Sempre em Travessia.
Depois
da partilha dos pães, Mateus 14,13-21, Jesus mandou os discípulos entrassem na
barca e seguissem para o outro lado do mar enquanto ele despedisse as
multidões. Mateus 14,22.
Aquela
travessia para aqueles experientes pescadores, como Pedro, teve um alto preço
por causa da tempestade provocada pelo vento contrário. É noite, uma barca
certamente muito frágil, total insegurança e a ordem de Jesus para seguirem
viagem.
Esta
cena não é estranha para nós agentes de pastoral carcerária pelo Brasil afora.
O nosso sistema carcerário se constitui de um mar sempre muito agitado, de
ondas gigantes: Carandiru, Pedrinhas, Roger, só para citar três nomes que se
destacam. De experiências de mar agitado nós, agentes, presentes em todo Brasil
entendemos bem. Quando aquela prisão
está aparentemente tranquila é sinal de que algo pode acontecer. Somos até
avisados com antecedência de que a realidade vai se agravar.
Como
pastoral vamos seguindo também no nosso barco entre ondas às vezes muito altas
e outros momentos mais amenas, porem, sempre presentes.
Os
discípulos estavam tão desesperados que não foram capazes de reconhecer o
mestre e, além do modo da tempestade, se sentiram diante de um fantasma. Só
diante da palavra e da presença do Senhor na barca foi que reinou a
tranquilidade. Também nós, agentes de pastoral podemos ter essa sensação de que
estamos sós, mas se trata apenas de uma vaga impressão, pois, mesmo sem
perceber, o Senhor está presente no nossa barca e sempre vindo ao nosso
encontro e nos dizendo, vem, como disse a Pedro para ir ao seu encontro. Ele
nos garantiu permanecer conosco até o fim dos tempos. Nossa pastoral acontece
sempre através de pequenas equipes e Ele também nos garantiu que onde duas ou
três pessoas estiverem reunidas em nome Dele Ele se fará presente. Assim, por
mais atribulado que esteja o mar, precisamos estar nele porque nele também está
o Senhor conosco.
De
fundamental importância para a nossa atividade pastoral é também a figura do
profeta Elias, condenado à morte depois da derrota de Baal, no primeiro livro
dos Reis 18,36-40. A situação se tornou tão desesperadora para ele que o mesmo
também desejou a própria morte. As
situações desesperadoras da nossa pastoral são muitas dentro do sistema
carcerário repressor. Desânimo e desencanto também fazem parte da nossa vida de
agentes, mas Deus se manifesta hoje como se manifestou a Elias.
Elias
é orientado a ficar numa gruta lá no Monte Horeb, o Monte de Deus onde passou a
noite. Toda pessoa cristã precisa desse recolhimento, em pleno silêncio. Como
estamos vivendo essa experiência do silencio em nossa vida de agentes de
pastoral? Onde fica a nossa gruta? Talvez estejamos totalmente tomados pela
cultura do barulho que ao invés dele a nos incomodar seja o silêncio que nos
incomode.
Elias
é convidado para um encontro com Deus na entrada da gruta. Ele o espera em meio
aos barulhos das rochas, entre labaredas, mas só consegue fazer o encontro com
Deus em uma brisa tão suave que ele quase não consegue ouvir, apenas sentir.
Essas
duas imagens da barca e do Monte de Deus devem nos falar muito. Jesus chega à
barca sacudida pelo vento da forma mais serena; Deus chega à vida atribulada de
Elias também da forma mais leve e suave.
Só
podemos ser agentes de pastoral carcerária capazes de uma grande compaixão para
com todas as pessoas merecedoras dela se formos capazes de uma grande comunhão
com o Senhor em tudo aquilo que estivermos realizando a dupla dimensão:
Discipulado-missão;
missão-discipulado.
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