Tenho sido perguntado se ainda estou na pastoral carcerária; tenho
respondido que sim. A pastoral deve ser o centro da vida do ministro ordenado.
Como dizia o apóstolo dos pagãos: ai de mim se não evangelizar. 1 cor. 9,16.
A minha relação com a pastoral carcerária começou quando eu estava recém
ordenado no começo dos anos 90. A pequena equipe de pastoral que visitava uma
pequena unidade sempre recorria a mim, pároco na cidade, para dar suporte nos
momentos mais críticos que a equipe precisava enfrentar.
A partir daquele momento tenho atendido aos apelos que a pastoral me tem
feito. Não escolhi a pastoral carcerária: fui escolhido por ela e acolhi o
apelo pois Deus chama a partir de pessoas e de acontecimentos.
Ao longo desses anos, permaneço onde sempre estive: aberto a todas as
pessoas mas com a atenção fixada na pessoa que está presa. Costumamos dizer que
existem muitas vítimas no sistema penitenciário, mas, a vítima principal é a
pessoa presa e sua família. Devemos cuidar de todas as vítimas, porém, as
maiores vítimas merecem maior atenção.
O que justifica a minha ação pastoral, nesta pastoral:
Trata-se de uma pastoral profundamente evangélica. Ninguém pode dizer
não ao agir pastoral, sobretudo aquele que se encontra enraizada na pratica de
Jesus, aquele apresentado no juízo final em Mateus 25.
Temos identificado que a pessoa presa está doente, está com fome, com
sede, está sem roupa, é estrangeira, etc., além de ser a pessoa presa
apresentada como a pessoa do próprio Jesus. Nessa ótica, tudo o que fizermos
aos outros é a ele que fazemos, Ele nos garante.
A fé nunca pode ser desvinculada da vida; nós agentes de pastoral
carcerária temos a graça de no dia a dia nos depararmos com esse desafio: a fé
confrontada com o ser humano sofrido mas também com esperança e fé para
continuar a sua vida depois da prisão mesmo que o estado e a sociedade não lhe
ofereçam as oportunidades.
O Papa Francisco tem nos dado também os fundamentos da nossa ação
pastoral, pelas suas visitas, suas palavras, gestos e defesa da dignidade da
pessoa humana, condenando de forma veemente a pratica da tortura. Além disso o
papa Francisco tem defendido a possibilidade de a igreja sair ao encontro dos
outros como condição para evangelizar. Convidar e acolher são palavras que não
ecoam mais de forma eficaz. A igreja precisa ir, mesmo para se acidentar se for
o caso, correndo os risco da missão.
O papa tem chamado a atenção para a presença da igreja nas periferias.
Normalmente a periferia é vista como o lugar da exclusão e da marginalização.
Muitos cristãos querem distância da periferia e também não querem pessoas da
periferia presentes nos ambientes próprios da burguesia. Nos presídios muitas
pessoas não querem ir. São aquelas pessoas que rezam e estão nas missas
mas não entenderam a missão da igreja e as orientações do papa. O papa
Francisco fala das periferias existenciais. As prisões são periferias de
exclusão, de marginalização, de repressão, de segregação, de extorsão e de
inúmeros problemas e dramas existenciais, por isso, se a igreja for aquela mãe
que põe no colo, como recomenda o papa, ela deve ser presença em todos os
ambientes onde o ser humano está vivendo sob formas de escravidão. Padres e
bispos, sobretudo, precisam perder o medo das prisões, como condição para
sermos verdadeiros pastores. Respeitam-se os carismas mas a presença solidaria
deve ser o carisma comum a todas as pessoas cristãs, independentemente de suas
opções pastorais como condição para uma vida verdadeiramente cristã.
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