11 de agosto de 2018

AGENDA NACIONAL


Agenda Nacional pelo Desencarceramento

A Pastoral Carcerária Nacional e entidades parceiras estiveram reunidas para discutir a agenda pelo desencarceramento. A reunião aconteceu em São Paulo nos dias 2 e 3 de julho de 2016.
A agenda é uma espécie de “Mandamentos” por nos apresentar dez propostas para uma política em vista do desencarceramento. O que se segue é uma brevíssima apresentação de maneira muito simples, para os nossos agentes de pastoral, uma vez que a agenda, como está tem um linguajar mais técnico e jurídico. Aqui se trata simplesmente de uma tentativa de leitura a ser sempre aprofundada e construída.
 Primeira proposta: Não ampliar vagas para novas prisões.
 A proposta tem por fundamento um mundo sem prisões, por isso, não se deve criar nenhuma vaga a mais no sistema prisional, isto é, nenhuma construção deve ser feita para abrigar pessoas detidas. Deve haver a suspensão de verbas para esta finalidade. As comunidades não devem aceitar que o estado faça construções prisionais. Nossas comunidades precisam ter outros investimentos como escolas, hospitais, etc. Se defendemos essas construções, estamos defendendo o pior dos malefícios para nós mesmos: qualquer pessoa pode ser vitima de uma injustiça na prisão.
Segunda proposta: Reduzir a população prisional e os danos causados por ela.
 Isso deverá acontecer através de um Pacto Republicano entre todos os poderes. Já existem mecanismos como o indulto, as audiências de custodia, alternativas penais, etc. O judiciário precisa tomar consciência que a prisão apenas pune, castiga e mata. A sentença para a prisão é uma sentença de morte.
Terceira proposta: alteração na legislação.
As leis devem ser alteradas para que a prisão seja a última possibilidade, a exceção e não o contrário como tem acontecido. Hoje se prende para investigar. Isso significa que todas as pessoas suspeitas vão para a prisão e lá permanecem esquecidas e sem audiência. Existem muitas prisões ilegais e abusivas, conforme expressão da agenda.  A pessoa humana precisa estar acima das leis e não a lei para a opressão do ser humano.
Quarta proposta: pela descriminalização das drogas.
 A droga tem sido a causa de muitos males na sociedade e, através delas, a juventude tem superlotado as prisões. A sociedade precisa dar um passo no sentido de que o uso e o trafico não seja considerado como crime. O trafico tem matado muitas pessoas. Nessa guerra são as pessoas pobres e negras das periferias são as maiores vitimas. É bom estudar como anda esta questão nos países que descriminalizaram as drogas. Se descriminalizarmos as drogas já vamos desafogar as prisões. Elas em nada combatem as drogas uma vez que elas permanecem sendo usadas na própria prisão.
A proposta certamente trará muitas inquietações, mas deve ser caminho seguido para o desencarceramento.
Quinta proposta: contração máxima do sistema penal e abertura para a justiça horizontal.
A busca pela justiça nos tribunais tem criado uma lentidão burocrática que ate mesmo os juizados especiais já não atendem mais em tempo hábil. Por isso, há a necessidade de uma justiça horizontal e comunitária, na linha da justiça restaurativa que leve em conta as práticas restaurativas entre ofensores e ofendidos. Uma justiça que pune o agressor e esquece a vitima que foi agredida, não terá condições, por causa dos seus princípios, de criar espaços para a reconciliação. Se as pessoas chegarem a um processo de entendimento, antes da esfera judicial, certamente teremos muito menos pessoas ocupando espaços nas prisões.
Sexta proposta: Ampliação das garantias da LEP.
A Lei de Execuções Penais já normatizam direitos e deveres e funções do estado e dos órgãos de execução penal. O problema é que a própria lei é permanentemente descumprida e sem a devida fiscalização de modo que o desrespeito se torna regra geral. A lei precisa ampliar as garantias reais de direitos uma vez que muitas pessoas idosas e doentes precisariam ir para a prisão domiciliar. É grave a situação dos doentes mentais nas unidades e a falta total da assistência à saúde; o desrespeito aos familiares, sobretudo na revista vexatória; a pessoa presa precisa ser avaliada com ampla defesa, com a participação de um conselho disciplinar.
Sétima proposta: abertura do cárcere para monitoramento através de mecanismos com a participação da comunidade.
O estado brasileiro insiste na tese do isolamento da pessoa presa, criando muitos obstáculos para que a sociedade se faça presente na vida prisional. Hoje, além da família e dos grupos religiosos, ninguém tem acesso às prisões. Os organismos de monitoramento precisam cada vez mais se organizar para a presença nas prisões. A prisão não pode ser um espaço de segregação que criminaliza ate a família. A comunidade não pode aceitar o fechamento da prisão por parte do estado, nem se eximir dessa função.
Oitava proposta: jamais o estado deve privatizar o sistema prisional.
 A pessoa humana não pode ser objeto a ser comercializado como no tempo da escravidão. O estado não pode delegar funções punitivas. Onde existem experiências de privatização ou terceirização, a situação se torna mais grave e com uma despesa muito maior, abrindo-se ainda mais os espaços para a corrupção. Na privatização fica mais evidente que Quanto mais presos maior será o lucro. Na agenda pelo desencarceramento não há nenhum espaço para nenhuma experiência de terceirização ou privatização. Nem a igreja, como instituição deve assumir experienciais que substituam o estado nessa matéria. Trata-se, portanto, de matéria inegociável.
Nona proposta: prevenção e combate à tortura.
Os órgãos de monitoramento devem estar muito atentos às praticas de tortura nas unidades prisionais. O Ministério Público precisa ter uma ação muito intensa na visita para acompanhar a execução da pena; do mesmo modo os juízes de execução; as sanções coletivas precisam ser tratadas como pratica coletiva de tortura como também as celas escuras com chapões na entrada; os Mecanismos Estaduais autônomos devem ser instituídos como também os Conselhos da Comunidade precisam não depender da Execução Penal para realizarem as inspeções. As audiências de custodia além de diminuírem as prisões, devem, também, apurarem as torturas muito comuns por ocasião das prisões.
Décima proposta: A Desmilitarização das Policias da gestão pública.
A Organização das Nações Unidas já recomendou a desmilitarização e unificação das policias do Brasil. Desmilitarizar significa desvincular as polícias das forças armadas.
No Rio de Janeiro as pesquisas indicam as inúmeras mortes que são atribuídas às policias do Rio de Janeiro. Ver matérias no G1. Grande número de policiais está a favor desse processo uma vez que a militarização também trata os policias de forma desumana em uma disciplina que esmaga esses profissionais enquanto seres humanos. Inúmeros policiais são punidos pelos superiores sem direito a defesa.
Além dessa situação, inúmeros serviços como trânsito, guardas municipais e agentes de segurança penitenciaria estão se utilizado do poder de polícia. Quando deveria fazer um trabalho na linha da segurança e da educação das pessoas, seguem o caminho de outra função.
Nas policias como um todo não se tem uma política de segurança publica, mas uma política de repressão, de violência, que traz como consequências a morte de civis e de policiais. Por esses motivos, se discute a desmilitarização, que deve ser compreendida em uma nova dinâmica na segurança publica.  
pebosco@yahoo.com.br