22 de janeiro de 2013

MISTICA DA PCR


Pastoral Carcerária.

 

A mística

 

A mística da PCR e de quem quer ser Agente da mesma é a convicção profunda de ter sido chamado (a) por Deus. Não se pode ir ao cárcere sem ter feito a experiência do amor de Deus que nos chama. Somos amados por Deus, sempre, quando não somos merecedores desse amor, amados como somos e nos sabemos fracos e pecadores: de má qualidade.

Na mística cristã devemos partir de nossa pobreza e do Deus das misericórdias. Como um artista, Deus aproveita o que em nós existe: defeitos e impurezas, para nos aprimorar, como se faz com a escultura em pedra ou bronze.

Assim acontece com as faltas de nossos irmãos encarcerados. A oferta a Deus de nossas experiências negativas e de nossa historia de pecado é riquíssima, porque exalta a misericórdia de Deus extensiva a toda humanidade.

A mística da PCr é a consciência profunda de sermos amados e queridos por Deus. Isso provoca no coração uma grande gratidão a Deus e aos irmãos. Nessa relação profunda de amor vamos percebendo que o amor de Deus nos chega através de gestos muito concretos: somos vistos, tocados, amados, abraçados, levantados em nossas quedas. No contato com os encarcerados podemos ver o nosso próprio rosto, nossa fragilidade, pecados, mas com a consciência que fomos por Deus enviados  a eles para sermos ali a presença de Jesus e da igreja em um lugar de sofrimentos e, em nossa experiência de sermos amados apesar de nossos pecados, pobreza e miséria, fazê-los descobrir que eles são também amados por Deus.

Faz parte da mística da PCR ir ao cárcere com o sentimento profundo de gratidão e não de lamentação, independentemente dos resultados que conseguimos. Como dizia Santa Teresinha: “Se eu não estive preso não estive preso não foi por meus méritos, foi pela grande misericórdia que Deus me teve”.

Vou ao cárcere em primeiro lugar por gratidão a Deus; em segundo lugar, porque lá tenho irmãos e irmãs e sou responsável para que façam a experiência de se sentirem amados por Deus. Sou responsável pelo meu irmão, ao contrario de Caim. Genesis 3. Todos os que estão nas prisões já foram vitimas de muitas injustiças e sofrimentos e no cárcere os pobres passam por inúmeros sofrimentos.

A grande esperança para o cárcere é que Deus escute os clamores e se ofereça como libertador, como Deus agiu com os escravizados no Egito. Trata-se do Deus enamorado de seu Povo e a ele Fiel.

Em nossa mística devemos ir ao cárcere sem medo, sem fazer julgamentos e com grande esperança e confiança com a certeza de que Deus já trabalha em cada coração  e que o cárcere não é só um lugar de trevas mas um lugar de ressurreição.

Jesus morreu por todos e em especial por aquelas pessoas detidas. Além disso, Jesus escolheu a prisão como lugar privilegiado de sua presença. Antes de entrar na casa do Pai Jesus escolheu a prisão como sua ultima morada. Por isso cremos que na prisão existe uma presença especial de Deus. Ali, como encarcerado, Jesus salva a humanidade. Jesus faz o ato mais importante de sua vida que é entregar-se por todos nós, estando preso. Jesus vive todo o processo judicial desses irmãos privados de liberdade. Jesus é denunciado, traído, arrastado, coroado de espinhos, julgado, condenado e executado Jesus viveu tudo o que vive o preso de nossos dias. Há uma identidade e semelhança muito fortes entre Jesus e nossos condenados de hoje.

Certamente é por isso que ao visitarmos uma unidade prisional, por mais sofrida que seja a realidade encontrada, saímos diferentes de como entramos, em virtude de nosso encontro com Jesus. Uma hora de cárcere é uma hora de adoração.

Na prisão os cristãos não só escutam a Palavra de Deus, mas também podem perceber o que Deus deseja como também o concreto pedido de Deus para que se responda a Ele. Responder é assumir-se como instrumento de Deus e de sua Palavra, isto é, se tornar instrumento de proximidade e de reconciliação entre as pessoas encarceradas.

A nossa mística consiste em assimilar o projeto Libertador de Jesus:

·         Levar a Boa Nova aos pobres;

·         Anunciar a liberdade a presos;

·         Libertar os que estão sendo oprimidos;

·         Dar vista aos cegos. Lucas 4, 18-19.

A nossa mística consiste em assumirmos a dimensão da pobreza e do aniquilamento para nos enriquecermos com a graça de Deus. Filipenses 2.

 

Na vivencia de nossa mística devemos responder a estas perguntas:

 

·         O que quer o Senhor da pessoa presa?

·         O que quer o Senhor de cada voluntario diante do desafio das prisões?

·         O que quer o Senhor de toda a sua Igreja diante do encarceramento?

·         O que quer o Senhor de nossos povos diante da realidade do cárcere?

 

 

A oração.

Nossa oração como agentes de PCR tem que ser cheia de confiança, persistente, concreta e precisa, comprometida com a problemática das pessoas presas. A figura que mais vai nos inspirar é o próprio Jesus que juntava de forma perfeita a oração com a prática de sua vida.

Jesus vivia na oração a experiência do deserto e do silencio. Muitas vezes pessoas presas ficam por trinta dias e mais em celas solitárias não por opção, mas como castigo. Temos nos unir no silencio da nossa oração a esses momentos que se repetem nas prisões do mundo. Como diz São Paulo, devemos nos lembrar dos presos como se estivéssemos presos com eles. Lembrar significa visitar, mas também viver a comunhão através do deserto e da oração. Afastar-se para ver melhor é uma necessidade de nossos dias e uma exigência evangélica para nós agentes de pastoral.

 

Oração Confiante:

A confiança na oração deve se basear na confiança daqueles que carregaram o paralitico até a presença de Jesus, colocando-o por cima do telhado. Imaginemos que Jesus não desse a mínima para aqueles homens. A ação dos mesmos é seguida de uma imensa certeza de que seriam atendidos e, de fato, foram plenamente atendidos. Vendo a fé deles, Jesus se dirigiu ao homem que foi duplamente curado, uma libertação integral, livre da prisão do leito e do pecado. Trata-se de rezar com a certeza de sermos escutados. Marcos 2, 1-12.

 

Oração Persistente

Uma oração persistente como a do cego Bartimeu que mesmo sendo obrigado a se calar, grita mais alto até ser atendido por Jesus. Não só na oração, mas em nossas ações devemos gritar, como gritam os presos, como condição para serem escutados. De fato, ninguém quer escutar o grito de um pobre, cego, mesmo que o seu desejo seja dos melhores: enxergar. Contra a vontade dos próprios discípulos, Jesus o escuta e manda chamá-lo. Temos que ser persistentes como aqueles que não encontram outro caminho, a não ser a persistência. Marcos 10,46-52.

 

Oração Precisa

Uma oração precisa nós encontramos em Jairo que pede a Jesus para impor as mãos em sua filha para que fique curada. Marcos 5, 23. Também a  mulher com hemorragia tem objetivos muito claros na sua oração: tocar na veste de Jesus é a certeza de ficar curada. São objetivos concretos e pontuais, sem ambiguidades e imprecisões. Como agentes de pastoral carcerária temos que ser precisos em nossas orações diante das necessidades de nossos irmãos. O que estamos rezando? O que estamos pedindo a Deus?

 

 

Dimensões da nossa mística e do nosso ministério pastoral:

 

1.      Vinculação entre Deus e a pessoa presa. Necessidade de Deus na prisão. A pessoa presa é sai imagem, sua obra perfeita, é um produto do seu amor, amado antes da própria existência. (Salmo 138). Não há, para Deus, criatura superior a esta pessoa presa.

2.      Vinculação de Deus com a(o) agente de pastoral. (Oração-Envio). Trata-se do encontro entre Jesus de Nazaré encarcerado e o agente de pastoral. Devemos falar a Cristo a respeito do irmão encarcerado.

3.      Vinculação do (a) agente de pastoral com a sociedade. (Historia e sentido). Mostrar a todos a presença de Jesus em todas as pessoas presas e a pessoa presa que vive em Jesus.

4.      Vinculação do (a) agente de pastoral com a pessoa presa (Kerigma-Resurreição). Importa visão que a pessoa presa tenha de si mesma desde a perspectiva de Jesus de Nazaré que o prepara para uma nova vida.

5.      Visão do encarcerado com a sociedade. (Reconciliação). Estabelecer laços de proximidade.

6.      Vinculação será uma relação sempre nova sempre querida por Deus: Dele com seu povo como Pai e como Filhos.

 

 

 

Pe. Bosco

Out. 2012.

 

Fonte de Pesquisa:

V Encontro Latinoamericano e do Caribe, 2004