Pastoral Carcerária.
A mística
A mística da PCR e de quem quer ser Agente
da mesma é a convicção profunda de ter sido chamado (a) por Deus. Não se pode
ir ao cárcere sem ter feito a experiência do amor de Deus que nos chama. Somos amados
por Deus, sempre, quando não somos merecedores desse amor, amados como somos e
nos sabemos fracos e pecadores: de má qualidade.
Na mística cristã devemos partir de nossa
pobreza e do Deus das misericórdias. Como um artista, Deus aproveita o que em
nós existe: defeitos e impurezas, para nos aprimorar, como se faz com a
escultura em pedra ou bronze.
Assim acontece com as faltas de nossos
irmãos encarcerados. A oferta a Deus de nossas experiências negativas e de
nossa historia de pecado é riquíssima, porque exalta a misericórdia de Deus
extensiva a toda humanidade.
A mística da PCr é a consciência profunda
de sermos amados e queridos por Deus. Isso provoca no coração uma grande
gratidão a Deus e aos irmãos. Nessa relação profunda de amor vamos percebendo
que o amor de Deus nos chega através de gestos muito concretos: somos vistos,
tocados, amados, abraçados, levantados em nossas quedas. No contato com os
encarcerados podemos ver o nosso próprio rosto, nossa fragilidade, pecados, mas
com a consciência que fomos por Deus enviados a eles para sermos ali a presença de Jesus e
da igreja em um lugar de sofrimentos e, em nossa experiência de sermos amados
apesar de nossos pecados, pobreza e miséria, fazê-los descobrir que eles são
também amados por Deus.
Faz parte da mística da PCR ir ao cárcere
com o sentimento profundo de gratidão e não de lamentação, independentemente
dos resultados que conseguimos. Como dizia Santa Teresinha: “Se eu não estive
preso não estive preso não foi por meus méritos, foi pela grande misericórdia
que Deus me teve”.
Vou ao cárcere em primeiro lugar por
gratidão a Deus; em segundo lugar, porque lá tenho irmãos e irmãs e sou
responsável para que façam a experiência de se sentirem amados por Deus. Sou
responsável pelo meu irmão, ao contrario de Caim. Genesis 3. Todos os que estão
nas prisões já foram vitimas de muitas injustiças e sofrimentos e no cárcere os
pobres passam por inúmeros sofrimentos.
A grande esperança para o cárcere é que
Deus escute os clamores e se ofereça como libertador, como Deus agiu com os
escravizados no Egito. Trata-se do Deus enamorado de seu Povo e a ele Fiel.
Em nossa mística devemos ir ao cárcere sem
medo, sem fazer julgamentos e com grande esperança e confiança com a certeza de
que Deus já trabalha em cada coração e
que o cárcere não é só um lugar de trevas mas um lugar de ressurreição.
Jesus morreu por todos e em especial por
aquelas pessoas detidas. Além disso, Jesus escolheu a prisão como lugar
privilegiado de sua presença. Antes de entrar na casa do Pai Jesus escolheu a
prisão como sua ultima morada. Por isso cremos que na prisão existe uma
presença especial de Deus. Ali, como encarcerado, Jesus salva a humanidade.
Jesus faz o ato mais importante de sua vida que é entregar-se por todos nós,
estando preso. Jesus vive todo o processo judicial desses irmãos privados de
liberdade. Jesus é denunciado, traído, arrastado, coroado de espinhos, julgado,
condenado e executado Jesus viveu tudo o que vive o preso de nossos dias. Há
uma identidade e semelhança muito fortes entre Jesus e nossos condenados de
hoje.
Certamente é por isso que ao visitarmos
uma unidade prisional, por mais sofrida que seja a realidade encontrada, saímos
diferentes de como entramos, em virtude de nosso encontro com Jesus. Uma hora
de cárcere é uma hora de adoração.
Na prisão os cristãos não só escutam a
Palavra de Deus, mas também podem perceber o que Deus deseja como também o
concreto pedido de Deus para que se responda a Ele. Responder é assumir-se como
instrumento de Deus e de sua Palavra, isto é, se tornar instrumento de
proximidade e de reconciliação entre as pessoas encarceradas.
A nossa mística consiste em assimilar o
projeto Libertador de Jesus:
·
Levar a Boa Nova aos pobres;
·
Anunciar a liberdade a presos;
·
Libertar os que estão sendo oprimidos;
·
Dar vista aos cegos. Lucas 4, 18-19.
A nossa mística consiste em assumirmos a
dimensão da pobreza e do aniquilamento para nos enriquecermos com a graça de
Deus. Filipenses 2.
Na vivencia de nossa mística devemos responder a estas
perguntas:
·
O que quer o Senhor da pessoa presa?
·
O que quer o Senhor de cada voluntario
diante do desafio das prisões?
·
O que quer o Senhor de toda a sua Igreja
diante do encarceramento?
·
O que quer o Senhor de nossos povos diante
da realidade do cárcere?
A oração.
Nossa oração como agentes de PCR tem que
ser cheia de confiança, persistente, concreta e precisa, comprometida com a
problemática das pessoas presas. A figura que mais vai nos inspirar é o próprio
Jesus que juntava de forma perfeita a oração com a prática de sua vida.
Jesus vivia na oração a experiência do
deserto e do silencio. Muitas vezes pessoas presas ficam por trinta dias e mais
em celas solitárias não por opção, mas como castigo. Temos nos unir no silencio
da nossa oração a esses momentos que se repetem nas prisões do mundo. Como diz
São Paulo, devemos nos lembrar dos presos como se estivéssemos presos com eles.
Lembrar significa visitar, mas também viver a comunhão através do deserto e da
oração. Afastar-se para ver melhor é uma necessidade de nossos dias e uma exigência
evangélica para nós agentes de pastoral.
Oração Confiante:
A confiança na oração deve se basear na
confiança daqueles que carregaram o paralitico até a presença de Jesus,
colocando-o por cima do telhado. Imaginemos que Jesus não desse a mínima para
aqueles homens. A ação dos mesmos é seguida de uma imensa certeza de que seriam
atendidos e, de fato, foram plenamente atendidos. Vendo a fé deles, Jesus se
dirigiu ao homem que foi duplamente curado, uma libertação integral, livre da
prisão do leito e do pecado. Trata-se de rezar com a certeza de sermos
escutados. Marcos 2, 1-12.
Oração Persistente
Uma oração persistente como a do cego
Bartimeu que mesmo sendo obrigado a se calar, grita mais alto até ser atendido
por Jesus. Não só na oração, mas em nossas ações devemos gritar, como gritam os
presos, como condição para serem escutados. De fato, ninguém quer escutar o
grito de um pobre, cego, mesmo que o seu desejo seja dos melhores: enxergar.
Contra a vontade dos próprios discípulos, Jesus o escuta e manda chamá-lo. Temos
que ser persistentes como aqueles que não encontram outro caminho, a não ser a
persistência. Marcos 10,46-52.
Oração Precisa
Uma oração precisa nós encontramos em
Jairo que pede a Jesus para impor as mãos em sua filha para que fique curada.
Marcos 5, 23. Também a mulher com
hemorragia tem objetivos muito claros na sua oração: tocar na veste de Jesus é
a certeza de ficar curada. São objetivos concretos e pontuais, sem ambiguidades
e imprecisões. Como agentes de pastoral carcerária temos que ser precisos em
nossas orações diante das necessidades de nossos irmãos. O que estamos rezando?
O que estamos pedindo a Deus?
Dimensões da
nossa mística e do nosso ministério pastoral:
1. Vinculação entre Deus e a pessoa presa. Necessidade de Deus na prisão. A
pessoa presa é sai imagem, sua obra perfeita, é um produto do seu amor, amado
antes da própria existência. (Salmo 138). Não há, para Deus, criatura superior
a esta pessoa presa.
2. Vinculação de Deus com a(o) agente de pastoral. (Oração-Envio). Trata-se
do encontro entre Jesus de Nazaré encarcerado e o agente de pastoral. Devemos
falar a Cristo a respeito do irmão encarcerado.
3. Vinculação do (a) agente de pastoral com a sociedade. (Historia e
sentido). Mostrar a todos a presença de Jesus em todas as pessoas presas e a
pessoa presa que vive em Jesus.
4. Vinculação do (a) agente de pastoral com a pessoa presa (Kerigma-Resurreição).
Importa visão que a pessoa presa tenha de si mesma desde a perspectiva de Jesus
de Nazaré que o prepara para uma nova vida.
5. Visão do encarcerado com a sociedade. (Reconciliação). Estabelecer laços
de proximidade.
6. Vinculação será uma relação sempre nova sempre querida por Deus: Dele
com seu povo como Pai e como Filhos.
Pe. Bosco
Out. 2012.
Fonte de Pesquisa:
V Encontro Latinoamericano e do Caribe, 2004