3 de dezembro de 2010

Qual é a missão da Pastoral Carcerária?

Esta é uma pergunta é fundamental e devemos sempre respondê-la, pois devemos saber o que queremos em nossa ação pastoral. Muitas vezes fica a impressão de que todos não sabem o que queremos. Às vezes o comportamento de alguns agentes de pastoral nos dá a impressão de que não trabalham com pessoas, mas com espíritos e até adotam os mesmos comportamentos de quem está fora. Isso é muito grave.
Vale salientar que no pensamento bíblico mais original não existe corpo sem alma, por isso, não se pode pensar que a pastoral não deve se preocupar com o que acontece na prisão. A pessoa é sempre um todo. Não se salva alma sem corpo. Não estamos mais na teologia do “salva a tua alma”, como se fazia no tempo da escravidão.Em uma reunião de cúpula se chegou a sugeriu que as denuncias fossem feitas não pela pastoral, mas pelos serviços de direitos humanos.
Depois da prisão em si o que existe de mais grave no sistema é o tratamento dispensado aos presos: ameaça, tortura física e psicológica, castigo, corte da água, não socorrer para o medico, não fornecer o remédio, em suma, negar a assistência prevista na Lei. O estado que não cumpre seus deveres.
Faz parte dos objetivos específicos da pastoral “levar o evangelho aos cárceres e colaborar para que os direitos humanos sejam garantidos através de denuncias e propostas de medidas de conciliação e paz”.
Aqui contamos com duas colunas fundamentais: o evangelho e a vida. É possível distinguir a pastoral de uma equipe que visita a prisão. Se a equipe que visita ainda não tem a compreensão de que a vida está acima da lei, e por isso, é necessário denunciar tudo aquilo que agride a vida, esta equipe ainda não pode ser denominada de pastoral carcerária.
Toda pastoral assume o comportamento do bom pastor que defende as ovelhas a todo custo dando a própria vida.
Se o medo nos impede de correr o risco para denunciar, não podemos ser pastoral carcerária. Isso significa que só rezar não é fazer pastoral, pois pastoral supõe ação, naturalmente alimentada pela oração.
Jesus está crucificado em cada pessoa presa. Em Mateus 25 encontramos: “Eu estava preso e vocês foram, ou não me visitar”. Ninguém faz uma visitar para sair da mesma maneira que entrou. O compromisso solidário com o crucificado deve acontecer ou pelo contrario seremos conivente com a prática da crucifixão.
Denunciar não é perder a cabeça, perder a esperança e fazer um enorme barulho que para nada serve. Levantar uma poeira enorme e depois esquecer o problema não leva a lugar nenhum.
A constatação de que as denuncias diminuíram é sinal de que a pastoral perdeu sua dimensão profética e não pelo fato de terem diminuídos os problemas que, pelo contrario, aumentaram.
Denunciar é manter uma postura clara, tranqüila, constante, mas muito firme naquilo que queremos e que nos pede o evangelho, levando ao conhecimento das autoridades que identificamos como contrario ao que orienta a Lei de Execução Penal. Ela, que juntamente com a palavra de Deus levada no coração devem fundamentar as nossas convicções e as nossas denuncias.
O sistema carcerário, a partir de seus responsáveis precisa perceber que nós temos uma postura evangélica, educada, não violenta, mas profundamente vigilante como aquela atitude da viúva que pede justiça ao juiz. É pelo nosso testemunho e por uma atitude vigilante e questionadora que vamos provocar o sistema para que o mesmo seja melhor.
Temos discutido sobre o numero de agentes que é uma necessidade, mas temos que conjugar a numero com a qualidade necessária para o desempenho da nossa missão.