Grito dos/as Excluídos/as é uma realidade ultrapassada?
Desde
1995 que a CNBB tem mantido a experiência do Grito dos Excluídos. O grito
surgiu como contraponto ao Grito da Independência do Brasil. Como é sabido, no
dia 7 de setembro se continua comemorando a independência em um país que
convive com inúmeras dependências; por isso, se promove outro grito, um grito
pela vida.
A
libertação da escravidão no Egito só aconteceu por causa dos clamores do povo,
portanto, é necessário clamar, gritar. O Senhor disse: "Eu vi, eu vi a aflição de meu povo que
está no Egito, e ouvi os seus clamores por causa de seus opressores”. Êxodo 3:7-9
A
opressão e o sofrimento não passam despercebidos por Deus. Ele não é
indiferente.
Vejam a recomendação dada por Deus a Moises: “Vai, eu te
envio ao faraó para tirar do Egito os israelitas, meu povo". Em tudo isso
está o fundamento do grito dos que são excluídos da terra, da moradia, da
saúde, do emprego, do salário, etc.
O Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA) divulgou em novembro
de 2013 que a diferença entre os mais ricos e os mais pobres é de 175 vezes.
Dados da ONU, Organização das Nações Unidas, afirmam que no
mundo há entre 600 e 800 mil pessoas submetidas a regimes de escravidão.
A ONU estima que o tráfico humano consiga chegar a,
aproximadamente, 32 bilhões de dólares por ano, passando a ser um dos crimes
mais rentáveis do mundo ao lado do tráfico de armas e drogas.
No mundo, apenas 85 pessoas detém 46 por cento de toda
riqueza produzida no planeta.
No Brasil, segundo dados do IBGE divulgados em novembro de
2013, os 10 por cento mais ricos concentram 41,9 por cento da renda, enquanto
os 10 por cento mais pobres detém 1,1 por cento dos rendimentos.
Portanto, o
Brasil continua entre os países mais desiguais do mundo.
Dados do Setor Social da CNBB
Portanto, o Grito tem diante de si, a Vida em Primeiro Lugar.
A vida só é bem vivida quando se tem “Liberdade e Direitos”. Não temos motivos
para não gritar, isto é, para não trazer átona essa realidade que escraviza e
mata milhares de pessoas extermínio da juventude negra, violência contra a
mulher, povos indígenas e tradicionais, presidiários (as), enfim a
criminalização dos pobres.
Como entender desnecessário esse grito na defesa da vida? O
grito pela vida não pode ser considerado como superado. Superado está quem não
consegue perceber a realidade que nos envolve.
O papa Francisco no seu livro: A Igreja da Misericórdia na
pagina 25, faz a seguinte citação: “Ficar surdo a esse clamor, quando somos os
instrumentos de Deus para ouvir o pobre, nos coloca fora da vontade do Pai e de
Seu projeto, porque esse pobre clamaria ao Senhor contra ti, e aquilo se
tornaria para ti um pecado”. Deuteronômio 15,9.
Podemos concluir afirmando que o Grito sintetiza os cuidados
e a preocupação da igreja que, como o Bom Pastor, está atenta aos clamores do
seu povo como outrora no deserto; também em Jesus Deus foi ao encontro do seu
povo para libertá-lo de todas as escravidões e experiências de morte.
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