22 de julho de 2020

RELIGAR



22/07/2020
PE BOSCO

Religião vem de uma palavra latina ligada ao verbo religare, no sentido de religar o ser humano ao seu Deus. Se olharmos hoje para as inúmeras expressões ligadas à religião, fica a dúvida da sua finalidade.
Já no tempo de Jesus o grande conflito se dava por causa da forma como a vida religiosa acontecia para o judaísmo. É do nosso conhecimento o apego presente na prática dos escribas, sacerdotes, fariseus e saduceus, com a dimensão exterior e de apego à exterioridade da lei.
Não resta dúvida de que Jesus caminhava na direção religiosa, se assim podemos falar, de religar-se com Deus, enquanto o sistema religioso do momento seguia outra direção. Por isso aconteceram tantos conflitos em tão pouco tempo e, por eles, Jesus foi condenado à morte.
Um fato muito visível é o culto no templo, tomado pelos cambistas e todos os tipos de animais para serem vendidos para os sacrifícios. Nos evangelhos com todas as narrativas a respeito de Jesus, esse é o único momento que podemos dizer que Jesus usou da força e derrubou mesas e expulsou os vendilhões do templo. Imagino que o texto pretenda ressaltar a insatisfação de Jesus. Não resta dúvidas de que se trata de uma lição para todos os tempos sobre o sentido do culto, do templo e do papel da religião.
A casa do Pai, que deve ser o lugar de religar-se com Deus se tornou apenas um ambiente de troca de coisas que rendessem moeda financeira. Essa preocupação precisa estar presente na nossa missão. Precisamos hoje de recursos para a manutenção da missão, mas podemos enfatizar a todo o momento essa necessidade. Também não se aproveitar do culto como oportunidade para arrecadar fundos.
Hoje ouvi um convite para empreendedores. Uma missa exclusiva para eles. Longe de julgar as intenções, mas não deveríamos reduzir a celebração que deve sempre ser comunitária e, portanto aberta a todos, a grupos fechados, o que parece contrário à comunhão.
Os momentos de cultos devem ser momentos de profunda oração, de silêncio, de ação de graças, de celebração da vida vivida e também ponto de partida para a missão. Rezar e pedir a Deus pela humanidade e pelas nossas reais necessidades e nunca buscar benefício próprio, numa negociata com Deus, ou rezar por causa do padre como se houvesse diferença do mistério celebrado por um ou por outro. Isso acontece com freqüência e distorce o sentido profundo da graça de Deus em nossa vida.

Religião não é estereótipo, ritualismo bonito, teatro ou algo parecido. Isso se pode encontrar com muito mais qualidade em outros ambientes. Isso não significa tirar o zelo e a beleza da liturgia, no entanto, religar-se a Deus pela cruz de Jesus e pela sua ressurreição é o essencial da vida cristã. Se isso conseguirmos já estamos no mais essencial da prática cristã.