18 de dezembro de 2013

EU QUERO JUSTIÇA

Diante dos inúmeros casos de violência se tem escutado um grito: QUERO JUSTIÇA!! A justiça tem a sua estrutura muito complexa e podemos dizer feita de compartimentos: ela é federal, eleitoral, trabalhista, criminal, estadual, etc. O acesso à mesma não é tão difícil, mas o seu funcionamento tem um ritmo que a torna inviável para cumprir a sua missão. Existem muitas situações nas quais a pessoa morre e não tem o seu pedido atendido pela justiça. Ouvi de um magistrado que a estrutura do judiciário está totalmente defasada diante das exigências e do ritmo da sociedade. Quando o evangelho foi escrito, o próprio Jesus já recomendava que talvez fosse melhor fazer as pazes com o inimigo enquanto caminham para o tribunal. Chegando lá o juiz te entrega ao carcereiro e de lá não sairás enquanto não pagares o último centavo. Mateus 5, 20ss. Estas palavras parece terem sido ditas para os nossos dias. De fato ter esperança na justiça, de modo geral, salvas possíveis particularidades é algo muito difícil. Existem muitas experiências negativas e decepcionantes. Essa é a realidade geral, por exemplo, em nossas prisões. Uma pessoa fica dois anos presa para depois se ter uma posição sobre a sua inocência ou não. Em nosso estado um pernambucano ficou preso e esquecido; cumpriu 18 anos de prisão sem ter direito a nenhum beneficio, isto é, ficou o tempo integral em regime fechado. Em Roma a famosa estatua símbolo da justiça com os olhos vendados tem o sentido de dizer que a justiça não deve ver para fazer acepção de pessoas, mas lamentavelmente, na sociedade como um todo, existem as regalias para os que têm dinheiro, nome e posição social ao contrario dos pobres que são condenados por serem suspeitos. Por mais que se diga que não temos racismo no Brasil, em nosso estado, os negros são os que são assassinados em sua maioria. Mas voltando ao grito que se tem escutado, a pessoa só se interessa pela justiça quando ela sofre na pele a dor da perda de pessoas queridas. O mesmo também acontece com as prisões. Quando tenho alguém da família é que vou sentir o peso da prisão em minha vida. Quero justiça, tem o sentido do castigo e de punição em nossa sociedade. Quem está pedindo justiça recebe o quê da mesma? Nada! Realmente o estado não oferece nenhum apoio às vitimas da violência. Os serviços de assistência social dificilmente chegam para serem presença. Os vizinhos e familiares chegam apenas no momento e depois desaparecem após o velório e o sepultamento, ficando assim a família em total abandono. Na realidade, a família da vitima e do agressor ficam inimigas, num grande sofrimento e a justiça como está hoje, apenas pune que agride e nada mais acontece. Tudo, portanto, fica em torno da punição e do castigo por parte do estado, sem o acompanhamento dos serviços relacionados com a justiça. É por isso que hoje se tem colocado em pauta e em pratica uma justiça que procura restaurar as relações entre vitimas e agressores, pois sem isso, o circulo de violência permanece cada vez mais presente nas relações sociais. Não basta dizer eu não tenho raiva, eu perdoei. As exigências evangélicas dessa relação passam pela iniciativa de ir ao encontro ao encontro, para que a outra pessoa tenha a certeza de que o circulo da vingança e da violência foi quebrado. De fato, a reconciliação é mais importante do que o culto. Como dizia Santo Agostinho: “quem vive bem reza bem; quem reza bem vive bem”. Só vive bem e reza bem quem tem uma vida reconciliada com Deus e com o seu próximo. pebosco@yahoo.com.br