Nunca defenda a prisão como se fosse
positiva; como se fosse um remédio para a criminalidade; como se sanasse a
violência. Um dia você poderá ser vítima dela, se não você, mas alguém de sua
família. Não pense como os outros, ou pela cabeça dos outros. Na verdade, a
prisão foi pensada para fazer com que a pessoa se recolhesse, refletisse e
procurasse repensar a sua vida, mas, para isso, ela deveria ser assistida, ajudada,
tratada como gente, para se reorganizar na vida. Nada disso, em hipótese
alguma, acontece.
Tudo na prisão está relacionado a
morte. Infeliz da pessoa que é condenada pela justiça a ir para a prisão. Lá
ela deveria perder apenas a liberdade, e nunca a sua condição de pessoa humana,
mas ao contrário, ela perde não só a condição humana como a própria vida.
Um período, por pequeno que seja,
marca de forma negativa, e, curioso, não importa o tamanho da cadeia, a prisão
tem as mesmas características. Onde estão 16 presos em celas separadas, só
existe uma hora de banho de sol para cada cela. Poderia ser completamente
diferente, mas os mesmos padrões são mantidos. Uma cadeia desse porte infringe
a lei, como se faz num presídio que retira o banho de sol. Por lei duas horas,
pela lei da cadeia, ou de quem está no plantão, uma hora ou nenhuma.
Em presídios grandes tem televisão,
cantina, celas mais organizadas, e individualizadas, para quem tem dinheiro. Se
tem cantina dentro da prisão é porque tem quem compre e deixe de lado a comida
oferecida. Numa cadeia com 18 pessoas não pode haver um rádio nem uma
televisão. O isolamento é total, nenhuma atividade.
Para uma pessoa refazer a vida na
prisão é preciso assistência religiosa e psicológica; necessita-se de escola,
leitura e alguma ocupação, enfim... Quem cuida da prisão não pode pensar apenas
em segurança, como de modo geral está organizada a unidade prisional. O agente
não é uma pessoa próxima que atende, salvas as exceções.
A condenação não é simplesmente a
sentença, como deveria ser, mas um conjunto infinito de sofrimentos como
castigo pelo suposto delito, que em muitos casos não aconteceu ou aconteceu
fora dos parâmetros da condenação que está em jogo.
A prisão é um dos maiores males
implantados na sociedade. Ela é fonte de violência, de morte, de desvio de
recursos. É um dinheiro perdido. É como o dinheiro que judas recebeu pela morte
de Jesus. Gasta-se na prisão para favorecer a morte de milhares de pessoas, as
detidas e seus familiares. A prisão é a degradação da vida humana. Os que
passam pelas grades, mesmo fora delas, continuam aprisionados, rotulados,
estigmatizados para o resto da vida. Como ser a favor de uma estrutura que
apenas mata fisicamente, psicologicamente, socialmente e culturalmente?
Que adianta ter avanços em tantas
áreas de atuação se estamos neste estágio degradante no sistema carcerário
brasileiro, se a questão é muito mais grave em muitos lugares do que no tempo
da escravidão? Como aceitar essa
situação se a obra prima da criação é tratada de forma mais degradante que as
outras criaturas?
Deus não está presente em nenhum
tribunal que condena o ser humano a essa situação; Deus não está presente em
nenhum templo religioso que esteja a favor da conjuntura prisional brasileira,
por mais belo que seja o culto. A vida humana é tão sagrada como o culto.
Comemos a carne de Cristo no culto para tocá-la, curá-la no irmão que sofre em
toda e qualquer forma de prisão. Fomos libertados por Cristo para vivermos
livres (Gálatas 5,1). Como podemos escravizar uns aos outros, por um julgamento
injusto que não leva em conta a vida e a história de cada pessoa?
Como conseguimos separar a nossa
vida dos nossos cultos? Como rezamos, fazemos as bonitas liturgias no domingo
se não semana usamos da tirania ou concordamos com ela? Como fazer apologia ao
crime defendendo as duras punições, os tratamentos cruéis e desumanos nas
prisões? Até quando os cristãos vão separar fé e vida? Até quando nós, os tidos
religiosos, vamos carregar esse dualismo, reduzindo a presença de Cristo aos
templos, se somos templos de Deus?
Nosso culto pode estar
vazio, desagradando ao próprio Deus, como está escrito no profeta Isaias
capitulo 1: “Eu não quero todos esses sacrifícios que vocês me oferecem.
Estou farto de bodes e de animais gordos queimados no altar; estou enjoado do
sangue de touros novos, não quero mais carneiros nem cabritos. Precisamos do
culto que agrade ao Senhor e cada vez mais nos aproxime dele através da nossa
proximidade com as pessoas excluídas.
Por isso o sonho de Deus
é um mundo sem prisão alguma. Deus não nos criou para as algemas mas para a
vida paradisíaca.
Pe Bosco