25 de janeiro de 2010

MAMAE

SEVERINA FRANCELINO DO NASCIMENTO.



UM RESUMO DE SUA TRAJETÓRIA

Introdução
Hoje, 23 de abril de 2009, recordamos a passagem para a vida definitiva e feliz na casa do Pai de Severina Francelino que algumas de suas irmãs chamavam carinhosamente de DUDU, pois ela foi uma referencia para os irmãos mais novos.
Trata-se de uma passagem onde tudo aconteceu muito rápido, mas bastante avisado por ela. No dia de finados de 2007 ela disse a dois filhos presentes que no ano seguinte não estaria mais para fazer a visita no cemitério e assim aconteceu: foi um descanso eterno em plena atividade.
Passado um ano, lembro como se tudo o que aconteceu tivesse sido ontem. Fui o único filho que pude acompanhar toda situação mais de perto, com muita angustia e muito sofrimento, percebendo que a situação não apresentava sinais de melhora e, ao mesmo tempo, com uma força que só podia proceder de Deus. No relato histórico que tenho dos dias de sua doença está registrado no domingo, 20 de abril, a frase do Evangelho de São João 14,1-2 que foi para mim um bálsamo na ferida do coração, quando Jesus dizia: “Não se perturbe o vosso coração, na casa de meu Pai há muitas moradas”. Pessoas das dioceses do estado da Paraíba rezaram durante a sua doença. Os estados do Nordeste em um encontro também acompanharam e rezaram conosco. De sua família estiveram presentes as suas sobrinhas irmãs: Marinete, Fátima, Gorete e Fernanda residentes na cidade de Natal. Recebi a solidariedade de muitas pessoas: das mais próximas e das mais distantes: uma solidariedade sem limites: O que existe de mais importante em momentos como este.
Foi assim, cercado de presenças queridas que pude conviver com toda aquela difícil situação na confiança no Pai, consciente de que a nossa vida é dom do criador.
Vamos, pois, conhecer um pouco de sua história.

Nascimento
Nasceu no dia 22 de setembro de 1924 no estado da Paraíba, mas foi registrada como norte-riograndense na cidade de São Tomé mais ou menos com cinco anos. Ela se lembrava da mudança e contava como tinha acontecido.

Seus Pais
José Francelino da Silva
Hermínia Candido de Araújo

Seus irmãos
Uma família numerosa:
Sebastião
Maria
Josefa
Marina
Rita
Ninar
José
Francisco
Francisca
Manoel
Alguns irmãos viajaram para Goiás, Rio de Janeiro e Bahia: ela não os encontrou mais. Depois do seu casamento e retorno para a Paraíba perdeu o contato com muitos de sua numerosa família. Comentava muito sobre os irmãos e sinal de que a família era muito importante em sua vida.

Cuidando da família
Com muitos irmãos e irmãs e sua mãe não sendo portadora de muita saúde, coube a ela sendo uma das mais velhas a responsabilidade de cuidar dos irmãos, assumindo o trabalho da casa.
O seu pai trabalhava muito no campo e na criação dos rebanhos acordava sempre pelas madrugadas: ai começou a historia de acordar muito cedo: assim viveu a sua adolescência e sua vida adulta.


A sua Irmã Marina com quem tinha uma grande afinidade era a amiga e companheira das caminhadas, de quem ela tinha muitas saudades quando por longos anos perdeu o contato com a mesma e com quem foi solidária nas necessidades, por exemplo, ao nascer sua filha Marinete.
A sua Irmã, Francisca, ao casar retorna para a Paraíba e vem morar no município de Dona Inês contribuiu com seu retorno à Paraíba.

Nova Família
Nos anos 50, encontrando Francisco que vivia como filho único em casa cuidando dos pais e das atividades rurais realizou o seu casamento, retornando definitivamente para a Paraíba, deixando o sertão do Rio Grande do Norte.

Filhos
Da união do casal ficaram cinco filhos: quatro homens e uma mulher: João Bosco, Jocele, José, Jocildo e Maristela, nascidos na Fazenda Salgado, município de Araruna.

As mudanças
Em 1972 o casal resolveu deixar o Salgado e partiu para uma área mais próxima de Araruna. A mudança foi motivada pelo falecimento do seu sogro. Em seguida três anos depois, outra mudança para Cacimba de Dentro, onde o casal permaneceu até os últimos dias de sua vida.

Elementos que se destacaram muito em sua vida:
· Pessoa que nunca reclamou de nada em sua vida;
· Nunca foi conduzida pelo desanimo, cansaço, medos;
· Foi uma grande companheira das madrugadas independente da hora que isso dormir e independente do que tivesse de urgência ou não para fazer. Estava sempre em pé a partir das 5 horas; pequenas doenças não a deixavam quieta;
· A partir dos anos 80 quando passou a residir na cidade, não perdia nenhuma atividade na igreja.
· Em casa não perdia as celebrações televisivas e demais programas religiosos;
· Tinha motivação para rezar o terço todos os dias pela manha e pela noite. Hábito que sempre fez parte de sua vida;
· A Rede Vida fazia parte de sua vida através da qual ela muito se evangelizou participando da missa como se tivesse na igreja, fazendo todos os gestos: só faltava a comunhão;
· Gostava muito dos poetas populares certamente por fazerem muita referencia ao sertão; lembrava das cantorias na época de sua infância;
· Sempre foi devota do Sagrado Coração de Jesus. Ainda no Rio Grande do Norte, viajava pela madrugada com sua Irmã Marina e seu irmão Sebastião para não perderem a missa da primeira sexta feira. Dizia que ouviam o barulho das onças.
· Estava sempre muito atenta a todos os acontecimentos na sociedade e na igreja, pois acompanhava todas as noticias;
· Era muito sincera, verdadeira, com qualquer pessoa; era também muito comunicativa e cheia de muita alegria; nunca demonstrava tristeza, raiva e desanimo;
· Falava muito sobre a morte e dizia ultimamente que estava perto de seu momento. Não era uma fala de medo e insegurança, mas de uma certeza natural;
· Sempre dizia que não queria ninguém chorando e fazendo escândalos. Aconteceu como ela pediu.
· Era preocupada com a casa, a comida: sinal de alguém muito fiel e responsável com os afazeres do dia a dia.
· Soube viver mais ou menos a rotina de 70 anos de serviços sem reclamar e se dizer cansada e insatisfeita. Sempre muito realizada.
· Era autodidata; sem estudar aprendeu a ler: nos intervalos do dia estava sempre com a bíblia na mão fazendo suas leituras; gostava de cantar; muito inteligente;
· O sertão era para ela um lugar místico do qual ela falava tanto; para mim, por causa dela o sertão é algo que me chama a atenção;
· Já estava mais santa do que pecadora. Deus ouviu a sua oração; pedia para não ficar doente por muito tempo sendo cuidada pelos outros. Como nunca deu trabalho a ninguém não gostaria que isso acontecesse no momento da doença. Deus de fato ouviu sua oração;
· Sua vida fica como um exemplo, uma lição; os filhos precisam aprender muito com seu testemunho;
· Disse-me um grande colega e irmão padre que sua percepção da morte foi uma visão mística: não tenho dúvidas disso; ainda consciente no hospital, cantou, rezou e disse que estava vendo São Francisco;
· Gostava muito da igreja. Os padres da diocese de Guarabira ela conhecia a todos e se sentia a vontade diante de cada um. Muitos colegas também gostavam dela; rezava por todos e ficava contente quando era visitada por eles: gostava de recebê-los em casa;
· Recebendo a comunhão nos seus 70 anos. Foi um momento que reuniu os familiares da irmã Marina em uma grande e bonita celebração realizada em Cacimba de Dentro.
· Lembrava muito do Pe. Joaquim vigário de Araruna que celebrou o seu casamento na Fazenda Seixo perto de Dona Inês e também batizou seus filhos;
· Nunca teve inimizades e não alimentava divisões. Até mesmo aquelas na família eram fortemente combatidas por ela; quando sofria com as situações da vida, mantinha a cabeça sempre erguida;
· Altamente objetiva em relação ao tempo. Nunca chegou atrasada em lugar algum: sabia fazer a hora;

Sua última Páscoa
Passou a semana santa em Mari com João Paulo, seu neto e celebrou a páscoa no dia 23 de março de 2008 participando normalmente de todas as celebrações.
O dia 15 de abril de 2008 foi o último de sua atividade ainda servindo o almoço, trabalho que ela desempenhou por período de quase 70 anos quando começou dar assistência à casa de seus pais e aos irmãos. O seu calvário foi pequeno por que Deus ouviu a sua prece.
A sua ida para o céu no descanso eterno foi no dia 23 do corrente mês às 9 horas, aos 83 anos e sete meses, deixando entre nós um imenso vazio que só Deus pode recompor.

* 22 de setembro 1924
+ 23 de abril 2008

A missa de corpo presente no dia 24 às 9 horas foi presidida por Dom Jaime Vieira Rocha, Administrador apostólico da Guarabira e contou com a presença de aproximadamente vinte padres da diocese de Guarabira, na capela de São Francisco onde aconteceu o velório, lugar onde ela estava ultimamente participando das missas, por ser mais perto de casa.


Muitos outros padres e irmãs se fizeram presentes e acompanharam muito de perto a sua doença no hospital e a sua morte.

UMA MENSAGEM

Na noite da morte,
A CERTEZA DA RESSURREIÇÃO.
Nas tristezas terrenas,
A ALEGRIA DA ETERNIDADE;
Nas inseguranças humanas,
A CERTEZA DO CAMINHO;
Nas trevas da vida,
A CERTEZA DA LUZ DA MANHÃ;
No silêncio sem resposta,
A RESPOSTA DE DEUS;
Na dúvida,
A CERTEZA DA FÉ;
Na dor intensa,
O ABRAÇO DO PAI;
Na ausência dos outros,
A PRESENÇA DO OUTRO;
No aparente fim,
O ETERNO E DEFINITIVO COMEÇO.