Com 726 mil presos, Brasil tem terceira maior população carcerária do
mundo
Publicado em 08/12/2017 - 14:18
Por Andreia Verdélio – Repórter da Agência
Brasil Brasília
Brasil é o terceiro país com maior número de
pessoas presas, atrás dos Estados Unidos e China Wilson Dias/Agência
Brasil
O total de pessoas encarceradas no Brasil
chegou a 726.712 em junho de 2016. Em dezembro de 2014, era de 622.202. Houve
um crescimento de mais de 104 mil pessoas. Cerca de 40% são presos provisórios,
ou seja, ainda não possuem condenação judicial. Mais da metade dessa população
é de jovens de 18 a 29 anos e 64% são negros.
Os dados são do Levantamento Nacional de
Informações Penitenciárias (Infopen) divulgado hoje (8), em Brasília, pelo
Departamento Penitenciário Nacional (Depen), do Ministério da Justiça.
O sistema prisional brasileiro tem 368.049
vagas, segundo dados de junho de 2016, número estabilizado nos últimos anos.
“Temos dois presos para cada vaga no sistema prisional”, disse o diretor-geral
do Depen, Jefferson de Almeida. “Houve um pequeno acréscimo nas unidades
prisionais, muito embora não seja suficiente para abrigar a massa carcerária
que vem aumentando no Brasil”, afirmou
De acordo com o relatório, 89% da população
prisional estão em unidades superlotadas. São 78% dos estabelecimentos penais
com mais presos que o número de vagas. Comparando-se os dados de dezembro de
2014 com os de junho de 2016, o déficit de vagas passou de 250.318 para
358.663.
A taxa de ocupação nacional é de 197,4%. Já
a maior taxa de ocupação é registrada no Amazonas: 484%.
A meta do governo federal era diminuir a
população carcerária em 15%. Com a oferta de alternativas penais e
monitoramento eletrônico, segundo Almeida, foi possível evitar que 140 mil
pessoas ingressassem no sistema prisional.
“E quase todos os estados estão com um
trabalho forte junto aos tribunais de Justiça para implementar as audiências de
custódia, para que as pessoas não sejam recolhidas como presos provisórios”,
explicou o diretor do Depen. Além disso, há a previsão da criação de 65 mil
novas vagas para o no próximo ano.
O Brasil é o terceiro país com maior número
de pessoas presas, atrás de Estados Unidos e China. O quarto país é a Rússia. A
taxa de presos para cada 100 mil habitantes subiu para 352,6 indivíduos em
junho de 2016. Em 2014, era de 306,22 pessoas presas para cada 100 mil
habitantes.
Tipificação dos crimes
Os crimes relacionados ao tráfico de drogas
são os que mais levam pessoas às prisões, com 28% da população carcerária
total. Somados, roubos e furtos chegam a 37%. Homicídios representam 11% dos
crimes que causaram a prisão.
O Infopen indica que 4.804 pessoas estão
presas por violência doméstica e outras 1.556 por sequestro e cárcere privado.
Crimes contra a dignidade sexual levaram 25.821 pessoas às prisões. Desse
total, 11.539 respondem por estupro e outras 6.062 por estupro de vulnerável.
Perfil dos presos
Do universo total de presos no Brasil, 55%
têm entre 18 e 29 anos. “São jovens que estão encarcerados”, disse o
diretor-geral do Depen. Observando-se o critério por estado, as maiores taxas
de presos jovens, com menos de 25 anos, são registradas no Acre (45%), Amazonas
(40%) e Tocantins (39%).
Levando em conta a cor da pele, o
levantamento mostra que 64% da população prisional são compostos por pessoas
negras. O maior percentual de negros entre a população presa é verificado no
Acre (95%), Amapá (91%) e Bahia (89%).
Quanto à escolaridade, 75% da população
prisional brasileira não chegaram ao ensino médio. Menos de 1% dos presos tem
graduação.
No total, há 45.989 mulheres presas no
Brasil, cerca de 5%, de acordo com o Infopen. Dessas prisões, 62% estão
relacionadas ao tráfico de drogas. Quando levados em consideração somente os
homens presos, o percentual é de 26%.
Mais investimentos
De acordo com Almeida, os resultados do
Infopen ajudam a direcionar as políticas públicas para o sistema prisional e na
correta aplicação dos recursos financeiros, tanto da União quanto dos estados. O levantamento, em breve, será substituído pelo Sistema de Informações
do Departamento Penitenciário Nacional (SisDepen), que vai coletar
informações padronizadas e mais eficazes sobre a situação dos presídios.
Segundo o diretor-geral, o Depen está
investindo em políticas públicas que qualifiquem a porta de entrada, de saída e
as vagas do sistema, de forma a propiciar um “ambiente prisional mais humano”.
Almeida disse que o Depen aplicará mais
recursos em políticas de monitoramento eletrônico (tornozeleiras) e de
alternativas penais, para penas diferentes da privação de liberdade, além de
intensificar a implementação das audiências de custódia junto ao Poder
Judiciário. Além disso, as políticas com os egressos do sistema prisional serão
expandidas para que eles voltem a trabalhar.
O governo federal também continuará
investindo na reforma, ampliação e construção de unidades prisionais para que
mais vagas sejam ofertadas. Serão investidos recursos para módulos de saúde,
educação e outros tipos de ambientes “para que as pessoas possam cumprir as
penas com maior respeito à sua dignidade”.
Em dezembro de 2016, o Ministério da Justiça liberou R$ 1,2 bilhão aos estados, do Fundo
Penitenciário Nacional (Funpen), para construção de presídios e modernizar o
sistema penal. A medida veio após a edição da Medida Provisória (MP) 755,
permitindo a transferência direta de recursos do Funpen aos fundos estaduais e
do Distrito Federal.
Em agosto de 2015, o Supremo Tribunal Federal decidiu que as verbas do
fundo não podem ficar com saldo acumulado. A decisão obrigou o Executivo a liberar o
saldo acumulado do Funpen.
Segundo Almeida, com a aprovação da MP que alterou a Lei Complementar
79/94, esse ano o Depen vai repassar até 75% do Funpen; 10% desse total aos
municípios (para políticas de reintegração social) e 90% aos estados, além das
transferências voluntárias. O diretor-geral do Depen não soube precisar os
recursos que serão distribuídos até 31 de dezembro.
O Infopen está disponível no site do Ministério da Justiça