Estamos nas
proximidades do Natal mais uma vez. Todos os anos a mesma data se repete na
celebração do nascimento do menino Jesus. Desde o seu nascimento até os nossos
dias a sua proposta de vida fica como algo ainda a desejar: um mundo segundo o
desejo de Deus, conforme encontramos na criação quando Deus viu que tudo era
bom.
O que nós
celebramos não é aquilo que nós vivemos. Estamos aquém de um mundo segundo o
desejo de Deus.
As
divisões, as guerras, a violência, a fome, as doenças, o aborto, são realidades
que afligem a humanidade em todos os lugares do mundo. Mesmo assim continuamos
celebrando o Natal. Não conseguimos alcançar a grandeza do fato e transformá-lo
em vida na construção de um mundo novo.
A questão prisional
no mundo é símbolo da pratica de muitas injustiças cometidas e símbolo de morte
para tantos. Um pernambucano ficou preso injustamente por 19 anos. O fato foi
considerado pelo STF como o maior erro judicial da história do Brasil.
No Espirito
Santo, homem fica preso por dois anos, vítima de uma série de erros da polícia
e da justiça.
Pedreiro fica preso injustamente por 5 meses após
perder os documentos. Preso por engano. Preso por 30 anos nos Estados Unidos
acusado injustamente por estupro é libertado. Trabalhador, batedor de Açaí,
preso injustamente luta por liberdade.
Estas manchetes
e tantas outras são facilmente encontradas e revelam a grave situação de
injustiça pela qual passamos. Se 40 por cento da população brasileira detida é provisória,
é um grave sinal de injustiça. Temos um país que prende mas é incapaz de
administrar depois a situação.
Como entender
situações dessa natureza? Pessoas presas injustamente e esquecidas nas prisões.
Como podemos celebrar o Natal diante dessas situações? Como nos confraternizar?
Como os responsáveis por situações dessa natureza vão à missa e ao culto?
A nossa fé
precisa caminhar junto de nossas práticas e da nossa vida. Natal é festa da
vida. Não podemos ser a favor de uma cultura de morte, defendê-la e
alimentá-la.
Em recente
mensagem o papa Francisco falou sobre o Natal com as seguintes palavras:
“O Natal
é “festa de confiança e esperança”, é preciso “reconhecer no rosto de nosso
semelhante, sobretudo nos mais fracos e marginalizados, a imagem do filho de
Deus feito homem (...)No Natal, Deus se manifesta não como alguém que está no alto
e domina o universo, mas se agacha, abaixa até a Terra, humilde e pobre. Para
sermos iguais a ele não temos que nos colocar acima dos demais, mas nos
agachar, nos colocar a serviço, nos fazermos pequenos com os pequenos e pobres
com os pobres”.
De fato, a grande incoerência
da vida cristã é esta: que não somos capazes de perceber e reconhecer que no
outro, independentemente de sua situação está Jesus, o mesmo que nasceu, o
mesmo que morreu, o mesmo que o louvamos em nossos cultos.
É hipocrisia cristã,
dizer-se pessoa cristã e se tornar pessoa que defende a destruição do ser
humano, se colocando acima dele como diz o papa.
Por último, ainda
diz o papa: “É uma coisa feia quando se vê um cristão que não quer se agachar,
que não quer servir. Um cristão que se pavoneia é feio. Este não é cristão, é
pagão. O cristão serve e se agacha”.
Que este tempo de
Natal nos ajude a pensar que o mundo poderá ser melhor se cada pessoa abrir mãos
do seu egoísmo e se aproximar da outra pessoa como sua irmã. Natal é isso! Simplesmente
Deus quis se aproximar e se fazer um de nós. Basta que compreendamos e realizemos
isso para que o nosso Natal seja verdadeiro.
pebosco@yahoo.com.br