumo à plenitude.



INTRODUÇÃO

Avançando no processo das DGAE, especialmente diante da cultura urbana, cada vez mais abrangente, as DGAE 2019-2023 estão estruturadas a partir da imagem da comunidade cristã como “casa”, “construção de Deus” (1Cor 3,9). No centro, como eixo, está a Comunidade Eclesial Missionária, sustentada por “quatro pilares”:
Palavra, Pão, Caridade e Missão. Em cada um deles, as antigas urgências são reagrupadas e permanecem mostrando sua atualidade:
A comunidade eclesial missionária é sustentada por quatro pilares: Palavra, Pão, Caridade e Ação Missionária. Em cada um deles, as urgências anteriores são reagrupadas e permanecem mostrando sua atualidade:
Palavra – Iniciação à Vida Cristã e Animação Bíblica; 
Pão - Liturgia e espiritualidade; 
Caridade - Serviço à vida plena; 
Ação Missionária - estado permanente de missão.

C A P Í T U L O  1

O ANÚNCIO DO EVANGELHO 
DE JESUS CRISTO

Jesus percorria todas as cidades e povoados,
ensinando em suas sinagogas e proclamando 
o evangelho do Reino. (Mt 9,35)

1. Fidelidade a Jesus Cristo, Missionário do Pai
12. “Para mim, o viver é Cristo! ” (Fl 1,21) Somos todos convidados a renovar o encontro pessoal com Cristo e tomar a decisão de deixar-se encontrar por ele, pois, “a vida que Jesus nos dá é uma história de amor, uma história de vida que quer se misturar com a nossa e criar raízes na terra de cada um”.  Afinal, “no início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo”. 
13. O anúncio de Jesus Cristo se faz no horizonte do Reino de Deus, que é o centro de sua vida e de sua pregação. Jesus “percorria cidades e povoados, proclamando e anunciando o evangelho do Reino de Deus” (Lc 8, 1).
14. Como o Reino é de Deus, o discípulo o acolhe por meio da fé (Mc 1,15), pois, “o primado é sempre de Deus”, “a verdadeira novidade é aquela que o próprio Deus misteriosamente quer produzir”, “a iniciativa pertence a Deus”.
18. Quando contemplamos o Evangelho, encontramos dois verbos que marcam    a relação de Jesus com os discípulos: “vinde” e “ide”. Jesus que chama é o mesmo Jesus que envia (Mc 3,13-15). 
1.2. Igreja: Comunidade de discípulos missionários de Jesus Cristo
19.  A Igreja é a comunidade dos discípulos missionários de Jesus Cristo, ele que é a luz única para pessoas e povos (Jo 14,6).  “O que vimos e ouvimos, nós vos anunciamos para que estejais em comunhão conosco [...] para que a nossa alegria seja completa” (1Jo 1,3-4). 

1.3. Missão: anúncio que se traduz em palavras e gestos
21. Com as palavras: “Ide, pois, fazei discípulos todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinando-os a observar tudo o que vos mandei” (Mt 28,19-20a), Jesus Cristo confiou aos seus seguidores não uma simples tarefa, mas conferiu-lhes uma identidade que os projeta para além de si, na comunhão com a Santíssima Trindade, em favor do mundo inteiro, por meio do testemunho, do serviço e do anúncio do Reino de Deus.

1.4. Cultura urbana: desafio à missão
27. “Ide pelo mundo inteiro e proclamai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). Neste “ide” de Jesus, que nos aponta para a origem trinitária da missão, “estão presentes os cenários e os desafios sempre novos da missão evangelizadora da Igreja, e hoje todos somos chamados a esta nova ‘saída’ missionária
1.5. Comunidades eclesiais missionárias no contexto urbano 
33.  No momento atual, pelo qual passam o mundo e o Brasil, a conversão pastoral se apresenta como desafio irrenunciável. Esta conversão implica a formação de pequenas comunidades eclesiais missionárias, nos mais variados ambientes, que sejam casas da Palavra, do Pão, da caridade e abertas à ação missionária

C A P Í T U L O  2
OLHAR DE DISCÍPULOS
MISSIONÁRIOS

Ao ver as multidões,
 Jesus encheu-se de compaixão. (Mt 9,36)

2.1. Contemplar para sair em missão em um mundo que se transforma
41. A Igreja, sacramento universal de salvação, anuncia sempre o mesmo Evangelho. Nessa missão, ela é chamada a acolher, contemplar, discernir e iluminar com a Palavra de Deus a complexa gama de elementos culturais, sociais, políticos e éticos que constituem a realidade à qual é enviada. Só a partir deste diálogo com a realidade, em constante mutação, ela será capaz de fazer com que o Evangelho chegue aos corações das pessoas, às estruturas sociais e às diversas culturas.

2.2. Uma cidade onde Deus habita 
46. Uma das maneiras para se compreender esta mudança de época pode ser encontrada, então, na imagem da cidade. Em meio a tantas alternativas de compreensão, a figura da cidade ajuda a expressar tanto o que está acontecendo no mundo e no Brasil de hoje, quanto iluminar a percepção do discípulo missionário sobre a inquestionável presença amorosa de Deus.

2.3. A vida na grande cidade mundial 
49. O mundo das grandes cidades e da mentalidade ou cultura que nelas é gerada e alimentada, é local da individualidade. Consumismo. Individualismo. 
53. A forte acentuação na individualidade traz como consequência o enfraquecimento das instituições e das tradições, enquanto garantidoras do sentido da vida, dos rumos a serem seguidos e da paz social.
  54. Outra marca de nosso mundo é a pluralidade, que se manifesta nos âmbitos da cultura, da ética, da vivência religiosa e associativa. São modos diferentes de compreender e avaliar a realidade. A pluralidade manifesta-se como luz na medida em que permite à pessoa exercer o dom da liberdade e escolher em meio a múltiplas variáveis.
 55. Neste mundo, existem também propostas religiosas das mais variadas vertentes, fazendo com que o ambiente religioso se torne cada vez mais plural e diversificado. Esta realidade é luz na medida em que abre a possibilidade para que a experiência religiosa seja fruto de uma escolha livre e consciente e convoca pessoas e grupos a cultivarem o diálogo ecumênico e inter-religioso.
59. A pobreza se expande e se manifesta em inúmeras formas de sofrimento, sombras que desafiam a todos nós. É a vida agredida nas mais diversas formas, desde a fecundação até a morte natural. É a forte crise de sentido, que gera desesperança, esgotamento existencial, depressão, chegando até o suicídio, uma realidade da qual ninguém está isento, nem mesmo ministros religiosos.

2.4. O Senhor está no meio de nós!
67. Em meio a esta complexa conjuntura, pela fé reconhecemos o Senhor presente e atuante junto a nós (Jo 14,18). O reconhecimento, por exemplo, de que as tradições, as instituições e os costumes de uma cultura predominantemente individualizada e consumista já não são capazes de transmitir o Evangelho às novas gerações, têm feito surgir por todo o país tentativas de concretizar processos de iniciação à vida cristã.  Esta e outras iniciativas são sinais de que algo novo está acontecendo.

C A P Í T U L O 3
A IGREJA NAS CASAS

   Eles eram perseverantes no ensinamento dos apóstolos, 
na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações. (At 2,42)

3.1. A Casa da Comunidade 
73. A casa, enquanto espaço familiar, foi um dos lugares privilegiados para o encontro e o diálogo de Jesus e seus seguidores com diversas pessoas (Mc 1,29; 2,15; 3,20; 5,38; 7,24). Nas casas ele curava e perdoava os pecados (Mc 2,1-12), partilhava a mesa com publicanos e pecadores (Mc 2,15ss; 14,3), refletia sobre assuntos importantes, como o jejum (Mc 2,18-22), orientava sobre o comportamento na comunidade (Mc 9,33 ss; 10,10), e sobre a importância de se ouvir a Palavra de Deus (Mt 13, 17.43).
74. Tanto Jesus como seus discípulos assumiram um estilo de vida itinerante para propagar a Boa Nova da salvação. Os encontros de Jesus, ao longo de seu caminhar, criam oportunidades para experiências que reforçam e alargam as relações fraternas e comunitárias nos ambientes domésticos por onde ele passa (Mt 8,14; Lc 10,38-42; Lc 19,1-10). A casa é, assim, assumida como lugar para cultivo e a vivência dos valores do Reino.
76. Entre os primeiros cristãos, a experiência da Igreja na casa implicava um conjunto de relações para além dos laços familiares das casas tradicionais. A Igreja nas casas garantia um senso de pertença à família de Deus (Mc 3,31-35) e já não importava mais ser grego ou judeu, escravo ou livre, mas somente ser de Cristo (Cl 3,11; Gl 3,28). A casa-comunidade era o lugar do reconhecimento mútuo e, nela, seus habitantes deveriam superar as distâncias e passar da simpatia ao encontro. Não bastava fazer parte da casa, era necessário promover outro tipo de relacionamento entre as pessoas, tornando-as mais fraternas: “entre eles ninguém passava necessidade, pois aqueles que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro e o depositavam aos pés dos apóstolos. Depois era distribuído conforme a necessidade de cada um” (At 4,34-35).
80. A casa permitiu que o cristianismo primitivo se organizasse em comunidades pequenas, com poucas pessoas, que se conheciam e compartilhavam a mesa da refeição cotidiana. Pela partilha da mesa com todos os batizados se estabelecia um novo estilo de vida, marcado pelo seguimento de Jesus Cristo. A hospitalidade era aberta também a pecadores e pagãos.

3.2. Comunidade de comunidades
82. Atualmente, diante da complexidade urbana e da mudança de época, retoma-se a indicação do Documento de Aparecida sobre as pequenas comunidades eclesiais, consideradas como ambiente propício para escutar a Palavra de Deus, viver a fraternidade, animar a oração, aprofundar processos de formação continuada da fé, e fortalecer o firme compromisso do apostolado na sociedade de hoje.  É na força da Palavra de Deus que devemos formar verdadeiras comunidades de discípulos missionários (At 2,42-47; 4,32-37).
83. Tendo a missão como eixo fundamental, essas comunidades são configuradas como: casa da Palavra, do Pão, da Caridade e da missão; lugar da iniciação à vida cristã, do compromisso com os pobres, da abertura aos jovens; do anúncio do Evangelho da família e do cuidado da Casa Comum.  Desse modo, tornam-se comunidades de portas abertas para acolher a todos e para sair ao encontro das pessoas, em suas realidades, atuando como “sal da terra e luz do mundo” (Mt 5,13-14).

3.2.1. Pilar da Palavra – Iniciação à Vida Cristã e
Animação Bíblica da vida e da pastoral

“Eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos”. (At 2,42)

88. Os Atos dos Apóstolos relatam que a comunidade cristã se concentrava nas casas como o seu lugar característico de reunião, ajuda mútua e do fortalecimento da vivência missionária. Nelas os cristãos ouviam juntos a Palavra e, por esta iluminados, procuravam discernir a experiência da vida em Deus, conscientes de que a fé provém da escuta (Rm 10,17). No caminho da experiência de fé, é Deus quem toma a iniciativa de comunicar seu desígnio salvífico de amor, cabendo ao ser humano, acolher e responder ao dom de Deus.  A resposta implica conversão de vida, configuração a Cristo que, necessariamente, torna o discípulo missionário. Todo esse processo de iniciar alguém na fé cristã supõe um encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo, proporcionado de forma privilegiada pela celebração da Palavra de Deus e pela leitura Orante.

3.2.2 Pilar do Pão - Liturgia e espiritualidade
“Eram perseverantes […] na fração do pão e nas orações”. (At 2,42)
1. Entre os primeiros cristãos, a comunhão se expressava principalmente na celebração da Eucaristia. Os vínculos anteriores e posteriores à Eucaristia suscitavam a partilha das dificuldades do cotidiano e o compromisso com o Reino de Deus. Os membros da Igreja, nas casas, eram instruídos a assimilar que a celebração comum da “ceia do Senhor” demandava a comunhão de todos com o Corpo e Sangue de Cristo. A celebração eucarística, memória do sacrifício do Senhor, alimentava a esperança do mundo que há de vir (1Cor 11,17-32).  Essa realidade implicava em trilhar um caminho pascal, para viver no mundo sem ser do mundo (Jo 17,14-16).

3.2.3. Pilar da Caridade - Serviço à vida plena
“Eram perseverantes na comunhão fraterna”.  (At 2, 42)

1. Na fé cristã, a espiritualidade está centrada na capacidade de amar a Deus e ao próximo. Rezar e servir, amar e contemplar, são realidades indispensáveis para o discípulo de Jesus Cristo.  Sem oração não existe vida cristã autêntica. Sem caridade, a oração não pode ser considerada cristã. Quando se contempla Deus percebe-se a beleza do pequeno e do simples, e se educa o olhar para ver as necessidades do outro. Somente um olhar interessado pelo destino do mundo e do ser humano permitirá experimentar a dor pela situação que rege a história, mas que é superada pelo amor de Deus que a envolve. Somente contemplando o mundo com os olhos de Deus, é possível perceber e acolher o grito que emerge das várias faces da pobreza e da agonia da criação.

3.2.4 Pilar da Ação Missionária: estado permanente de missão
“Passando adiante, anunciava o Evangelho a todas as cidades”. (At 8,40)
1. Um mundo cada vez mais urbano, embora possa assustar, é, na verdade, uma porta para o Evangelho, e as comunidades cristãs precisam ter um olhar propositivo sobre essa realidade, cientes de que Deus “preparou uma cidade para eles” (Hb 11,16) . Ele é quem abre a porta da fé (At 14,27) em um mundo plural e sedento de sentido e devida plena, só alcançáveis em Deus. Ele sempre visita a humanidade: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, eu entrarei em sua casa e tomarei refeição com ele, e ele comigo” (Ap 3,20). Cabe especialmente à Igreja, como “sacramento e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano”, guiada pelo Espírito Santo, incentivar a descoberta das sementes do Verbo, presentes nas várias culturas, e promover o encontro dessas culturas com Jesus Cristo, que as ilumina.
120. Enfim, a Igreja é mãe de coração aberto, casa aberta do Pai, que “conclama a todos para reunirem-se na fraternidade, acolher a Palavra, celebrar os sacramentos e sair em missão no testemunho, na solidariedade e no claro anúncio da pessoa e da mensagem de Jesus Cristo. ”

3.3. Rumo à Casa da Santíssima Trindade 
121. A Igreja peregrina atua na sociedade porque se autocompreende como sacramento universal de salvação que tem um fim escatológico.  A ação evangelizadora e pastoral tem como meta a salvação da pessoa e da humanidade. Salvação que se entende integral, “da alma e do corpo, é o destino final ao qual Deus chama todos os homens”.   É participação na obra de Cristo que veio salvar e conduzir a todos à Casa do Pai, onde há muitas moradas.  Essa perspectiva do fim último deve marcar toda e cada ação da Igreja na história. Essa dimensão escatológica, que suscita a esperança que vence a morte, é uma importante força da espiritualidade cristã. A comunidade dos discípulos missionários de Jesus Cristo é guiada pelo Espírito Santo, que a todos conduz à Casa definitiva do Pai, onde há muitas moradas (Jo 14,2). Por isso a comunidade eclesial reúne um povo de peregrinos a caminho do Reino de Deus, rumo à Pátria trinitária (Fl 3,20).

C A P Í T U L O 4
A IGREJA EM MISSÃO

“Era grande a alegria na cidade”. (At 8,8)

124. As dimensões do Brasil, variado e dinâmico em modos de vida, realidades econômicas, sociais e culturais, quantidade de possibilidades e dificuldades, nos levam a acreditar que é impossível pensar de maneira uniforme a ação evangelizadora. Somente com o olhar da fé, da caridade cristã e do ardente desejo de anunciar Jesus Cristo, é possível apontar horizontes a partir de perspectivas transversais que toquem todas as realidades, independentemente das circunstâncias locais.

4.1. A Comunidade-Casa
129. A Igreja no Brasil, em sua ação evangelizadora, assume o compromisso de formar comunidades que vivam como Casa da Palavra, do Pão, da Caridade e da Ação Missionária. Nelas, as pessoas, movidas pelo Amor da Trindade Santa, vivenciam e testemunham a comunhão fraterna, como em família, entre amigos, irmãos na fé, companheiros de jornada nas estradas da vida, peregrinando rumo à Pátria Definitiva. Como casa, as comunidades que queremos, são: espaço do encontro, da ternura e da solidariedade, são o lugar da família e têm suas portas abertas.

4.1.1. Casa: espaço do encontro 
132. Nossas comunidades precisam ser oásis de misericórdia no deserto da história, casas de oração profunda, de mergulho no sagrado, no mistério revelado pelo Amor do Pai. Devem deixar de lado toda burocratização que afasta, toda aparência de empresa que presta serviços religiosos para caminhar apressadamente no compromisso de se transformarem em lugar de encontro com Deus.

1.1.1. Casa: lugar da ternura 
1. Nossas comunidades precisam ser lugar do olhar, do abraço e do afeto: olhar o outro e ver nele um irmão, imagem de Deus; acolhê-lo e perceber nele alguém que partilha de um destino comum.  A este propósito nos exorta o Apóstolo São Paulo: “Que o amor fraterno vos una uns aos outros, com terna afeição, estimando-vos reciprocamente” (Rm 12,10 a.15). Em nossas comunidades, a afetividade, a empatia, a ternura com o irmão devem ser as marcas desta casa da fraternidade, que promove o que o Papa Francisco chama de “revolução da ternura”. “Devemos privilegiar a linguagem da proximidade, a linguagem do amor desinteressado, relacional e existencial, que toca o coração, a vida, desperta esperança e desejos”.

4.1.3. Casa: lugar das famílias 
138. Entre todas as realidades que compõem as comunidades de fé, a família demanda atenção renovada. A Exortação Apostólica Amoris Laetitia nos impele a ir ao encontro das famílias, com atenção especial e ternura de quem coloca uma ovelha ferida no colo. A família é ponto de chegada para nossa ação pastoral e ponto de partida para a vida comunitária mais ampla. “O amor vivido nas famílias é uma força permanente para a vida da Igreja”. Ir ao encontro das famílias em sua realidade concreta, com as luzes e sombras da existência, com as contradições inerentes à condição humana e acolhê-las na comunidade eclesial há de ser meta de toda comunidade.

4.1.4. Casa: lugar de portas sempre abertas
141. A comunidade como lugar de portas sempre abertas é também indicação para a missão. Quem está dentro é chamado a sair e ir ao encontro do outro onde quer que ele esteja. Ela nunca poderá ser compreendida como casa de irmãos se fecharem suas portas para as pessoas mais vulneráveis de nosso tempo. Elas devem ter espaço prioritário em nossas comunidades, sentindo e sabendo que serão acolhidas, vendo em cada comunidade cristã uma porta, misericordiosamente, aberta. Não poderá haver uma comunidade autenticamente cristã que não seja Porta de Misericórdia para todos que precisam. É chegada a hora de multiplicar essas portas nas igrejas, capelas, obras sociais, escolas, universidades, movimentos, congregações religiosas, comunidades novas e outras associações. É hora de assumirmos com maior radicalidade a proposta de descentralização, capitalização da experiência eclesial, gerando redes de comunidades, conforme apresentado por Aparecida e pelo documento Comunidade de Comunidades: uma nova paróquia.
142. Não basta, entretanto, abrir as portas para acolher quem vier, numa atitude de espera dos que chegam. É preciso ir ao encontro do outro onde quer que ele esteja. Seguindo o exemplo do Mestre, que alcança os discípulos que voltavam desanimados para Emaús (Lc 24,13-35), precisamos praticar um acolhimento ativo (Lc 15), que vá ao encontro dos que demandam socorro.  

4.2. Os pilares da comunidade
144. A comunidade eclesial missionária, como ambiente de vivência da fé e forma da presença da Igreja na sociedade, é sustentada por quatro pilares fundamentais: Palavra, Pão, Caridade e Ação Missionária.

4.2.1. Pilar da Palavra: iniciação à vida cristã e animação
bíblica da vida e da pastoral

A CATEQUESE NO ESTILO CATECUMENAL;
A LEITURA ORANTE. NÚMEROS 145-149.

Encaminhamentos Práticos
150. Assumir o caminho de iniciação à vida cristã, de inspiração catecumenal, com a necessária reformulação da estrutura paroquial, catequética e litúrgica, com especial atenção à catequese para a recepção e vivência dos sacramentos com crianças, jovens e adultos (sacramentos da iniciação cristã e demais).
1. Universalizar o acesso à Sagrada Escritura, assumindo-a como alma da missão.  Cada pessoa não só deve ter uma Bíblia, como deve ser ajudada pela comunidade a fazer dela fonte de estudo, oração, celebração e ação.
2. Priorizar pequenas comunidades eclesiais, ao redor da Bíblia, como fruto imediato da visitação missionária. Para tanto, é fundamental a formação de lideranças leigas que possam coordenar, com espírito de mobilização e de oração, essas comunidades.

4.2.2. Pilar do Pão: liturgia e espiritualidade
161. A eucaristia e a Palavra são elementos essenciais e insubstituíveis para a vida cristã. Para que a comunidade de fé seja casa aberta para todos, exercendo o acolhimento ativo, a dinâmica da saída como conatural à sua existência, ela precisa se nutrir do essencial, daquele “Pão da vida” (Jo 6,35) que revigora para a caminhada rumo ao Reino definitivo. A liturgia é o coração da comunidade. Ela remete ao Mistério e, a partir deste, ao compromisso fraterno e missionário.
163 “A verdadeira celebração e oração exigem conversão e não criam fugas intimistas da realidade, ao contrário, remetem à solidariedade e à alteridade”.  A comunidade deve beber da riqueza da Reforma Litúrgica, a fim de evitar retrocessos que afetam a vida das comunidades cristãs que assimilaram as determinações do Concílio Vaticano II.
164.Em um tempo de individualismo extremo, onde o eu parece ser o centro de tudo, é preciso dar o salto para uma espiritualidade comunitária, onde a oração pessoal e comunitária sejam abertas ao coletivo, especialmente aos que estão nas periferias sociais, existenciais, geográficas e eclesiais. “É necessário evitar a separação entre culto e misericórdia, liturgia e ética, celebração e serviço aos irmãos”.
Encaminhamento Prático
164. Resgatar a centralidade do domingo como Dia do Senhor por meio da participação na Missa Dominical ou, faltando essa, na Celebração da Palavra. Somente situações excepcionais podem justificar a ausência nesse momento central da vivência da fé cristã. A assembléia eucarística é considerada “alma do domingo” e, não sem razão, entre os mandamentos da lei de Deus, está a guarda do Domingo e dos dias Santos e, razão pela qual, entre os mandamentos da Igreja, encontra-se o dever da participação na celebração eucarística nesse dia.
165. Onde efetivamente não for possível celebrar a Eucaristia, realizam-se celebrações da Palavra de Deus, com os diáconos permanentes ou com ministros leigos devidamente formados e instituídos. Importa que a comunidade não deixe de se reunir para celebrar o Dia do Senhor e os momentos importantes, tanto de alegria, quanto de dor e de esperança. Para tal, seja conhecido e valorizado o recente documento 108 da CNBB: Ministério e celebração da Palavra.
167. Valorizar o canto litúrgico, o espaço sagrado e tudo que diz respeito ao belo como serviço à vida espiritual. Nesse sentido, incentive-se a comunhão entre as pastorais da Liturgia, da Catequese, da Cultura e da Arte Sacra.

4.2.3. Pilar da caridade: a serviço da vida
171. Em atenção à Palavra de Jesus e ao ensinamento da Igreja, especialmente sua doutrina social, que iluminam os critérios éticos e morais, nossas comunidades devem ser defensoras da vida desde a fecundação até o seu fim natural. A vida humana e tudo que dela decorre e com ela colabora, precisa ser objeto da nossa atenção e do nosso cuidado: do nascituro ao idoso, da casa comum ao emprego, saúde e educação. O cuidado para com os direitos humanos, as políticas públicas que sustentam a sua aplicação, hão de estar no horizonte da ação dos discípulos de Jesus, chamados a realizar as obras de misericórdia, tanto em âmbito pessoal, quanto comunitário e social.
172. As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração”. Estas palavras do Concílio Vaticano II, no proêmio da Constituição Pastoral Gaudium et Spes,142 continuam atuais e necessitam ressoar em nossas comunidades como um alerta para com esta solidariedade universal constitutiva da vida cristã. Todas as pessoas, especialmente, quando feridas pelas marcas da cultura de morte que insiste em existir devido ao pecado, estejam no âmbito do nosso olhar pastoral.

Encaminhamentos Práticos
174. Promover a solidariedade com os sofredores nas cidades como sinal privilegiado a interpelar e a permitir o diálogo com a mentalidade urbana. Enquanto a cidade tende ao individualismo que acaba por excluir, a vivência do Evangelho necessita explicitamente gerar experiências de solidariedade e inclusão. Junto aos que sofrem, especialmente os que sequer têm direito à sobrevivência, a Igreja é chamada a reproduzir a imagem do Bom Samaritano (Lc 10,25-37).
175. Priorizar as ações com as famílias e com os jovens, como resposta concreta aos sínodos da família (2014 e 2015) e da juventude (2018), para que, sustentados e animados pela comunidade de fé, possam ser sal e luz, mantendo viva a esperança do Reino. A ação pastoral junto às famílias e aos jovens deve estar presente em todas as comunidades, abrindo-se espaços para diferentes formas de vivência da mesma fé.

4.2.4. Pilar da Ação Missionária: estado permanente de missão
186. “Onde Jesus nos envia? Não há fronteiras, não há limites: envia-nos a todas as pessoas”. Deve ser meta das comunidades cristãs consolidar a mentalidade missionária. A missão é o paradigma de toda a ação eclesial. Ela, então, precisa ser assumida dessa forma. Por isso, o Papa Francisco apresenta um modelo missionário para os nossos tempos: a iniciativa de procurar as pessoas necessitadas da alegria da fé; o envolvimento com sua vida diária e seus desafios tocando nelas a carne sofredora de Cristo; o acompanhamento paciente em seu caminho de crescimento na fé; o reconhecimento dos frutos, mesmo que imperfeitos; a alegria e a festa em cada pequena vitória.
188. 189. Só podemos nos imaginar comunidade de fé, que segue os passos de Cristo Jesus e busca nele o seu modelo de vida, se vamos ao encontro do outro, no seu lugar concreto, anunciando o próprio Senhor com sua presença amorosa. Uma palavra que seja vida é a mais eloquente ação missionária. É esta presença e este testemunho que o mundo espera das comunidades cristãs. Um desejo de “cheiro de ovelha” deve permear toda missão e preparar o caminho para o anúncio explícito de Jesus Cristo.

Encaminhamentos Práticos
189. Investir em comunidades que se auto compreendam como missionárias, em estado permanente de missão, indo além de uma pastoral de manutenção e se abrindo a uma autêntica conversão pastoral.  Novos lugares, novos horários, linguagem renovada e pastoral adequada às novas demandas da população são algumas características das respostas esperadas.
196. Valorizar, urgentemente, como espaços missionários os hospitais, as escolas e as universidades, o mundo da cultura e das ciências, os presídios e outros lugares de detenção. Em espaços assim, a presença fraterna e Orante é o ponto de partida para o anúncio e a formação de comunidades.
198. Implantar e aperfeiçoar os Conselhos Missionários em todos os níveis (paróquia, diocese e regional) deve ser uma meta perseguida por toda a Igreja no Brasil. Esses Conselhos sejam animadores e articuladores da acolhida e presença do espírito missionário em nossas comunidades por meio da programação, execução e revisão das ações missionárias.

PROPOSTA
Criar em âmbito da Diocese, quatro grandes comissões, em torno aos quatro pilares, reunindo pastorais e movimentos:
a) Pilar da Palavra: reunindo todas as iniciativas de formação;
b) Pilar do Pão: reunindo tudo o que é de liturgia e mística
c) Pilar da Caridade: reunindo todas as iniciativas sociais
d) Pilar da Missão: reunindo as iniciativas missionárias

Obs.: As paróquias também poderiam se organizar da mesma forma, facilitando a articulação pastoral em toda a Diocese.

FORMATAÇÃO: Pe. Bosco