24 de abril de 2011

PAULO

A MISTICA DO DISCÍPULO-MISSIONÁRIO

1. VOCAÇÃO DE PAULO
São três elementos que caracterizam a vocação no Novo Testamento:
- Encontro

- Chamado

- Reação
Jesus caminha à beira do Mar da Galiléia e vê Simão e o irmão deste, André, e, em seguida, os filhos de Zebedeu, Tiago e João. (Mc 1,16-20). Há um encontro, um chamado e uma reação ao chamado. O encontro se dá no contexto corriqueiro do dia-a-dia, em meio aos árduos trabalhos da pesca. Ao responder ao chamado de Jesus, deixaram tudo e o seguiram. O ENCONTRO COM JESUS foi tão profundo que deixaram a família, a segurança por um futuro incerto. Onde e quando terminará este caminho? Não o sabem. Estão apenas no começo, mas já sentem no fundo da alma que não haverá mais volta.
Na vocação de Saulo há os mesmos três elementos: o encontro, o chamado e a reação ao chamado, embora em circunstâncias bem diferentes. Em Atos 9,1-22, encontramos a vocação de Paulo. Jesus entra na vida de Saulo e o derruba, faz com que caísse por terra. Jesus o agarrou, o cativou, dominou, conquistou (Fl. 3,12). Não foi uma idéia, uma visão atualizada da conjuntura, uma nova compreensão da história, um estudo bíblico, que o levaram a abandonar o velho caminho e mudar de rumo na direção oposta. "Alguém" entrou em sua vida e causou um verdadeiro terremoto na sua existência. É uma pessoa que o chamou. O Documento de Aparecida n° 12 diz o seguinte: "A todos nos toca recomeçar a partir de Cristo, reconhecendo que não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande idéia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva".
A luz que envolveu Paulo naquele meio-dia diante dos muros de Damasco, impregnou de modo indelével o sinal da presença do Cristo glorioso. Doravante dará testemunho do Senhor "Como se visse o Invisível" (Hebreus 11,27). Jamais esquecerá a hora de Damasco como João nunca esqueceu a hora em que pela primeira vez encontrou o Mestre. (Jo 1,39
Santo Agostinho descreve a profundidade desse ENCONTRO: "Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Eis que habitavas dentro de mim e eu, fora. E aí te procurava e lançava-me, nada belo, ante a beleza que tu criaste. Estavas comigo e eu não contigo. Seguravam-me longe de ti as coisas que não existiriam, se não existissem em ti. Chamaste, clamaste e rompeste a minha surdez, brilhaste, resplandeceste e afugentaste minha cegueira. Exalaste perfume e respirei. Agora anelo por ti. Provei-te e tenho fome e sede. Tocaste-me e ardi por tua paz".
A chave para compreendermos com que força o chamado do Senhor transformou a vida de Saulo está em 1Cor 9,16 "Evangelizar não é título de glória para mim, é, antes, uma necessidade que se me impõe. Ai de mim, se eu não evangelizar".
Paulo fala de sua missão de apóstolo como uma experiência de conversão, entrega total ao Senhor. Nada no mundo poderá separá-lo do Senhor. (Rm 8,35). Quem bebeu desta fonte, mergulhou neste amor jamais será o mesmo. "Tudo que para mi era lucro, tive-o como perda, por amor de Cristo" (Fl. 3,7). Esta é a mística da VOCAÇÃO de Paulo e não existe outra MÍSTICA a não ser esta que é capaz de motivar e sustentar a vocação do discípulo, do missionário, da missionária. "Por Ele, perdi tudo" (Fl. 3,8). Esta é a verdadeira e única base de toda vocação: "Por Ele", esta é sua mística e motivação existencial. Não tem como deixar este caminho, deixar de anunciar o evangelho, como diz a canção: "Tenho que gritar, tenho que arriscar, ai de mim se não o faço. Como calar se tua voz arde em meu peito". Paulo não consegue mais viver sem fazer de sua vida um ardoroso anúncio do Evangelho, um testemunho de sua fé, esperança e caridade. É impossível deixar de bradar pelo mundo afora, nas praças e nas ruas, nos lares e nas igrejas, de dia e de noite, que "Jesus Cristo é o SENHOR, para a glória de Deus Pai .” (Fl. 2,11).
E, exatamente esta é a reação de Paulo ao chamado de Jesus, "imediatamente", sem mais delongas. "Mãos à obra", sem hesitação, receio, sem meias-palavras, sem tibieza ou moleza. A V Conferência em Aparecida "deseja despertar a Igreja na América Latina e no Caribe para um grande impulso missionário. Não podemos deixar de aproveitar esta hora de graça. Necessitamos de um novo Pentecostes! Necessitamos sair ao encontro das pessoas, das famílias, das comunidades e dos povos para lhes comunicar e compartilhar o dom do encontro com Cristo, que tem preenchido nossas vidas de sentido, de verdade e de amor, de alegria e esperança”.
Somos testemunhos e missionários: nas grandes cidades e nos campos, nas montanhas e florestas de nossa América, em todos os ambientes da convivência social, nos mais diversos "areópagos" da vida pública, das nações, nas situações estremas de existência, assumindo ad gentes nossa solicitude pela missão universal da Igreja". (DAp 548)
2. PAULO - SEPARADO PARA O EVANGELHO DE DEUS
Paulo escreve aos Gálatas; "Quando, porém, aquele que me separou desde o seio materno e me chamou por sua graça, houve por bem revelar em mim seu Filho, para que eu o evangelizasse entre os gentios, não consultei carne nem sangue", (Gl. 1,15-16) Paulo usa a mesma linguagem das vocações profética do AT. Com isso, mais uma vez, põe em evidência, que tornar-se apóstolo não é iniciativa particular, pessoal, mas desígnio, obra, graça de Deus. Deus toma a iniciativa. É Ele quem chama e envia. "Desde o seio materno o Senhor me chamou, desde o ventre de minha mãe pronunciou o meu nome" (Is 49,1b).
A história da vocação de Jeremias (Jr 1,4-19) se repete na vida de Paulo, Deus conhece, consagra e constitui profeta. O verbo consagrar significa "Separar" do mundo, tirar das circunstâncias normais para uma pessoa e destinar para o ministério profético.
A reação de Jeremias é muito humana: "Eu não sei falar, porque sou ainda uma criança". O Senhor, porém, responde solenemente como o mandato "A quem eu te enviar, irás e o que te ordenar, falarás" Deus sabe do futuro de seu profeta, antevê as angústias e perseguições que sofrerá por causa deste mandato. É por isso que acrescenta: "Não temas diante deles, pois eu estou contigo para te salvar". Deus jamais abandona seu profeta.
A história de Paulo será semelhante a do profeta Jeremias. Sofrerá muito na missão para a qual Deus o separou e quase recebe do Senhor a promessa: "Certa noite, numa visão o Senhor, disse a Paulo: Não tenhas medo: continua a falar e não te cales, porque eu estou contigo..." (At. 18, 9-10).
"Eu estou contigo!". O apóstolo não é separado do mundo para ficar só. Não se trata em primeiro lugar de uma renúncia a tudo que o mundo oferece. É sempre o amor maior que vence! Deus nunca promete tirar todos os obstáculos, resolver todos os problemas, aplainar todos os caminhos. Deus simplesmente fala "Eu estarei contigo" e essa promessa do Senhor atravessa toda a Bíblia Sagrada.
Sempre quando o Senhor escolhe alguém para uma missão especial, a pessoa chamada ouve a promessa. Mas em todas as circunstâncias, ele sempre contará com a proximidade do Senhor. Moisés reclama: "quem sou eu para ir ao Faraó? Deus simplesmente responde: Eu estarei contigo".
Paulo, "separado para o Evangelho de Deus", nos fornece um relato de sua vida de Servo de Cristo Jesus, chamado a ser apóstolo". São Servos de Cristo" muito mais pelos trabalhos, pelas prisões, por excessivos açoites (2Cor 11,23-28).
O cristão suporta tudo, sem perder o entusiasmo, sem esfriar a paixão, não pode ser por outra coisa, a não ser a promessa do Senhor "Não tenhas medo; continua a falar e não te cales, porque eu estou contigo.." (At. 18,9-10).
(Adaptação do Texto de Dom Erwin Krautler refletido na 46ª Assembléia Geral dos Bispos do Brasil).
3. VOCAÇÃO DO/DA CATEQUISTA:
Profeta (aquele/la que fala em nome de Deus), porta-voz, arauto do Evangelho, a iniciativa sempre parte de Deus, portanto, o chamado a ser catequista, não é algo pessoal, mas obra divina, graça. A missão do catequista está na raiz da palavra CATEQUESE, vem do grego e quer dizer (fazer eco), logo, catequista é aquele/la que se coloca a serviço da Palavra, torna-se instrumento para que a Palavra ecoe. O Senhor lhe chama para que através da sua comunicação, da sua voz, a Palavra seja proclamada, Jesus Cristo seja anunciado e testemunhado.
"Fazer Ecoar a Palavra ", se dá num processo permanente da educação da fé, portanto a catequese é concebida como educação da fé, e o catequista é o educador da fé, o mistagogo, aquele/la que conduz para dentro do Mistério, que possibilita a experiência do encontro com Jesus, respeitando a individualidade, a realidade em que a pessoa se encontra.
Não é transmissor de idéias, conhecimentos, doutrina, pois sua experiência fundante está no ENCONTRO PESSOAL com a pessoa de Jesus Cristo. Essa experiência é comunicada pelo SER, SABER e SABER FAZER em comunidade (DNC 261). O ser e o saber do catequista, sustentam-se numa espiritualidade, da gratuidade, da confiança, da entrega, da certeza de que o SENHOR está presente, é fiel.
3.1) IDENTIDADE O DISCÍPULO MISSIONÁRIO SEGUNDO Mc 3, 14-15
Para ajudar a compreender e viver essa nova proposta para a formação de catequista há importantes referências inspiradoras no chamado ou convite de Jesus para o discipulado missionário, conforme o relato de Marcos 3,14-15 “Subiu à montanha, foi chamando os que quis, e foram com ele. Nomeou doze para que convivessem com ele e para enviá-los a pregar com poder para expulsar demônios”. Destacam-se cinco dimensões que, bem compreendidas e assumidas, podem revolucionar o modo de formar catequista no Brasil
1) ENCONTRO: ser cristão não é simplesmente aceitar uma doutrina e ser fiel a determinadas normas, mas é seguir uma pessoa que nos atrai a si e conquista o nosso coração: JESUS DE NAZARÉ. É responder ao chamado de Jesus e colocar-se a caminho, seguindo seus passos, movido pela força de seu Espírito. É entrar na dinâmica processual do discipulado. Importância de uma catequese querigmática, que suscita o ENCANTAMENTO e faz arder o coração.
O seguidor deve reproduzir a estrutura fundamental da vida de Jesus: encarnação, missão, cruz e ressurreição e, ao mesmo tempo, atualizá-la, inspirado e animado pelo Espírito de Jesus e de acordo com as exigências do contexto em que vive. O itinerário de Iniciação à Vida Cristã vai configurando e moldando a identidade cristã, conforme o mantra: “Até que Cristo se forme em vós, em mim, em ti, em nós” – Gl 4,19
2) CONVERSÃO: É a resposta inicial de quem escutou o Senhor com admiração, crê nele pela ação do Espírito, decide ser seu amigo e ir após ele, mudando sua forma de pensar e viver, aceitando a cruz de Cristo, consciente de que morrer para o pecado é alcançar a vida. No batismo e no sacramento da reconciliação se atualiza para nós a redenção de Cristo.
3) DISCIPULADO: “nomeou doze para que convivessem com Ele”, é a relação entre Mestre e discípulo. Catequese é lugar privilegiado para levar o catequizando a colocar-se na escola do Mestre Jesus e assimilar seus ensinamentos, mais do que isso assumir uma postura de vida um MODO DE SER E VIVER. Dinâmica processual e transformadora que abarca todas as dimensões da realidade humana, com o objetivo de assimilar os ensinamentos de JESUS e tornar-se semelhante a ele, dando continuidade a sua missão.
4) COMUNHÃO: esse aspecto marca o desejo de partilhar com outras pessoas essa graça extraordinária da experiência de estar e viver com o Senhor e, também de experimentá-lo comunitariamente com outros discípulos missionários, na fraternidade, na alegria, na oração, no compromisso.
5) MISSÃO: os 12 escolhidos por Jesus poderiam se acomodar na felicidade de terem sido eleitos e de estarem usufruindo da convivência com o Mestre. A dimensão missionária é constitutiva do seguimento de Jesus. Cada discípulo atrai outros, para anunciar juntos a boa nova e depois fazer discípulos em todos os povos
3.2) UM NOVO PERFIL DE CATEQUISTA PARA INICIAÇÃO CRISTÃ:
É necessário o acompanhamento na formação do catequista para a catequese iniciática. Não queremos mais pensar em uma formação como simples repasse de conceitos, alguém que repete o que ouviu nos cursos e congressos. Mas nosso horizonte maior será formar catequistas competentes, capazes de responder aos inúmeros desafios da nossa realidade atual. (DAp,n.12).
O catequista é um anunciador da Palavra de Deus. “Desconhecer a Escritura é desconhecer Jesus Cristo e renunciar a anunciá-lo”. (DAp, n.247). Será capaz de narrar com competência as obras do Deus Salvador nas Escrituras, das ações de Jesus Cristo nos Evangelhos e na nossa história de vida pessoal e da comunidade iluminados pelo Espírito Santo. É importante acentuar a centralidade do mistério pascal em nossa narração.
Formar para perceber e ler os sinais dos tempos. Criar a sensibilidade para perceber Deus atuando em nossa história de vida pessoal e também na comunidade de fé. O catequista terá a missão de olhar a realidade na perspectiva propositiva, com olhar crítico e ao mesmo tempo esperançoso. Não é um especialista em determinadas áreas, mas alguém que foi introduzido no Mistério Cristão, fez a experiência do encontro com o ressuscitado e que hoje, como discípulo, se coloca a serviço do Reino com uma grande abertura para se deixar guiar e iluminar pelo Espírito Santo com a missão de educar as futuras gerações à maturidade na fé.
O novo catequista procurará desenvolver um projeto de formação continuada e global, suscitando a conversão e o crescimento na fé. Itinerário sistemático e orgânico com a finalidade de educar à maturidade na fé e a transmissão da mensagem cristã.
Essa mensagem deverá ser gradual, focalizada sempre no essencial, a pessoa e os ensinamentos de Jesus Cristo, favorecendo a dinâmica do encontro e do discipulado. É importante acentuar também a capacidade do catequista de transmitir aos outros suas experiências de vida cristã.

3.3) CATEQUISTA MISTAGOGO:

MISTAGOGIA NO PROCESSO PEDAGÓGICO DA FÉ

 
A catequese mistagógica tem a função de anunciar com fervor o Kerigma (AT 8,30-31.334.35).
Anunciar Jesus Cristo vivo é uma tarefa que o batismo nos impõe. Descobrir os “novos areópagos” hoje se constitui num grande desafio para a catequese. É necessário voltar a anunciar JC em nossos ambientes. Trata-se de uma urgência pastoral: ou anunciamos Jesus Cristo novamente ou o mundo já não será mais cristão.

 
ANÚNCIO COMO MENSAGEM EVANGÉLICA/CRISTÃ: (DNC 97)
“Na catequese, quando se fala em conteúdo, pensa-se em geral na doutrina e na moral”. Mensagem é comunicação de algo importante. João Paulo II afirmou: “Quem diz mensagem diz algo mais que doutrina”. Quantas doutrinas de fato jamais chegaram a ser mensagem. A mensagem não se limita a propor idéias: ela exige uma resposta, pois é interpelação entre pessoas, entre aquele que propõe e aquele que responde. A mensagem é VIDA.
O termo mistagogia vem entrelaçado com o termo iniciação cristã. A mistagogia é vista como processo que conduz ao Mistério, logo INICIAÇÃO CRISTÃ é INICIAÇÃO AO MISTÉRIO.
Mistério: palavra grega (mystérion) usada no Novo Testamento para designar o plano de salvação que o Pai realizou em Cristo Jesus (Ef. 1,3-14), principalmente por sua Morte e Ressurreição, por conseqüência, mistério é tudo o que a Igreja realiza para manifestar e realizar essa salvação divina ao longo da história, sobretudo os sacramentos (a palavra latina sacramento é tradução da palavra grega mystérion). A iniciação cristã é sempre iniciação aos mistérios de Cristo Jesus e de sua Igreja, através, sobretudo, do exercício da vida cristã e da celebração dos sacramentos.
À semelhança da palavra pedagogo, o catequista mistagogo é aquele que introduz o catecúmeno ou catequizando nos mistérios da fé; todos os que trabalham no processo catecumenal são mistagogos: bispo, ministros ordenados, religiosas, catequistas, introdutores, família, pais, padrinhos....
A presença do mistagogo é um elemento essencial para a catequese de iniciação à vida cristã. Ele numa ação dialógica vai conduzindo o catequizando à mistagogia. A ação mediadora entre o mistério e o iniciante é que orienta o processo mistagógico.
O catequista-mistagogo apropria-se da cultura pedagógica da iniciação, pois não entramos no MISTÉRIO através do saber, do conhecimento, o mistério resiste à representatividade, às explicações, se apaga no segredo. No entanto, a gente se deixa penetrar por ele e nele. Não se entra, portanto no mistério. È se INICIADO nele. Que condições a iniciação poderia ser um caminho pedagógico possível e fecundo numa sociedade que não é mais iniciadora, em que se banaliza o sagrado, e a sacramentalização ainda é imperante.

 
Pela Comissão: Ir. Zélia M.Batista, CF