Normalmente as rebeliões em presídios não terminam quando se diz que ela acabou. As consequências seguem e precisam ser administradas por vários dias. Quase sempre tudo fica destruído e o estado arca com a responsabilidade da reconstrução que em alguns casos demora demais. As pessoas presas precisam ser removidas para outros lugares distantes da família. Para os familiares a rebelião é causa de muito sofrimento.
Vale para o estado o que a igreja sempre trabalhou: é necessário ler os sinais dos tempos. Isso significa que se deve ter a percepção com muita antecedência para se evitar o momento indesejado por todos.
A respeito do PB1, ao qual já fizemos referencia no texto próximo passado, a rebelião ainda hoje tem os seus desdobramentos. A destruição dos espaços, transferências sem espaços em outras unidades e uma morte no PB2, além de muitas tensões no “pós-rebelião”.
Quanto à morte do preso foi desnecessária na minha visão. Ele estava no PB2. Os presos de lá já tinham feito contato que queriam se entregar. Quando com o major Barros estávamos nos dirigindo para fazer os contatos, um grupo armado seguiu à nossa frente e começou a efetuar muitos disparos. Em seguida, os gritos dos detentos, desesperados, que havia um ferido. Prova de que ele foi ferido naquela ocasião. Ou não?
Houve uma interpretação de que havia uma arma no pavilhão e que o tiro poderia ter partido de lá. Em todo caso, o que ocasionou a morte do preso foram os disparos, desnecessários quando todos já haviam anunciado a saída dos pavilhões. Cabe ao estado não ser omisso e apurar o que aconteceu.
Outro detalhe é que o socorro foi muito demorado. A chave não apareceu como também o Samu e bombeiros ficaram colocando a questão da segurança. Finalmente os próprios presos retiram o corpo do companheiro ferido e o deixaram fora dos pavilhões para que se fizesse o socorro.
Também senti a parir do fato em questão, não se respeitou o papel daquele que fora escolhido para fazer a mediação do conflito. Com vários comandos na operação, uma vida foi ceifada. Tratava-se de um jovem que não era de alta periculosidade, segundo o seu advogado, e que foi vitima fatal naquela rebelião.
O GI.com paraíba noticia diz que o mesmo veio a falecer e segundo o hospital o teria levado mais de um tiro na cabeça.
Outra questão que envolve a rebelião do PB1 é a causa da mesma. Criou-se aqui a ideia de que nós nos equiparamos ao Rio e São Paulo com a criação das facções. É verdade que existem os grupos rivais, sempre existiram e existirão, mas não nos moldes que se tem colocado. Na minha modesta maneira de pensar vejo mais com marketing essa filosofia. Alias o próprio Allan Murilo, em entrevista apresentava este ponto de vista relativizando a ideia de facções.
Podemos ouvir no PB1 o mesmo relato, em momentos diferentes e por presos diferentes que confirmam a nós outra causa totalmente diferente para a rebelião, além da pauta de reinvindicações recebidas por nós e já postada em nosso relatório.
O fato é que o sistema penitenciário nunca viveu no Brasil todo tão superlotado como atualmente. Somos um país atrasado no tratamento com pessoas detidas e que passaremos para a história da humanidade como um país desumano, exatamente pelo descaso e indiferença de nossos governantes no âmbito nacional como no âmbito de nossos estados. O compromisso com os pactos internacionais e com os direitos humanos não passa de mera conveniência.