9 de junho de 2020

REALIDADE PRISIONAL


08/06/2020
PE BOSCO

Por mais de 20 anos tenho acompanhado a realidade prisional do Brasil com o olhar mais próximo da Paraíba. O sistema com o crescente número de presos tem cada vez se agravado pelo fato de não se conseguir trazer mudanças significativas para o mesmo.
A superpopulação é o grande drama. Os que são presos lá permanecem sem que a justiça defina as suas situações. Aguardam por anos até para que se consiga uma sentença. Enquanto isso, a pessoa já se envolveu e até se comprometeu com a realidade do cárcere e não consegue mais se tornar livre dos esquemas do mundo das drogas, por exemplo.
A ociosidade os mata em celas trancadas por até 22 horas e até tempo integral, dependendo da situação. É que os estados não dispõem de uma política diferente daquela que é de mantê-los trancafiados sem nenhuma atividade. As escolas existentes são tímidas demais pela falta de espaço. Salas de aula se transformam em celas para abrigar novos presos.
Na Paraíba temos uma longa história construída com muitos problemas relacionados com a prisão e os agentes de pastoral carcerária por causa de um sistema muito duro e fechado, marcado também por muita violência, rebeliões e mortes. Temos muitos relatos a respeito.
Hoje podemos dialogar mais com o estado e com o judiciário com mais facilidade e mais acesso.  Dr. Carlos Neves, Dra. Lilian Cananeia e Dr. Marcus Salles, atual juiz corregedor, enquanto judiciário, estão atendendo bem aos apelos que são feitos pela sociedade, no acompanhamento das unidades prisionais. Também com a secretaria, através de diretores da SEAP e dos Secretários Sérgio e João Paulo se tem conseguido amenizar situações, no entanto a realidade é muito desafiadora e temos um caminho longo a percorrer.
O CEDH PB tem dado também uma grande contribuição uma vez que seus membros são constantemente procurados por pessoas diversas que pedem ajuda sobre pessoas detidas. O CEDH que é composto por entidades importantes da sociedade civil e governamental, tem sido de grande importância em toda a sua história em favor da vida como um todo. Hoje Guiany Campos compondo a presidência.
Estamos vivendo um dos piores momentos por conta da pandemia. Nunca, mesmo com as dificuldades, nunca a família deixou de visitar seu familiar como agora. Já estamos por três meses, sem que a pessoa detida possa receber o apoio humano pela visita de filho, esposa, esposo ou pais.
Isso tem gerado muita insegurança, medo e angústia. Em alguns lugares se consegue um contato por videoconferência que dá apenas para que se consiga se vê, mas nem para dialogar a vontade é impossível por ser um encontro monitorado.
O isolamento está redobrado, mesmo assim, o vírus tem chegado aos apenados e também aos agentes penitenciários, que precisam se mobilizar de suas casas para as unidades e vice e versa. Igualmente as unidades sócio educativas de nosso estado também estão atingidas pelo vírus.