7 de outubro de 2015

PERDAO

PERDÃO: PORTA EM DIREÇÃO À PAZ MENTA
Robin Casarjian, PERDOAR, Edições Urano S.A. 1998.


Há muitos modos de definir o Perdão, porque ele muito significa. É uma decisão, uma atitude, um processo e uma forma de vida. É algo que oferecemos a outras pessoas e algo que aceitamos para nós.  
O Perdão é uma decisão pessoal de ver para além dos limites da personalidade de outra pessoa, de seus medos, idiossincrasias, neuroses e erros, a decisão de ver uma essência pura, não condicionada por historia pessoal, que tem uma capacidade ilimitada e sempre é digna de respeito e amor. Na verdade, quando perdoamos, é possível que vejamos a tela (identidades baseadas ou condicionadas por um medo), mas a vemos no contexto da luz que ilumina o núcleo interior de cada um.
O Perdão é uma atitude que supõe estar disposto a aceitar a responsabilidade das próprias percepções. O Perdão é uma atitude de escolher olhar para uma pessoa que talvez haja sido julgada automaticamente e advertir que, na realidade, é algo mais que a pessoa “espantosa” ou insensível que vemos.
Uma consequência desta opção é que ao mudar as percepções, mudam também as relações emotivas. No lugar do homem furioso que viu que lhe atacava faz cinco minutos, pode ver agora o menino pequeno assustado e frustrado, que é responsável por sua falta de delicadeza ou de critério maduro. Mesmo adultos, temos em nosso interior a criança interior ferida, que na infância sofreu a negação do afeto, amor, compreensão, atenção e consolo. O Perdão nos capacita a perceber, sob um comportamento insensível, esta criança ferida, os condicionamentos passados e o grito pedindo auxílio, amor e respeito.
O Perdão é um processo que exige mudança de percepção. Não é algo que acontece de uma vez por toda. Nossa visão atual está obstruída por juízos e percepções do passado projetado ao presente; nisto, as aparências nos enganam com facilidade. Quando escolhemos mudar nossa perspectiva por uma visão mais ampla e profunda, podemos reconhecer e afirmar a maior verdade de quem somos e de quem são os demais. Como resultado desta mudança surge uma maior compreensão e compaixãopor nós mesmo e pelos demais. Cada vez que fazemos essa mudança debilitamos o monopólio do ego sobre nossas percepções e nos capacitamos para deixar ir embora e liberar o passado. O Perdão costuma ser experimentado como um sentimento de prosperidade, paz, amor e abertura de coração, alívio, expansão, confiança, liberdade, alegria e uma sensação de estar fazendo o correto.
O Perdão é uma forma de vida que nos converte gratuitamente de vitimas de nossas circunstâncias, a poderosos e amorosos co-criadores de nossa realidade. Enquanto forma de vida, supõe o compromisso de ver cada instante como algo novo, com claridade  e sem temor. O desaparecimento das percepções obstaculizaria nossa capacidade de amar. Em último termo, é essencial perdoar em cada momento  da vida se desejamos ser livres e capazes de avançar.
O Perdão nos ensina que podemos estar em desacordo com alguém sem retirar-lhe nosso carinho. Nos leva, além de nosso temor e mecanismos de sobrevivência, a uma visão  valente que nos oferece um novo campo de eleição e liberdade, no qual podemos descansar das nossas lutas. Nos guia até onde a paz é uma desconhecida. Dá-nos a possibilidade de saber qual é nossa verdadeira força.
O Perdão não está no que “fazemos”, mas  na maneira como “percebemos”as pessoas e as circunstâncias. É um modo distinto de se ver o que se está fazendo e o que foi feito. Às vezes se tomam decisões em nome do Perdão, quando não se perdoa em absoluto. É importante não confundir perdão com negação dos próprios sentimentos, necessidades e desejos. Perdoar não significa ser passivo e manter um trabalho ou uma relação que evidentemente não funciona ou nos faz sofrer. É importante saber claramente quais são os próprios limites.
Se estivermos dispostos a permitir repetidos comportamentos inaceitáveis em nome do “Perdão”, o mais provável é que estejamos utilizando o Perdão como uma escusa para não assumir a responsabilidade de cuidar de nós mesmos ou para evitar fazer mudanças. Numa situação laboral, por exemplo, o Perdão não lhe exime de resolver o que deseja fazer, de enfrentar os problemas, ou de buscar outro trabalho se o que tem, o faz sentir-se infeliz. Com frequência os limites entre perdoar e iludir são subjetivos.
Perdoar a si mesmo é provavelmente o maior desafio que podemos encontrar na vida. É o processo de aprender a ter amor próprio e aceitar a nós mesmos do jeito que somos, “aconteça o que acontecer”.