Temos a necessidade de cada vez mais refletirmos sobre a violência que
se espalha por todo o país. Houve um tempo em que se atribuía a violência às
camadas populares como sendo causas do fenômeno da pobreza, coisa das
periferias. Hoje, como se percebe, essa concepção não mais se justifica, pois a
violência além de ser institucionalizada abrange também todas as camadas da
sociedade.
Se as inúmeras conferências sobre Segurança Pública serviram para alguma
coisa, não serviram para combater a violência, pois, o próprio estado faz
segurança pública com violência. As comunidades consideradas “pacificadas” se
viviam em forte tensão, continuam com ela, pois a presença do estado que
deveria chegar com toda a sua estrutura de saúde, educação, assistência social
e psicológica, chega apenas com as armas e com elas não se faz a paz. A arma é
e será sempre símbolo de guerra. Por isso que o profeta Isaias fala em
transformar os instrumentos de guerra em instrumentos de trabalho. Se não é
isso o que acontece, peço desculpas pelo meu equivoco, mas penso que onde
existe o medo não existe a pacificação. O medo das armas e dos disparos, seja
de policiais, seja de quem comanda o tráfico faz com que a comunidade viva sem
paz, aliás, paz é a somatória de realização de todas as necessidades para que o
ser humano viva realizado e feliz.
A existência da violência para além de tudo isso é que somos a favor
dela e, mais que isso, externamos as nossas atitudes violentas. Um pequeno
acidente no transito não pode ser motivo para uma briga e até mortes. O carro
bateu no outro, não adianta reclamar, já bateu. A única coisa a ser feita é o
entendimento e o reparo do carro na oficina. A violência existe porque o ser
humano coloca seu patrimônio acima da vida das pessoas. O ser humano tem muito
menos valor do que qualquer objeto, por isso ele pode ser descartado, pisado,
matado, queimado, jogado fora... A violência existe por nossa culpa. Ela é um
elemento cultural que nós adotamos ou não. O modo de enfrentar os problemas
segue um caminho de promoção da paz ou da violência.
Não podemos nos esquecer de que a ideia de educar ainda passa pela
violência, claro que no passado isso era muito mais acentuado que hoje, mas
normalmente nós só reproduzimos em regra geral, aquilo que fez ou faz parte de
nossa cultura, veja, por exemplo, as nossas comidas, nossas festas, nossos
hábitos, como tudo isso muda de povo para povo.
A cultura do medo, do castigo e da repreensão de forma autoritária, como
é de praxe, não educa para o diálogo, a confiança, a abertura, a partilha, etc.
Não vou me confiar a quem não me compreende, não me acolhe, não me estende a
mão para me levantar e me proporcionar vida. Por esse motivo, os filhos não
dialogam com os pais porque os pais não ensinaram isso como primeiros
educadores. Tiveram um comportamento sempre autoritário em nome do respeito e
da autoridade de pais. Toda essa pesada historia da nossa cultura e das nossas
relações, hoje somadas aos meios de comunicação fazem com que temos a cultura
do descartável, do desprezo aos outros e da violência. Uma cultura de paz não
se constrói em “paz pela paz”, mas paz pela justiça, na partilha dos bens e da
vida, pois uma levará sempre à existência da outra além de ressaltar que a paz
começa em cada pessoa, sobretudo em seu coração e se irradia na direção e na
relação com o outro.