23 de abril de 2020

PAIXÃO DO SENHOR


PAIXÃO DO SENHOR


11/04/2020
PE BOSCO

Sexta Feira Santa. Ao longo do meu ministério sacerdotal, neste ano, são trinta e duas semanas santas seguidas. Um tempo de graça de Deus poder celebrar a páscoa do Senhor. Em lugares diferentes, vivenciando a realidade do mesmo mistério.
Este ano, sem dúvida, marcar a vida de todos os presbíteros pelo fato de estarmos celebrando sem a presença do nosso povo. Estamos contando com um pequeno grupo de fiéis, aqueles que nos ajudam no canto e nas leituras da Palavra de Deus.
Assim celebrei a sexta feira santa na matriz de Mulungu, uma igreja grande. Pelo seu tamanho, nunca celebrei missa campal.
A celebração da paixão foi para mim muito emotiva neste ano. A proclamação do evangelho como tem feito em muitos desses anos foi cantada. Utilizado o texto de Reginaldo Veloso que transformou o texto bíblico em poesia, com uma melodia bonita, na linha da piedade popular, que toca profundamente a nossa alma. Na letra ele consegue retratar muito bem o sofrimento de Jesus.
Contemplar a condenação, a paixão e a morte do Filho de Deus, aquele que passou a sua vida fazendo o bem, é impressionante, mais que isso, é assustador. A humanidade, inclinada para o mal. As autoridades discordaram dele em tudo. Ele trazia a vontade de Deus em sua vida, que contrariava tudo o que era ensinado e vivido. Como nós cantamos, eles queriam um grande rei, que fosse forte e dominador, e por isso, não creram nele, e mataram o salvador. Ele não correspondeu às expectativas deles. Melhor morrer um só, aquele que nos incomoda. Tudo do mesmo jeito nos dias de hoje. Mata-se o profeta e a profetisa pelo incômodo.
A oração universal teve um grande diferencial nestes tempos de pandemia. Na prece pelo papa, veio à mente, a imagem de um ancião, que tem aparecido solitário, caminhando abatido, mas de uma mensagem surpreendente. Um homem que está além do seu tempo. Foi um momento de sintonia, mas ao mesmo tempo de tristeza diante de tudo o que estamos vivendo.
Rezamos especialmente pelos doentes e mortos, vítimas da pandemia. É a continuidade da paixão de Jesus em nossos dias, tão real como nunca. Inúmeras pessoas morriam naquela hora, certamente tantas como nunca. A dor dos que morriam e a dor dos estavam perdendo seus entes queridos sem sequer poder fazer uma despedida.
A adoração da cruz também atípica, como a vida está sendo. Aquele momento em que a multidão canta BENDITA E LOUVADA SEJA, apenas a pequena equipe cantou e o beijo da cruz não aconteceu como antes se fazia todos os anos.
Assim está acontecendo nossa semana santa, a trigésima segunda que tenho a graça de presidir. Na vigília pascal, na alegria da vida que vence a morte, devemos pedir a Deus que este momento seja superado o mais depressa possível para que a vida prossiga com mais tranqüilidade.
Que Deus, na sua infinita bondade, nos abençoe!